
BENGUELA - VINDE VER!
Ganhar asas e ajudar a voar
A família é a Instituição social dotada de condições adequadas para o desenvolvimento integral dos seus membros. A Casa do Gaiato é a família dos filhos sem família ou tendo não reúnem as condições dignas para garantir o processo normal de crescimento e maturidade nos mais variados âmbitos e estágios da vida. Na família nascem os filhos, crescem e se desenvolvem até atingirem o estado de amadurecimento que garantem a autonomia e a afirmação pessoal quanto a uma participação mais activa e contributiva a nível social. Este acontecimento ocorre quando o rapaz dá entrada na Casa do Gaiato. A partir daquele momento dá-se o novo nascimento como filho da Casa. "Nasceu para o Gaiato". E grande é a sua sorte e felicidade. O rapaz no seio da nossa família é feliz, e quer construir um mundo à sua volta onde todos possam sentir-se amados. E quando chegam as fases mais turbulentas, na passagem da infância para a adolescência e desta para a juventude, atravessam o desconforto e exigente necessidade de rápida adaptação às novas fases do seu desenvolvimento físico e psicológico. Cá em Casa, aliada a tarefa de estudar, temos o trabalho saudável e amigo do bem-estar em todos os sentidos. Cada um dos rapazes conforme as suas competências é-lhe atribuída uma tarefa para ser executada em benefício de toda a comunidade. Quando é bem feita, todos ganhamos, quando acontece o contrário, todos sofremos. Daí a justificação da nossa divisa "obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes". Os mais pequeninos têm tarefas próprias para o desenvolvimento de competências que se enquadram nas suas idades. Seguem-se os adolescentes que já realizam tarefas com algum grau de exigência. Por fim, os maiores — jovens que frequentam as oficinas e tomam parte nas responsabilidades da vida da Casa. Muitos dos quais até chegam a ser eleitos pela comunidade como líderes, ou chefes, que são na prática irmãos mais velhos que dentro da família têm de compartilhar com os pais a missão de ajudar e orientar os mais pequeninos. Garantindo a estabilidade e o bom funcionamento da comunidade. Quem trabalha faz bem a si mesmo e aos demais, sem medir os ganhos que alcança em termos de saúde física e mental-emocional.
Nestes meses têm aparecido algumas oportunidades de trabalho nas empresas para os nossos rapazes que já concluíram o ensino médio ou frequentam a universidade e que tenham aprendido alguma profissão. Estes jovens que prestaram também durante algum tempo a sua colaboração na Casa seguem agora para a sua vida autónoma levando na bagagem de viagem o melhor tesouro que um pai pode dar aos seus filhos: "o amor ao trabalho", para que através dele possa suprir as suas variadíssimas necessidades de sobrevivência fora da Casa do Gaiato e de auto-realização pessoal no quadro do cenário da integração social. Todos têm esse direito. O rapaz só sai da nossa Casa depois de ter feito a sua preparação para a vida activa. Com os estudos feitos até ao médio para todos e até à universidade para os que se apresentam e dão provas de ter capacidade mental para prosseguir os estudos superiores.
Nestes dias deixou-nos o rapaz que era o chefe das oficinas. Fez um bom trabalho. Agora vai fazer também uma boa figura junto da Carrinho Indústria, a empresa que o contratou, a ele e ao nosso rapaz antigo jardineiro.
E quem fará o trabalho deles? — Diziam preocupados alguns rapazes. Outro fará o trabalho que anteriormente foi bem desempenhado por estes irmãos. Quando chega a hora de voar os filhos abandonam o ninho da Casa Paterna e caminham seguros da formação que receberam dentro do seio da nossa família. Nós não criamos os rapazes para os prender cá, pelo contrário, quem dera tivéssemos mais abertura de portas de empresas que queiram receber os nossos rapazes. Enquanto não chegam mais oportunidades de empregabilidade continuamos a cumprir a nossa missão: fazer de cada rapaz um homem de bem, útil a si mesmo e à sociedade, um bom cristão, um bom cidadão comprometido com a construção da paz e da justiça. A conclusão é de Pai Américo «Dá-me uma vaga na tua copa, a um destes pequeninos, irmão dos teus filhos; procura nele traços do Nazareno que tanto melhor os encontras quanto mais desgraçado ele for. Tens a página às tuas ordens; escreve nela o verbo amar — hoje».
Padre Quim