CALVÁRIO 

Gostava que a carvalha falasse dos tempos idos, pois muito teria para nos dizer.

Ela deixou que um pássaro lhe escavasse um orifício no tronco.

Todos os anos ali vem fazer ninho. Já lhe conhecemos os hábitos.

Outro dia, a Fátima, na varanda do pavilhão, olha atenta e diz-me:

— Eles são com'a gente. Metem o comer na boca dos filhos.

Carvalha secular, in O Calvário, pp 194-195. Padre Baptista

[Páginas escolhidas e documentário fotográfico. Editorial Casa do Gaiato]


No próximo dia 16 de Julho, aniversário da morte do Pai Américo e memória da dedicação a Nossa Senhora do Carmo da capela-espigueiro do Calvário, vamos celebrar a eucaristia às 10:00h. Como fazemos habitualmente ao domingo.

Daremos graças pela vida do Bem-aventurado pai dos pobres e graças pela dedicação do Padre Baptista pelas seis décadas à frente do Calvário.

No final da manhã e durante a tarde teremos as portas abertas para quem quiser visitar as obras de reabilitação, que se têm levado a cabo nos últimos quatro anos.

Estamos a terminar este processo. Falta concluir o diálogo com as entidades competentes (Câmara Municipal, Instituto da Segurança Social, Delegação de Saúde e Autoridades de Segurança) e assim podermos usar as novas instalações, bem como começar a receber os doentes que foram para outras instituições de acolhimento enquanto decorriam as obras.

Trata-se de uma espécie de regresso do exílio à terra prometida. É sempre bom voltar ao lugar que nos acolheu, relembrar as memórias, os cheiros, os sons, as pessoas ainda presentes e os ausentes. É bom deixar as feridas cicatrizarem e saber conviver, em paz, com essas marcas. Que não podemos apagar de todo!

É com expectativa que esse dia chega nestes últimos tempos até nós. Pela fidelidade ao passado, pelo imperativo do presente e sobretudo pela esperança no futuro. Para que o Calvário seja Calvário, sinal de uma Igreja pobre e acolhedora dos mais desvalidos, é preciso esse espírito de abnegação e dedicação, que muitas vezes nos faz pensar como loucos e viver como exilados, em tensão para regressar aqui.

Venham, pois, visitar o Calvário nesse domingo de verdadeira ressurreição e venham todos os dias para serem uma presença humanizadora junto dos doentes, que sendo ricos, à semelhança de Jesus, se fizeram pobres para nos enriquecer!

Padre José Alfredo