BENGUELA - VINDE VER!

Aulas e covid-19 em andamento

O ano de 2020 está a ser um ano que está a passar de maneira surpreendente em quase todos os níveis da vida social. A pandemia que se intrometeu e alterou os estilos de vida dos homens e que ainda assim avança resistindo teimosamente no organismo humano veio assumir as irresponsabilidades de tudo quanto se trata de degradação das condições que conferem dignidade ao ser humano. Alguém deve sempre ser o culpado da situação. No jardim onde tudo era maravilhoso, Adão e Eva não assumiram as responsabilidades do seu comportamento. A serpente foi vítima e não tendo encontrado ao seu lado mais alguém para imputar a culpa ficou reduzida ao silêncio. E se a serpente não se tivesse calado? Talvez ainda hoje os homens estariam numa grande fila de procissão a apontar as suas próprias irresponsabilidades por terem comido do fruto proibido, para que os outros as pudessem assumir. A pandemia da covid-19 é vista hoje como a serpente daquele jardim, que veio estragar a harmonia que os homens viviam. E avança serpenteando silenciosamente fazendo vítimas. A fome, a violência, a ignorância também avança fazendo das suas.

As escolas foram abertas, a condições de biossegurança sabe quem lá vai... milhares de pessoas estão expostas a contrair a doença em cada passo dado. Nos transportes públicos, no contacto com o material de acomodação na sala de aulas. Enfim.

O ensino primário não foi aberto na data prevista devido à (serpente), Covid-19, sobretudo pelo elevado número de pessoas infectadas nas últimas semanas no País. Houve também manifestações de protesto. Fogo e fumo em algumas ruas de Luanda. A polícia veio com tiroteios. O povo de pedra em punho respondia. Os desempregados pedem emprego, o faminto pão, os que não têm tecto, um lugar para os seus filhos poderem sonhar com um amanhã melhor.

Os mais pequeninos passaram nesta semana a ter acompanhamento escolar no período da tarde para ocuparem o tempo de maneira equilibrada e saudável, pois não sabemos quando poderão regressar à escola para as aulas. Os acompanhantes já estão em prontidão. Vamos começar.

Quando chega a hora de fazer acertos com os rapazes sobre os gastos escolares de cada um conforme o nível académico e a deslocação que faz para chegar à escola, com o material todo exigido pelos professores, o balanço torna-se pesado pelos gastos diários, só no que diz respeito ao investimento escolar. Vamos pedir a cada um dos rapazes mais colaboração através de uma gestão conjunta para que cada qual possa tomar consciência desta realidade e assim valorizar a possibilidade de estar a estudar mesmo num contexto difícil e conturbado. Tomando uma caderneta pessoal para que no final do mês possamos fazer um balanço com responsabilidade e compromisso na linha do desenvolvimento e progresso.

Temos um grupo grande a estudar no ensino médio fora de Casa, uma vez que na nossa escola a frequência é até ao nono ano. São cerca de trinta rapazes em diferentes turnos, diferentes cursos, e diferentes classes. Neste ano ingressaram mais quatro dos nossos no ensino superior: Graça, Flávio, Pernocas e Manucho. Pelo ano o grupo será bem maior visto que são muito finalistas no médio. Uma frase que já não sei onde li veio animar-me na hora do balanço dos gastos para com a escola dos rapazes. E dizia: «se a Educação exige muitas despesas, imagina a ignorância». Não queremos pagar amanhã o preço da ignorância. Fiquei com o testemunho de um rapaz nosso que tendo tomado consciência destes gastos comprometeu-se a ir a pé até à escola, levando apenas o dinheiro para comprar os livros. Em breve vou dar-lhe a resposta desta sua pretensão e sacrifício. Por agora fica este sinal mais demonstrando a maturidade do rapaz. A conclusão é de Pai Américo: «Educar é dar-se pelo conhecimento íntimo do seu educando. O nome, o número e as fichas do rapaz são um zero em matéria de educação. Eu nunca li fichas de nenhum dos meus rapazes. Nunca li informações. Não falta quem me diga mal de alguns, apontando, até, factos concretos. Eu porém, oiço em silêncio, guardo tudo no meu peito e espero que o rapaz se revele a mim. Ele é que me há-de dizer tudo. Isto é educar. Isto é o toque espiritual de uma Obra de Assistência a Menores.»

Padre Quim