CALVÁRIO
Zaqueu
A árvore foi a forma de te ver
Entre os ramos
Fizeste-me passagem
Da folha ao voo do pássaro
Do sol à doçura do fruto.
Para me encontrares me deste
A pequenez.
Daniel
Faria
No Verão fomos visitar o senhor Padre Baptista ao Cabril. Um amigo emprestou-nos uma carrinha de nove lugares. Outra pessoa amiga ofereceu o farnel. Fomos com os rapazes, mais a Fatinha da rouparia e a Tininha, que diz que o Padre Baptista não pode morrer, porque ela precisa dele.
O Calvário é um lugar de acolhimento, quer nas visitas que fazemos, quer nas visitas que acolhemos. E são tantas.
Um bolo que nos chega pela mão de alguém, roupa que nos trazem ou pedem para recolher fora, um técnico que vem para as obras ou para a manutenção de algum equipamento da casa, vizinhos que chegam para a missa, amigos que nos cederam um órgão para a capela, outros que vêm para actividades lúdicas com os doentes às quintas-feiras ou aos sábados, e também os voluntários dedicados. Outra gente que procura uma esmola ou oportunidade de trabalho ou acolhimento quando as obras terminarem. Também são tantos.
Recentemente têm-nos pedido acolhimento na capela do espigueiro para a celebração de momentos especiais na vida das famílias: um baptismo, uma acção de graças por um aniversário centenário, as bodas de prata de um casal, um trintário gregoriano...
Podíamos nomear todos os que recebemos, mas isso faria perder o sentido de quem vem e procura aqui esse acolhimento anónimo que Jesus instituiu justamente na hora de morrer: Eis a tua mãe!
O Calvário gera discípulos para quem tem a ousadia de aprender a conviver com a história pessoal e a história colectiva. É um parto difícil tornar-se discípulo. Implica nascer de novo, morrer para o que é antigo na vida e ressuscitar sempre. Implica uma graça especial. Não uma graça barata, como denunciava Bonhoeffer durante o império nazi.
Padre José Alfredo