BENGUELA - VINDE VER!

Dedicação

Os rapazes começaram a regressar a Casa, depois de terem feito por merecer férias junto dos parentes que um ou outro ainda tem. As férias acontecem anualmente depois da conclusão do ano académico para todos os que tenham apresentado resultados escolares positivos. É justo entre os pares estabelecer critérios incentivadores para a sustentação do protagonismo de cada membro, em assuntos que têm que ver com a vida da comunidade e com o desenvolvimento de competências pessoais. Não podemos de jeito nenhum tratar de igual modo aquele que trabalhou durante o ano todo, esforçando-se por cumprir o seu dever e aquele que não trabalhou, sem apresentar qualquer justificação a tal omissão grave. Fazer para merecer! Ou deixar de fazer o que deve ser feito e distanciar-se cada vez mais do mérito, fruto do trabalho. Na escola há muito para ser feito: a ordem, a disciplina, a assiduidade e o progresso no alcance dos conhecimentos e habilidades em cada uma das etapas estudantis. É possível, sim. Mas, não é fácil. Entre uma e outra realidade é preciso não correr o risco de cair no reino das impossibilidades. Por se estar a passar por várias dificuldades, não nos dá o direito barato de anular a nossa acção em prol do desenvolvimento social que muitas vezes é certeza também de progresso pessoal. Só será sustentável se o caminho de elevação chegar a contemplar o homem e as sociedades estabelecidas para as relações humanas. Não podemos falar de desenvolvimento de uma Nação, quando na realidade as pessoas vivem abaixo da linha do subdesenvolvimento. Todos devemos fazer o melhor para ajustar os pesos às medidas. A alteração do paradigma surgirá com a mudança de mentalidade que é preciso promover com base na justiça e na solidariedade. Começamos a fazer o caminho, pois caminho faz-se caminhando. Lado a lado. Não há caminhos feitos e se na vida tivermos sorte de os encontrar pertencem a outros que os fizeram com sacrifício e dedicação por amor a uma causa maior que os motivava a continuar a caminhada para chegar até meta. É preciso alimentar o sonho da juventude. Orientar, corrigir, promover, abrir perspectivas de futuro, sem sair do presente.

Vamos começar o ano lectivo dentro de uma semana. Andamos à procura do material escolar para dar a cada um dos cento e cinquenta e quatro rapazes que habitam a nossa Casa e andam a estudar. Neste momento temos já duzentos cadernos, e precisávamos para o arranque do ano de dois mil. Onde os arranjar? Não posso ir à feira sem dinheiro. Ali ninguém oferece. É lugar de compras e vendas. As mochilas para levar o material à escola vamos fazer de tecido que temos na rouparia. Os nossos rapazes da sala da costura vão executar com zelo mais este desafio. Os nossos amigos e benfeitores nos fornecem o material escolar, encontra-se em dificuldades na importação da mercadoria. Dizem que o País já produz e não tem necessidade de importar. Não sei quem tem razão. Se é aquele que fez a lei e atesta este facto ou a realidade que apresenta a carência do produto? E se o assunto é excluir no pacote das importações o que já é produzido no País, como fica o caso de comunidades de filhos desta terra que vivem de ajudas a título gratuito? As ajudas para a igreja e seus centros de caridade que sofrem com o povo de Deus no meio das indigências? A caridade faz bem a quem a exerce, é próprio de uma comunidade de irmãos de longe e de perto. Pode acudir e salvar vidas. Que haja produção nacional é bom, mas que haja também poder de compra para aquisição de bens e serviços de primeira necessidade. E que esta produção seja a resposta das necessidades do povo. Não seja como o vento, sempre invisível para os de baixa visão e para os ditos "normais". Vamos dedicarmo-nos todos uns pelos outros, o bom andamento da comunidade humana depende do esforço de todos e de cada um de nós, na luta pela instauração de uma sociedade mais justa, solidária e mais fraterna. A conclusão é de Pai Américo "É pelas obras da Caridade que os homens conhecem e se apercebem da existência de Deus. Caridade que não seja uma palavra vã, nem seja uma caricatura, muito menos uma pintura. Muito menos, ainda, a maneira como o mundo mentiroso costuma aplicá-la e apresentá-la".

Padre Quim