CALVÁRIO
O nosso Calvário
Na continuação dos textos anteriormente publicados, serve o presente para circunstanciar todo o labor que nos conduziu à boa notícia que os nossos doentes, rapazes e amigos ansiosamente esperavam: as obras no Calvário iniciaram!...
No entanto, mais que as condições materiais e físicas das construções, que já na época foram inovadoras, de edificação robusta e com uma inserção impressionante no meio envolvente, não podemos descurar a "(re)construção" das relações várias. Esta verdadeira matéria vital é indispensável para que o esforço de responder cabalmente às múltiplas exigências hodiernas aconteça, e posteriormente culmine na integração plena com as exigências legais para este sector social.
Quem conhece o Calvário e a Casa do Gaiato de Beire, com as várias "casas", sabe do imenso esforço e abnegado trabalho realizado pelo Pe. Baptista, que deixou tão belo legado.
No momento da "oferta" escriturada notarialmente da Quinta da Torre de Beire, em resposta ao pedido realizado pelo Venerável Padre Américo, existiam apenas algumas construções em estado de ruínas. Todas as novas edificações e as reconstruídas nunca foram convenientemente descritas nas matrizes prediais, bem como não estavam declaradas na Conservatória do Registo Predial.
Perante a necessidade processual para a legalização e posteriores licenciamentos camarários teve de se proceder a um levantamento exaustivo de áreas, e descrição específica de cada elemento do edificado.
Conforme o necessário e para diferenciar os espaços de intervenção teve de se apresentar novos modelos de IMI na Repartição de Finanças de Paredes, cujo director e demais funcionários com total disponibilidade tornaram possível, com a maior brevidade, ter os documentos preparados para se fazer o registo predial. Também não podemos esquecer a contribuição fabulosa da Conservadora do Registo Predial de Bragança que agilizou todo o processo. De facto, entre o início e a conclusão do processo decorreram menos de cinco meses.
Aquando da reunião de 9 de Janeiro 2019 com o "Grupo de trabalho" também se estabeleceram as linhas de actuação para se proceder à legalização de funcionamento do Calvário e Casa do Gaiato de Beire. No âmbito das respostas sociais actuais, ficou definido que se implementaria uma ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) e um Lar Residencial (para Pessoas com Deficiência), que corresponderiam à tipologia da instituição que, nos últimos tempos, acolhia os nossos "doentes" e "rapazes".
Colocadas as propostas à consideração dos Padres da Obra da Rua, em reunião de 21 de Janeiro 2019, ficou aprovado avançar com a remodelação e/ou construção das edificações necessárias para a implementação da ERPI e do Lar Residencial.
Foi neste âmbito que se contratou o gabinete de Arquitectura, que desenvolveu os projectos consonantes com as exigentes normas para este tipo de edifícios, por parte das várias entidades: Segurança Social, Centro de Saúde, Autoridade Nacional de Protecção Civil e os Serviços de Urbanismo da Câmara Municipal de Paredes.
Logo que o projecto de arquitectura e as várias especialidades foram entregues nos serviços de urbanismo da Câmara Municipal de Paredes, mereceram da parte dos responsáveis uma especial atenção, de forma que, em Março de 2020, tínhamos em nossa posse o alvará para a execução das obras.
Para podermos agilizar o processo, ao mesmo tempo que decorria a análise do mesmo nos serviços técnicos da Câmara, solicitamos vários orçamentos, tendo resposta de quatro empresas.
Pelas características técnicas da intervenção e do valor da mesma, houve um criterioso processo de selecção até à decisão final sobre a empresa seleccionada.
Era do nosso intuito iniciar as obras na última semana de Março, mas por razões de segurança, devido ao nefasto surto da pandemia COVID-19, teve de se prolongar este prazo, dando início às mesmas no passado dia 4 de Maio, e com reforçadas medidas de protecção para evitar qualquer propagação aos nossos doentes e rapazes.
Logo de seguida, houve uma reunião em que estiveram presentes o representante da empresa Engivallis, o coordenador e o responsável da obra, conjuntamente com o projectista do gabinete de arquitectura "SECCA", a fiscalização da obra, que será realizada por uma amiga do Calvário e que desenvolverá o seu trabalho "pro bono". Aproveitamos, desde já, para manifestar a todos o nosso agradecimento pelo seu empenho. O Calvário esteve representado por dois padres da Casa e pela futura Directora Técnica.
Nesta reunião definiram-se critérios para a execução da empreitada, a abertura do estaleiro, o Plano de Segurança em Obra, etc.
Por fim, foi por mim reiterado a todos os presentes que "olhassem" com muito carinho e dedicação para este empreendimento, que além da sua característica social, tinha uma história plena de "estórias" de vida aí vividas, que marcaram muitas pessoas que trabalharam, que viveram e que ainda a têm como sua querida casa de família.
Os próximos textos ajudarão a acompanhar os trabalhos realizados, sabendo que esta interacção tocará os vossos corações. Tal como em idos tempos foi com a abnegada ajuda de muitos que surgiram tão belos espaços, assim hoje, continuaremos a contar com a generosidade dos nossos amigos, porque continuamos a acreditar nas palavras do nosso Pai Américo: "A pobreza é a única fonte que alimenta as Obras de Deus...elas são sempre moças, fecundas, queridas das almas, abençoadas por Deus." (In Doutrina. Vol. I, 2ª ed. aumentada, 189).
Padre Fernando Fontoura