BENGUELA - VINDE VER!

Os dirigentes de amanhã

É necessário continuarmos a colocar as bases do fundamento do edifício que estamos a construir, se quisermos que no futuro tenha suportes seguros para se manter de pé com firmeza. Recebi um telefonema de Luanda. O emissor queria falar com o senhor Director da fazenda. Sim, somos da Casa do Gaiato de Benguela. Somos a família dos filhos que perderam a sua família ou que tenham sido abandonados, pobres e carenciados de pão e amor. Aqui encontram um lar familiar. Outros julgam que somos empresa. Pois enganam-se e fazem os inocentes deturpar ainda mais a versão posterior que venham a encontrar. Somos uma família com especificidades próprias da natureza da nossa Obra da Rua. Somos o amparo daqueles que foram rejeitados. Os rapazes aos poucos devem receber orientações pontuais conforme a manifestação comportamental de crescimento e maturidade face a sua capacidade para assumir responsabilidades maiores dentro da nossa Casa hoje e amanhã bom prestador de serviço à pátria, aonde deverá ser enquadrado como cidadão normal no conjunto das normas de boa convivência, no respeito às instituições, zeloso cumpridor dos seus deveres e digno merecedor dos seus direitos. O princípio de toda orientação da Obra é que de entre os rapazes de hoje saiam os continuares dirigentes de amanhã. Não de entre os estranhos. Estes com todo o respeito, só e somente em ocasiões excepcionais, ali onde vier a faltar a prata da casa por motivos de faltar formação adequada ou maturidade para desempenhar certa tarefa até que chegue o dia em que a prata começa a brilhar e a tomar o seu lugar para cuidar dos seus irmãos com o mesmo espírito e sentimento de pertença à Obra dos pobres. A sua formação para a continuidade vem da natureza do projecto educativo que durante dez ou dezasseis anos de permanência na nossa Casa foi alvo da sua orientação. A sua experiência e compreensão da caridade em acção vem da Cruz elevada no alto do Calvário, onde Cristo pregou o sentido mais esclarecedor da doação e entrega incondicional e gratuidade ao dom do alto. Seguem – se os fundamentos académicos. Todos os rapazes vão à escola desde a primeira hora em que dão entrada na nossa Casa. O dia seguinte é reservado à matrícula, o uniforme e a mochila às costas. Seguem sem interrupção até ao 9º ano. Depois são enquadrados nos Institutos médios na cidade para a frequência aos cursos escolhidos por cada um conforme as suas inclinações, aptidões e preferências académicas. Enquanto frequentam as aulas aqueles que completam dezasseis anos de idade são encaminhados no período inverso para os sectores das oficinas escola, para aprender uma profissão. Todos os rapazes que se destacam a nível de competências académicas seguem para tirar um curso superior dependendo das portas abertas das Universidades para o seu acolhimento na qualidade de bolseiro. Vão assumindo responsabilidades em vários sectores da vida da Casa, liderando pequenos grupos conforme os trabalhos a serem realizados no campo agrícola, nas oficinas, na escola e na vida doméstica comunitária. A conclusão é de Pai Américo «tudo isto é missão vossa; lugar que vos está reservado. Vós tendes inteligência, tendes capacidade, sois dotados de valor. Salvaram-te? Pois vais tu agora salvar. Os teus companheiros da rua estão à tua espera. Põe à ordem deles a tua inteligência, a tua capacidade e o teu valor, que nisso te valorizas mais. E cumpres o Evangelho 'faz aos outros como gostas que te façam a ti.'»

Padre Quim