BENGUELA - VINDE VER!

Abertura do ano escolar

Os nossos rapazes mais os professores participaram da Missa de abertura do ano académico. A cerimónia aconteceu no pátio da nossa Escola e foi animada pelo coro habitual das crianças nas celebrações dominicais. O «Bebo» é o organista da Casa, aprendeu a tocar com o «Mano Pedro», este último agora já reformado. O «Ngongo» que é o actual chefe maioral toca a viola e toda a comunidade canta a bom som. O encanto das vozes dos nossos «Batatinhas» liderados pelo «Manuel Tchimbasi» é a "cereja no topo do bolo". No final do acto litúrgico, foram apresentadas outras componentes de formação que a nossa Casa oferece à comunidade académica externa. A nossa escola é missionária e faz parte do conjunto das escolas católicas que obedecem a um formato próprio de funcionamento, agregando a componente da educação religiosa no currículo escolar, onde constam outras disciplinas conforme a orientação das políticas educativas vigentes no País. Houve um crescimento rápido da população e uma lentidão na forma de acompanhamento de serviços, como educação e saúde, nas zonas vizinhas da nossa Casa. Isto faz com que os pais e encarregados de educação batam à porta da nossa escola para matricular as suas crianças. Neste ano lectivo, segundo a consulta feita ao responsável pela estatística da escola estão matriculados 2.200 alunos, vindos de várias localidades de Benguela e arredores. Para o ensino médio técnico profissional dos nossos rapazes foram matriculados nos institutos da cidade para frequentar o 10º ano nove (9) dos que terminaram em Casa a nona classe. Mais uma vez contamos com o apoio da empresa (Oliveira & Ligeiro) que nos forneceu grande parte do material escolar para os nossos meninos. O «Jujú» é o bibliotecário de Casa e deu conta da necessidade de 1800 cadernos, 500 lápis e lapiseiras, borrachas, material diverso para as aulas de desenho. Os uniformes estão a ser confecionados pelos costureiros da nossa sala de corte e costura. Caminhamos a passos largos para trazer respostas as várias preocupações que nos afligem. Para tal efeito desde cedo começamos a fazer o processo de orientação vocacional (OV). Existe um espaço de escuta sobre as expectativas, sonhos e anseios de cada um dos rapazes. Num segundo momento o rapaz é convidado e motivado para escrever a sua história de vida e área de sua preferência e onde se sente mais potencializado para a sua realização pessoal. Num terceiro momento fazemos o cruzamento entre as informações – autoconhecimento – e as características das áreas profissionais existentes no contexto de Benguela e subsidiámos todas as informações concernentes à operacionaliza-

ção da construção de um (PPV) projecto pessoal de vida. Deste modo tornamos o rapaz partícipe, protagonista e não mero espectador dos factos que acontecem ou deixam de acontecer na sua vida. Tem dado muito trabalho a orientação dos adolescentes e jovens da nossa Casa. Desde os que estão mais dispostos a construir um projecto sério e de futuro até aos que não sabem o que querem ser e não têm vontade de fazer nada de jeito, que venham a agregar competências para o autogoverno e participação mais activa a nível social por via do trabalho.

Temos alguns rapazes já empregados, e nestes primeiros seis meses ficam connosco em Casa até adquirirem alguma capacidade financeira e estabilidade emocional para poderem deixar a Casa e o seu lugar ser dado a outra criança para ser também ajudada a fazer-se um homem. Ninguém vai embora aos dezoito anos. A cana ainda está muito verde nesta idade. Se for, perder-se-á nos grandes centros da delinquência na cidade. Não quero receber a triste noticia; aquele teu rapaz deu entrada na prisão. Não senhores. Seria deitar por terra todo trabalho feito desde a sua infância. Seria o mesmo que construir uma casa e não terminar de pôr o telhado. Há hoje muitas casas sem telhados. Que pena! Casinhas abandonadas. Não falo de arquitectura dos edifícios, falo dos arquitectos dos edifícios humanos que foram pressionados por leis que nos obrigam a deixar os edifícios humanos como casas sem tectos seguros para se defenderem das intempéries resultantes dos contratos sociais elaborados em gabinetes, tão longe da realidade em que vivem as crianças, adolescentes e jovens em condições de extrema pobreza e marginalização.

A conclusão é de Pai Américo: «Não somos asilo, nem reformatório, nem colónia penal; Não há nem nunca houve fardas ou uniformes; 'A família é o modelo da Obra'».

Padre Quim