
BENGUELA - VINDE VER!
Em família
Muitas vezes ouvimos dizer de variadíssimas maneiras, que a família é o baluarte seguro para a edificação do homem novo que se encontra na criança que hoje temos para educar. A criança é nas Casas do Gaiato o centro das atenções dos padres, das Senhoras - mães, ali onde houver e tantos colaboradores e benfeitores de longe e de perto. A sua preocupação e necessidades são prioridades na agenda diária do padre da Rua - pai. Lutas e alegrias, vitórias e desilusões - tudo em busca da projecção e materialização de um projecto de vida para a realização dos sonhos daquela criança que deseja ser um homem de bem, bom trabalhador, cidadão, um bom cristão também.
Encontro-me neste momento a escrever desde o escritório da nossa Casa do Gaiato de Setúbal - zona próxima à cidade de Lisboa. Depois de uma longa espera do visto para entrar em Portugal, felizmente há poucas horas cá me encontro. No aeroporto esteve o Senhor padre Fernando Fontoura, em plena manhã de nevoeiro cerrado, estando em inverno com a temperatura mínima a rondar os dois graus. Deu-me o casaco que tinha no carro e seguimos para a Casa. A família é assim mesmo. Faça frio ou calor, faça chuva ou sol, sempre de pé, firme resistindo às contrariedades da vida e dos tempos e circunstâncias. Já em Casa fomos ver as vinhas onde nelas andavam a trabalhar os homens. Os rapazes tinham ido à escola. Estudar também é trabalhar, mas de outra forma.
Ao longo da viagem pensava como estaria a comunidade de Benguela naquela hora, e como estará ao longo destes dias de ausência física. Digo física porque continuamos a trabalhar em conjunto através da comunicação do telefone. É um instrumento de trabalho, é uma ferramenta de elevado valor, favorecedora da operacionalização do trabalho à distância. O chefe maioral e os rapazes maiores de Casa fora chamados a assumir responsabilidades, que muitos da sua idade em outros contextos teriam muitas dificuldades em assumir. Risco? Sim, estou consciente. Erros? Também são para ser corrigidos. A educação é também ter ousadia em arriscar que haja mudança no comportamento do educando. Somos família e na medida em que os filhos vão crescendo devemos ter coragem para chamá-los a assumir responsabilidades. São muito jovens, é um risco. Sim! E para quando a sua hora na dinâmica mais participativa da vida da Casa? Ao pensar em tudo isto concluí que eles não ficaram sozinhos. O nosso bom Deus vai guiando com a força do Santo Espírito os caminhos da nossa vida em família. Pai Américo intercede e vela pelo bom andamento da Casa. O telemóvel não para de tocar, primeiro este e depois aquele e aquele outro. Primeiro porque o gerador avariou e deve trazer de Portugal uma peça - logo entra pelo WhatsApp uma fotografia da peça que estragou, é um relé térmico. O Tio Júlio de Paço de Sousa telefona preocupado com as referências do material eléctrico para mandar no contentor. O Alexandre em Benguela mais José Graça telefonam para pedir o dinheiro da propina do curso de culinária e de desenho para um e outro. Em tudo muita vida. A família é uma fonte de vida que gera vida para os seus próprios membros.
Agora estou em Portugal para estar também com a família que cá vive no meio das suas preocupações e alegrias também. Vamos partilhar o que somos e que queremos ser. Vamos ter encontros com os padres, por isso cá estamos todos os padres da Rua. Eu fui o último a chegar - peço desculpa. Pela próxima esperamos que o consulado em Luanda me conceda o visto a tempo para vir estar com a família. Não seria a intenção mais nobre para a concessão de vistos de viagem para entrar em Angola e em Portugal, dizer apenas isto? Eu vou viajar para estar em família com a minha família de Angola ou de Portugal. Bastava! Somos família já bem antes dos senhores arranjarem as ditas burocracias, do vem amanhã, passa só mais amanhã, mas amanhã mesmo sem falta! Não queremos que nos falte a família. A conclusão é de Pai Américo "Não sei verdadeiramente onde está o tal ópio da religião, nem vejo o pirilampo de onde ele possa sair como dizem os letrados. Os trelidos. Eu vejo mas é aqui tanta luz. Esta Obra irradia tanta luz; tanta e tal que me não canso de ver nela o que os apóstolos viram, depois das nuvens do Tabor: Jesus".
Padre Quim