BENGUELA - VINDE VER!
«Ele é que me há-de dizer tudo»
Nas Casas do Gaiato os padres da Rua vivem em plena
doação, uma verdadeira oferenda aos pobres, qual sacrifício de oblação, subindo
às alturas no final de cada dia, de cada semana, de cada ano, de cada década,
como suave perfume, na presença do Deus Altíssimo, espalhando a sua fragância
na vida de cada um dos filhos a ele confiados. No seu dia-a-dia toda a sua vida
é dom. O seu pensar e agir, são uma expressão clara e real da imitação a
Cristo, pobre, manso e humilde de coração, que convida todos a virem até Ele
para aliviar as dores e o peso do desânimo.
O rapaz é o centro da actividade pastoral do padre. As suas alegrias, preocupações, tendências, sonhos, desilusões e incompreensões encontram-se aqui ancoradas neste ideal - fazer de cada rapaz um homem. O padre é o seu verdadeiro amigo das horas altas e baixas, na hora da tempestade e na hora da bonança, nas horas das grandes decisões, na hora em que a graça de Deus desce quando administra os sacramentos. E se assim for ainda da vontade do nosso bom Deus, até na hora da partida e do último adeus - ele, o padre, lá está e estará para ajudar a alimentar a chama da esperança, da fé e da caridade mais autêntica, que não deverá permitir que a sua luz se apague, faça chuva ou brilhe o sol.
O Vinde Ver! - desta edição, começou com a expressão de mais alta confiança que Pai Américo depositava nos rapazes daquele tempo. «Ele é que me há-de dizer tudo». E certamente que a confiança é o grande ingrediente para uma boa educação. O rapaz inserido no ambiente da nossa vida é logo confrontado com várias possibilidades para poder agir diante dos estímulos. Oportunidades para poder optar: no seu coração puro e inocentado ele sabe que deve fazer sempre o bem e evitar o mal. Mas como diz São Paulo: muitas vezes acaba por fazer o mal que não quer e deixa de fazer o bem que gostaria tanto de fazer. O rapaz é um artista. É naturalmente chamado a fazer muitas actividades. Fazer para ser! Mas fazer o bem para ser bom deve ser sempre um ideal vivo, uma chama bem acesa!
Nós temos os fazedores de arte do bem fazer, mas também temos os grandes fazedores de opinião pública a respeito da arte forjada pelos companheiros. Aconteceu que estando a observar o chefe a fazer a distribuição da merenda, também conhecida pela malta com o nome de lanche, vieram os mais pequeninos da sala de estudo do período da tarde e contaram uma história de indisciplina com palavrões de gente adulta protagonizado por um dos mais pequenos. Era hora de receber o lanche - era pão e banana. Então fiquei a pensar se realmente isso se tinha passado ou não na escola com o nosso acusado. Era uma vez..., mas será que era mesmo uma vez verdade? Ou era mais uma vez mentira. O chefe já tinha colocado de parte o lanche. O Rapaz por ter exibido tão faltosa arte perdeu automaticamente o direito. Ora, mas se ele falar também um pouco do que se terá passado na realidade? E quando fomos a ver afinal os companheiros tinham arranjado uma mentira para acusar o irmão e assim poderem ficar com lanche do mesmo. Que arte? Que engenho? Que perícia? Isso não se faz a ninguém. O caso chegou aos ouvidos da comunidade. Foram repudiados e orientados a agir sempre do lado da verdade e da justiça. O acusado voltou a recuperar o seu direito de tomar o lanche. Estava agora livre. Livre para fazer o bem. Outras tantas pessoas que não pertencem à nossa comunidade aproximam-se de mim para falar do comportamento de um ou outro rapaz, sobretudo os maiores. Agradeço. Mas isso não basta para eu tomar decisões. Eu conheço o rapaz desde pequeno, e mesmo que tenha mudado devido à idade e devido às amizades, também quero apreciar a novidade. Se é verdade lá fora também há-de ser verdade cá dentro. Se é verdade para os estranhos aquele mau comportamento, também havemos de verificar no seio da família. Por agora paciência. E confiança numa gradual mudança. A conclusão é de Pai Américo: «Primeiramente observamos de como é possível e suave acender na alma destes Rapazes uma luz que alumia e aquece. É pelo amor. Eles sentem-se amados e procuram naturalmente amar. Não é por mais nada.»
Padre Quim