BENGUELA

Estou a escrever no Domingo de Páscoa. É o dia maior de todo o ano! Recebi uma mensagem dum filho mais velho da nossa Casa do Gaiato de Benguela. Neste momento, com mais de 50 anos. Quero partilhá-la com os vossos corações, pois também é vosso filho. Sem a ajuda que nos deram e continuais a dar, hoje, não seria possível criá-lo. Diz estas palavras: "Querido Pai de todos os Gaiatos! Sou um dos seus filhos. Fui chefe-maioral na época de 1981 a 1982. Quero desejar-lhe uma Santa Páscoa, juntamente com todos os Gaiatos que se encontram consigo, em nossa Casa do Gaiato de Benguela. Sou o Jorge Pedro." Este filho muito querido é também filho do vosso amor. Na nossa oração diária, antes de nos sentarmos à mesa, no refeitório, para o jantar, lembramos todos os nossos benfeitores. Estes filhos sabem, deste modo, que a nossa Casa do Gaiato de Benguela, a sua casa de família, não poderia sobreviver sem a ajuda económica e financeira dos nossos benfeitores. Dependemos dos que partilham connosco os seus bens. A nossa gratidão é manifestada na entrega incondicional da nossa vida, animada pela confiança generosa dos benfeitores. Temos testemunhos admiráveis. Por isso, a mensagem deste filho querido, que nos foi enviada, a propósito da Festa da Páscoa, é partilhada por todos os corações que nos dão a sua ajuda por amor.

A propósito, não podemos esquecer-nos que levamos no nosso coração uma vocação de amor. Uma entrega de parcelas das nossas vidas aos irmãos, sobretudo os que vivem em situação de necessidade para poderem sobreviver. Não deixemos o nosso coração viver encerrado num egoísmo estéril e prejudicial para o resto dos irmãos, em grandes necessidades. É, sem dúvida, nesta esperança que a nossa Casa do Gaiato de Benguela vive. Todos os dias, como temos referido, os pobres muito necessitados e os doentes continuam a bater à nossa porta. Há momentos, por exemplo, veio ter connosco um jovem desempregado, ameaçado de ser posto na rua com a sua família, porque não tem possibilidade de pagar a renda da casa, onde habita. É um tipo de pobre muito frequente, no momento actual. Estamos, sem dúvida, a viver numa situação social muito difícil. Há falta de empregos, por exemplo. O despedimento do local de trabalho é, também, muito frequente. Por isso, a nossa Casa do Gaiato é muito procurada, também, por este género de necessitados. O nosso coração fica aflito. Que fazer? Vamos até onde for possível. Não queremos ter um coração fechado. Assim deve ser o coração de cada pessoa, perante a situação de irmãos que batem à nossa porta.

A falta de empregos gera, também, na nossa vida familiar da Casa do Gaiato problemas muito sérios. Temos um grupo de rapazes que, pela sua idade e preparação, estão na fase de começarem a trabalhar, fora da Casa do Gaiato, em ordem à sua vida autónoma. Desta forma, haveria lugares para o acolhimento de muitos pedidos de filhos abandonados. O problema social do abandono dos filhos, nesta nossa querida Angola, aflige a nossa vida. É, sem dúvida, um dos problemas mais aflitivos. Fazer de cada rapaz um homem é o coração vivo e dinâmico da Casa do Gaiato. Primeiro, tirá-lo da rua, do abandono. Porém, a Casa do Gaiato não é um armazém deste tipo de filhos. Daí a razão pela qual não pode acolhê-los todos. Foi com muita alegria que acolhemos a proposta duma empresa amiga, disposta a ajudar a nossa Casa do Gaiato, neste ramo da sua actividade, com a oferta de empregos. Oxalá a proposta se concretize, em breve. Vamos, entretanto, continuar na busca de novas oportunidades. É o bem comum da família humana que está em causa.

A Casa do Gaiato de Benguela conta sempre com a ajuda do coração de cada um de vós. Recebei um beijinho com muito carinho e com votos da continuação da Páscoa feliz com os corações novos, ressuscitados, dos filhos mais pequeninos que vivem felizes nesta sua Família.

Padre Manuel António