BENGUELA - VINDE VER!

Obras em curso

«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.» Esta frase de Fernando Pessoa é um Instrumento motivador para quem aprecia pôr mãos à obra e deixar-se conduzir pela providência até à sua consumação. Se não houvesse possibilidade de sonhar não nasceriam as grandes obras de carácter solidário e caritativo, nem as de outro género e identidade social. Sonhar é projectar um amanhã diferente e melhor para todos. Quem sonha adia o impossível! No coração de Pai Américo fez-se o querer de Deus e no sonho de homem de Deus - a Obra da Rua nasceu para ser uma obra cujos proprietários legítimos são os pobres, aqueles que Deus ama e ampara através da Mãe Igreja com amor de predilecção.

Pai Américo sonhou e Deus realizou o seu sonho contando com o seu sacrifício, sua dedicação, sua boa vontade em ajudar os pobres a encontrarem-se com o amor de Deus no seu doloroso caminho. O garoto com fome, doente do corpo e da alma, abandonado, rejeitado pela sociedade, sem nada nem ninguém para o assistir, amparar, educar, promover e integrar na esfera social.

A Obra da Rua é uma resposta ao clamor dos mais desfavorecidos da sociedade. É o amparo do pobre abandonado. É uma Obra em curso na vida de cada um dos rapazes que se encontram sob a sua tutela. Digo em curso porque todos os dias, em todos os tempos e gerações a Obra da Rua, constrói com o querer e boa vontade do rapaz os mais altos e nobres princípios humanos e cristãos contidos no projecto educativo de Pai Américo. O rapaz é a obra preciosa que estamos todos os dias a edificar com a ajuda de Deus e dos homens de boa vontade. Homens e mulheres de perto e de longe. É pelo rapaz que edificamos e melhoramos os edifícios das nossas aldeias, é pelo rapaz que se bate às portas das escolas para que possam preparar-se intelectualmente para o futuro. É pelo rapaz que se bate às portas das empresas para pedir emprego para os mais crescidos. O rapaz é o centro da nossa atenção permanente. Passam os dias, as semanas, os anos. Vemo-los crescer, ganhar asas e ganhar voos altos em alguns casos. Nas universidades disseram-me que sim - estão quatro dos novos a frequentar cursos à sua escolha. Noutra empresa disseram também sim e já entraram dois, outros aguardam a chamada do patrão. O «Raimundo» foi para as vendas da coca-cola a cargo de um estabelecimento na cidade. Andou por lá contente da vida. Outro dia apareceu triste quando viu o seu salário. Disse que era pouco e que queria abandonar o posto de venda. Quer ganhar mais. Quer sorrir com mais moedas nas mãos. Também temos junto ao esforço e sacrifício, a arrepiante decisão do rapaz - quero deixar este trabalho porque o salário é inferior às suas expectativas. Ainda não aconteceu, mas se vier a acontecer desta vez será o próprio rapaz a procurar o seu emprego.

Nas obras de carácter físico, estamos todos muito contentes com a segurança, paz e tranquilidade que o nosso muro veio dar à Aldeia são ao total três quilómetros em volta de toda a propriedade correspondente a cinquenta hectares de terra. Com esta segurança aumentamos a capacidade de produção agrícola e diversidade na criação de animais. Ainda falta a reabilitação da casa dois de baixo, a casa onde morava a professora, e a nova vacaria.

Tudo isso é possível com a ajuda de Deus e dos homens e mulheres que reconhecem na Obra da Rua um valor grande na edificação do homem. Continuamos a viver da divina providência e da generosidade das pessoas.

A conclusão é de Pai Américo, «Cada casinha é um lar. O chefe, que é o pai de família, sairá da Casa do Gaiato para a constituir. Em cima, habita-se; em baixo, oficinas; fora, horta e jardim. Vida independente; escola e capela comum. Domingos, confraternização. Ai que coisa tão disparatada! Dirão os mestres de pedagogia. É que não amam. Se tiveres mil pedagogos nenhum é pai como eu sou, dizia o Apóstolo aos do seu tempo. Se não és pai, não és mestre».

Padre Quim