
BENGUELA - VINDE VER!
Veio a chuva
Quando já estávamos convencidos de que não haveria de chover neste ano, eis que as "torneiras" foram abertas, e choveu até de mais em dias consecutivos. A erva do campo nasceu das sementes que por lá estavam esquecidas e enterradas pela secura da terra batida. E agora verde e em flores sorriem para a luz do sol. A mãe natureza fica bonita quando sabe alternar, ora sol ora chuva, é nesta hora que se faz a beleza do arco-íris no firmamento. Houve quedas de árvores, as espinheiras, como sempre, foram as vítimas da velocidade furiosa dos ventos e da corrente temível das enxurradas. Foi um verdadeiro teste para as obras que terminaram recentemente. O nosso muro resistiu. O curral dos cabritos ficou inundado e o «Chiquinho» teve de calçar as botas para chegar lá e dar a palha de milho. As vacas e os cavalos saltam de contentes entre lamaçal e as poças de água. O «Venâncio» viu-se em grande aflição para poder tirar o tractor do campo onde tinha ficado preso no lodo. Só ao cabo de dois dias com a ajuda dos outros tractores e de mais homens é que se conseguiu trazê-lo para a garagem, matractor s já avariado da embraiagem. O técnico já foi consultado e está já a preparar viagem de Luanda para Benguela. O tractor ainda está no prazo de garantia dada pelo fornecedor. Esperamos que fique bom para preparar os terrenos para as sementeiras no tempo do cacimbo. O milho tem-nos servido de grande utilidade neste tempo de fome provocado pela subida escandalosa dos preços dos alimentos no mercado. Até a cesta básica não tem escapado da brutalidade e da pancadaria das especulações daqueles bolsos muito profundos das calças de algumas pessoas insaciáveis do ponto de vista da acumulação de riquezas...
A chuva é obra da natureza. Nada há a fazer quando cai copiosamente. A ela está reservada a especial tarefa de fazer sorrir a natureza e de a revestir com trajas novos. Elegantes. Nem o rei Salomão em todo tempo da sua prosperidade se vestiu tão lindamente. Também é verdade que as chuvas trouxeram algumas surpresas que vão exigir despesas altas. Dois motores eléctricos ficaram avariados por descuido do operador que não os deixou secar pelo facto de terem estado inundados. O motor número cinco já lá está há mais de três meses o técnico diz não haver material assessório para o compor. Assim é a vida num País onde tudo falta!, e só tomamos consciência disto quando temos necessidade de aquisição de algum bem ou serviço. E quando aparece o que procuras, na mesma ele foge da gente porque o bolso do cliente não suporta os preços. O dinheiro é fugaz. Pode ser comparado a um criminoso em fuga. Um fugitivo da justiça. Ele nunca se deixa aprisionar. Foge das mãos. Foge dos bolsos. Desaparece da carteira e vai de mão em mão até desaparecer. Engana-se redondamente o homem que coloca a sua esperança em acumular dinheiro. Ele sempre foge. É mais feliz quem partilha com os seus irmãos o que é propriedade sua. As primeiras comunidades apresentam a harmonia possível de ser implementada também hoje nas nossas comunidades. É prudente aprender o que existe de bom no modo de vida dos outros para que possamos também deixar para as gerações vindouras um legado memorável da construção de uma sociedade mais fraterna.
A conclusão é de Pai Américo «Tenho aprendido coisas que dantes ignorava. A nossa Obra é escola mais dos que pretendem ensinar do que verdadeiramente dos que estão para ser ensinados. Se o rapaz tem tanto amor àquele eu, que o não dá, nem troca, nem quer que ele se misture ou confunda, que vamos nós fazer? Orientar. [...] Ora nós aqui em Casa pretendemos que aquele que diz 'sou eu', seja na verdade ele. Ele totalmente, sim, mas humilde. Humildade.»
Padre Quim