CALVÁRIO
Faz uma semana que chegou o Padre Fernando da Casa do Gaiato de Malanje com o objectivo de renovar o seu visto para regressar a Angola e precisar qual empresa vai realizar as obras do Calvário. Durante este tempo vamos realizando, internamente, todas as mudanças a nível organizativo e estrutural para que a nossa Obra de Doentes continue a ser uma resposta actual sem perder a sua essência.
O Calvário converteu-se num desafio para a Obra da Rua... pois, se em outro tempo a decisão mais cómoda teria sido fechá-lo ou entregá-lo... agora está renascendo a esperança de que o Calvário nos abra as portas a um novo modo de actualizar a Obra nos tempos em que vivemos.
O Padre Américo não pretendeu terminar com a pobreza nem muito idealizar o seu modo de atender o Pobre. A Igreja vê em Padre Américo, entre outras coisas, um instrumento de Deus através do qual nos recorda uma vez mais quem são os pobres da rua e a nossa resposta. O Pobre não é um objecto, é protagonista da sua história.
Infelizmente todos corremos o perigo de espartilhar o Espírito e Sua acção através da vida e dos acontecimentos. Esse perigo o corremos também com Padre Américo quando queremos enquadrá-lo dentro de um esquema ou destacar alguns aspectos que nos interessam. Quando realmente todos sabemos que o Padre Américo era o primeiro a falar em intuição... essa sensibilidade que têm os crentes dispostos a vislumbrar a vontade de Deus em cada tempo.
O Calvário não está a ser recriado para se converter num ícone de trabalho com doentes incuráveis ou um objecto de confrontos. O Calvário coloca a família como fundamento para a qualidade dos cuidados aos doentes: lar saudável onde os doentes se sintam amados, onde recebam os melhores cuidados que esta família lhes possa dar, onde eles contam e se lhes dá a oportunidade de contribuírem com seu grãozinho de areia, onde se respire em cada recanto aquele ditado: «Uma Obra de pobres, para pobres, pelos pobres». Tudo o que está fora deste ditado, está a mais.
A insistência do Papa Francisco não é algo pessoal, nasce do Espírito Santo. Suas mensagens de «Uma Igreja misericordiosa, acolhedora, extrovertida, dialogante, pobre, respeitosa...» É para todos, com a ressalva de que é necessário concretizá-la na realidade com pessoas, organizativa e institucionalmente. O Papa está a concretizá-lo no Vaticano, nós estamos convidados a fazê-lo na Obra da Rua, em cada uma das suas Casas.
Padre Rafael