BENGUELA - VINDE VER!

Educação ao Relento

O título desta crónica pode de certa maneira confundir o que realmente o autor quer comunicar. A arte de comunicar exige clareza e objectividade. E ainda assim atrevo-me a fazê-lo, na esperança de poder vir ao longo do texto a devolver a devida compreensão. Considerando que a influência do meio tem um peso de grande valor a ter em conta, na configuração das palavras e dos seus significados, pode levar a entender-se que propositadamente foi composto um certo dilema ou uma aparente dicotomia; comunicar com clareza para facilitar a compreensão e dissipar as trevas da tentação de pensar que, "pensei que quis dizer, o que não disse", ou perder-se na etimologia de uma e outra. Quando comecei a escrever este texto à partida tive de substituir o título para livrar o leitor desta provável confusão de significado das palavras. O texto, encontrava-se intitulado assim: "Educação Especial". Mas, no entanto,não se trata daquela educação especial entendida como o ramo da educação voltado para o atendimento e educação de pessoas com alguma necessidade educativa que requer um currículo especial, ministrado preferencialmente em instituições de ensino regulares ou ambientes especializados (como por exemplo, escolas para surdos, escolas para cegos ou escolas que atendem a pessoas com deficiência intelectual). Aqui trata-se da nova configuração entre o significado e o significante: a educação especial baptizada com esta denominação pela comunidade académica por ser realizada debaixo das árvores. E quando chegam as tempestades naturais como a chuva todos se retiram para procurar abrigo, interrompendo assim o processo de ensino e aprendizagem, adiando o futuro de uma grande parte das nossas crianças. Por isso a versão final deste texto acabou por ser Educação ao Relento. Talvez venha a ser proveitoso depois de muitos estudos sobre a sua funcionalidade também em outros contextos socioculturais, para averiguar o seu grau de aproveitamento no que ao ensino e aprendizagem diz respeito.

Estamos diante de dois termos: educação (+) mais relento =? E o futuro da nossa jovem geração =? As possíveis respostas deverão passar pelas possíveis vias de resolução imediata destas incertezas. Escrevo assim, para sensibilizar os corações de quantos lutam dia e noite para acolher, assistir, promover, valorizar, projectar e integrar com dignidade as nossas crianças, os nossos adolescentes, e os nossos jovens mais desfavorecidos da sociedade. Não aquela sociedade que faz de "conta" que não tem esses problemas no seu seio. A educação é a chave adequada para abrir as portas da construção de uma convivência saudável, justa, para formar homens e mulheres livres para sonhar, trabalhar e amar.

Continuamos a gritar forte. Já escrevemos cartas aguardamos com paciência a hora da resposta generosa. Precisamos de olhar para este quadro da educação hoje com elevada preocupação, arranjando estratégias de contrapor o adiamento de um futuro melhor para as nossas crianças, livrando - as das cadeias, da criminalidade, da inserção no mundo afogante do consumo de drogas, do roubo por necessidade de matar a fome, da ignorância de encontrar as vias dignas para comer o pão com o suor do seu rosto, porque os agentes de educação e socialização não modelaram o seu comportamento ensinando a utilizar a cana de pescar para pescar. Atravessamos o tempo da crise social da entrega do anzol, e conformamo-nos com alguns peixes que ainda restam nos cestos. Ajudem-nos a ajudar as crianças mais necessitadas. Temos em nossa escola apenas oito salas de aulas para 1600 alunos matriculados no presente ano lectivo. Um numero muito reduzido cabe nas salas de aulas, grande parte dos alunos tem aulas ao relento, convivendo directamente com as circunstancias da variação climatérica, completamente expostos a estímulos que são adversos ao bom aproveitamento no processo de ensino aprendizagem. A Conclusão é de Pai Américo «[...] educando a criança como ela deveria sê-lo em sua casa, no seu meio, dentro das possibilidades da família. A Obra deve girar nos moldes da Família enquanto o miúdo lhe não puder ser restituído. E se este a não tiver, há de sair do Ninho capaz de a construir, pela prática que teve dela. A Casa do Gaiato é uma Obra eminentemente social e familiar.»

Padre Quim