BENGUELA - VINDE VER!

Formação e Solidariedade

Foram seleccionados vinte rapazes maiores de 17 anos, subdivididos em dois grupos de 10 membros, para participarem de uma formação no âmbito da agropecuária. O formador é um Engenheiro com competências na área e voluntariou-se em colaborar connosco para capacitar os nossos jovens que há muito sonhavam em participar no ramo da agricultura com conhecimento de causa sobre o manejo agropecuário. Os rapazes estão animados e querem seguir alinhando as teorias à prática exposta diariamente e a todo o momento nos nossos campos agrícolas e nas instalações pecuárias. O «Filipe» já sabe vacinar o gado, tem feito um trabalho notável de grande valor e responsabilidade na nossa casa desde a sua passagem ao cargo de chefe maioral. Esta última tarefa entregue agora ao «Ngongo». O novo maioral anda a tirar o curso médio de saúde e encontra-se na fase final, em que é necessário a realização do estágio. Neste momento com o apoio dos outros chefes para suprir a sua ausência face às suas responsabilidades de Casa. É assim mesmo. Os rapazes encontram-se em formação para alcançarem a sua autonomia e poderem realizar-se profissionalmente na vida social activa. A agricultura é um campo novo a ser explorado com a força mais intensiva dos rapazes, pois esta tarefa era desempenhada pelos operários eventuais e efectivos da Casa. Neste momento toda a actividade da pecuária já está sobre a responsabilidade dos rapazes. E no campo acredito que com introdução deste grupo e com a mecanização em curso desde a chegada do pivô, estaremos a viver os primeiros dias de uma nova era agropecuária na nossa Casa. Não basta boa vontade e força de trabalho é preciso alinhar tudo isto aos conhecimentos que conduzem às novas práticas agrícolas e factor mecanização. E é este o desafio que assumimos diante da crise alimentar que Angola atravessa. Não há alimentos para todos. É preciso muito dinheiro para comprar um pãozinho ou um quilo de farinha de milho. O dinheiro está concentrado nas mãos dos grandes. Os grandes são poucos e não lhes falta nada. Os pequenos são a maioria e falta-lhes tudo. No portão da entrada da Aldeia está quase sempre cheia de pessoas idosas e crianças que vem pedir alguma coisa para saciar a fome. Outro dia convidei o grupo de pedintes a subirem para o carro para os levar a sede da administração municipal para serem atendidos por quem tem obrigação de administrar os bens da Nação, e notei que neste dia os pobres se retiraram em silêncio, um a seguir ao outro e foram-se embora desesperados. Porque será este comportamento? Fiquei a pensar… é o medo mais a fome que acabou de roubar a sede de justiça de milhares de famintos em várias regiões do País e outras localidades do globo onde se regista vergonhosamente o regresso da fome mais a cólera é igual à miséria antropocêntrica. Os pobres têm medo de pedir aos grandes, só pedem aos pobres da mesma condição que têm alguma coisa para os dar.

Aprendi que os pobres compreendem os outros pobres, e por isso não os podemos mandar ir ter com os poderosos. Primeiro porque não os compreendem a razão da sua penúria e segundo porque o sentido da generosidade ainda não nasceu nos seus corações. Não deixemos de rezar nesta quaresma pela conversão dos pecadores. A fome e a cólera são frutos colhidos da sementeira de pecado.

Vamos trabalhar juntos na construção de um Mundo novo. De homens e mulheres novos. De governantes e governados novos. De professores e alunos novos.

As novas gerações necessitam de orientação e formação sólida como o ar para respirar, para se poder conduzir com prudência face aos desafios surpreendentes dos ventos ruidosos dos tempos que hão-de vir, para evitar a derrocada à semelhança da casa construída sobre a areia. A conclusão é de Pai Américo, «A todos os sistemas de educação, a todos os processos infantis que a ciência recomenda, preferimos inculcar no ânimo destes mais pequenos o hábito do trabalho, sem, contudo, menosprezar tudo quanto vem nos livros».

Padre Quim