BENGUELA - VINDE VER!

Direito à escolaridade

Em nossa Casa todos os rapazes em idade escolar frequentam a escola no período inverso ao do seu trabalho manual e prático. Desde o momento em que é acolhido são averiguados os eventuais documentos que possa ter consigo. Grande parte deles vem sem qualquer registo. Não era de esperar outra constatação. Quem sem tecto, sem amparo, pode ter consigo algum documento importante? Quando uma pessoa se encontra abandonada pelos caminhos errantes da vida perde os seus haveres, a sua dignidade por fim também se perde no anonimato. A Casa do Gaiato dá ao rapaz um nome, um lugar ao sol, tranquilidade, segurança e conforto para poder projectar o seu futuro e promover as suas potencialidades em termos de valorização do capital humano.

Os resultados das provas do primeiro trimestre deste ano lectivo que considero bastante intermitente devido à pandemia que assola a sociedade, começaram a ser registados no mapa onde constam os nomes, os cursos, as turmas, os períodos em que os nossos rapazes frequentam. A fase seguinte será de avaliação do aproveitamento que cada um teve tendo em conta os resultados das provas apresentados. Os nossos rapazes estudam até onde as suas capacidades corresponderem em termos de exigências em cada nível escolar que chegam a frequentar. Graças a Deus e às pessoas de boa vontade! Sozinhos não teríamos capacidade de custear as mensalidades sobretudo dos estudantes universitários.

Ao falar que o rapaz tem o direito à escolaridade não se pode deixar de dizer que também tem deveres - obrigações - responsabilidades e cada vez mais acrescidas na proporção da elevação do seu nível, idade e consciência. Neste sentido delineamos as responsabilidades de cada um. Um só não pode fazer tudo. Cada qual deve fazer alguma coisa por si e pelos outros. E na tarefa de estudar ninguém pode substituir o outro. O outro pode ajudar, mas fazer em substituição do próprio, nunca. Esperamos ter boa colheita no campo escolar para animar todo o esforço de procurar possibilidades de encaminhar outros rapazes para novos desafios escolares.

Nos casos em que não é possível dar sequência aos estudos por razões que o sustentam, o rapaz aprende a trabalhar nos mais variados ofícios para que possa no futuro responder com confiança ao senhor a quem ele for apresentado para trabalhar e ganhar o seu pão com dignidade, a seguinte pergunta: O que sabes fazer?... deixo este espaço para que o próprio rapaz venha com segurança a dar a resposta certa para o seu enquadramento no mercado de trabalho. Fico confiante também se assim vier a acontecer. A esperança é o alimento suculento para aqueles que desejam recomeçar a caminhada em vista a alcançar um prémio que se afigura no horizonte da sua vida. A conclusão é de Pai Américo: «Eu quero que o gaiato a meu cuidado se habitue a esta coisa simples e grandiosa - fazer a sua obrigação; e que, desde pequenino, comece a obrigar-se a ela. Custa muito à criança, sim, obrigar-se a pequenas tarefas; educar é justamente contrariar, modificar a vontade do educando.»

Padre Quim