BENGUELA - VINDE VER!
Regresso às aulas em tempo de pandemia
O encontro realizado com os professores e a sua direcção serviu também para conhecer os novos professores que foram enviados pela primeira vez para integrarem o grupo de docentes que exercem a sua actividade de educadores há muitos anos na nossa Escola, que tem como padroeiro - Pai Américo.
O aumento dos casos da covid-19 nos últimos dias tem preocupado muito as famílias em relação ao reinício das aulas. Reina a incerteza e a crescente preocupação neste clima meio conturbado marcado pelo distanciamento entre a imposição dos decretos emanados por quem compete esse direito e a realidade das família onde a pandemia já causa danos maiores.
As interrogações de grande relevância neste contexto, em que vivemos o novo normal, prende-se com a criação de medidas de biossegurança no ambiente educativo. As escolas são obrigadas a trabalhar na criação das condições de higiene e segurança para poderem arrancar com as aulas nas datas já indicadas pelo Ministério da Educação. Pairam ainda as incertezas de como todo este processo poderá desenrolar-se considerando as debilidades existentes para a aquisição de material que é exigido. Grandes responsabilidades são agora acrescidas aos professores e aos gestores das Escolas.
À hora do Terço comuniquei aos rapazes a urgência de adopção de comportamentos adequados para o novo contexto de aulas em tempo de pandemia. A preparação para a retoma das aulas é muito importante no sentido de nos prevenirmos desta doença. Há já relatos dos vizinhos que dizem que não vão permitir que os seus filhos saiam de casa para irem à escola com o receio de serem eles mesmos os portadores do vírus, no sentido de o transportarem da escola para a casa ou até apanhando ao longo do percurso subindo e descendo dos táxis. Receio que os nossos mais pequeninos não consigam manter o distanciamento entre os seus colegas quando estiverem em ambiente escolar. Os mais crescidos são responsáveis e têm mais noção sobre a prevenção através do distanciamento entre as pessoas. As crianças são inocentes e muito ligadas umas às outras pelo afecto que lhes é característico.
Não queremos que as nossas crianças percam o ano lectivo, mas queremos que estejam de boa saúde para melhor estudar e construir um futuro melhor. Que aproveitamento tira uma nação expondo os seus filhos ao risco de se contaminarem de um vírus que não escolhe o seu alvo a abater? E que rendimento pode uma criança atingir em termos de aprendizagem num contexto de insegurança e temor? Eu cá compreendo que é muito importante as estatísticas para quem tem de apresentar contas da administração exercida. Senão vejamos: o arranque das aulas está previsto para o mês de Outubro e a conclusão do ano no mês de Março. Em tão pouco tempo serão consolidadas as aprendizagens? Ou será apenas para favorecer a transição dos alunos de uma classe para a outra? O processo educativo exige tempo, ambiente apropriado, motivação, segurança, entre outros factores que não observo nesta fase do ano.
Os nossos mais pequeninos andam de máscara o dia todo. Para a escola estão a ser feitas novas máscaras na alfaiataria, para que tenham vários pares para a muda. Sabem lavar as mãos com água e sabão e usar o álcool gel. Queremos abrir a escola e seguir as orientações dos fazedores das políticas educativas, mas não vamos alienar-nos da realidade. Uma coisa é a realidade, o contexto em que vivem as pessoas, e a outra coisa são as ideologias. As políticas devem ser construídas em função do contexto das comunidades. Da base para o topo e não o inverso. Pode ser desastroso um procedimento assim. A conclusão é de Pai Américo: «os nossos rapazes de forma alguma podem perder a escola. São nove horas. É a hora da escola. Toca a sineta e aí vem o espectáculo mais caseiro da nossa Obra. Os rapazes a caminho das aulas. Uns pela avenida. Outros por atalhos. Grupos consoante as simpatias. Cores diversas. Vai a bola. Vai o arco. Vai o à-vontade. Assim se vinca a personalidade de cada um, na liberdade de escolha.»
Padre Quim