BENGUELA - VINDE VER!

Reunidos em família à volta do altar celebrámos a Eucaristia memorial da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta fonte de vida e salvação o nosso querido e saudoso padre Manuel António mergulhava fundo na mais íntima relação com Deus. A sua experiência com o Divino Mestre era tão grande e tão real que muitas vezes através dela nos mostrava o sentido pleno da vida cristã em busca da santidade. Foi um orador nato do amor e da misericórdia de Deus. O dialogo começa assim: onde é que tu estavas há cinquenta anos? Só respondia correctamente quem já tinha ouvido as respostas anteriormente. O padre Manuel depois respondia: tu estavas no coração do Pai do Céu. Era a primeira fase da vida. Falava aos rapazes e a todas as pessoas com quem se cruzava nos caminhos da sua vida do projecto de amor que Deus tem para todos e cada um dos homens e mulheres. Falava do coração de Deus como ponto de partida da existência. Falava da disponibilidade e generosidade de um homem e de uma mulher para materializar o projecto de Deus, a quem haveríamos de chamar pai e mãe - era a segunda fase da vida. Depois do nascimento Deus concede ainda o dom da vocação a cada uma das pessoas, cada um conforme a vontade de Deus também recebe uma missão na vida. A escolha feita leva à felicidade porque é o caminho para o regresso ao coração do Pai onde inicialmente estávamos - esta era a terceira parte.

Hoje, 6 de Dezembro de 2021, celebramos com gratidão a Deus Pai pelo dom da vida- vocação-missão que concedeu ao nosso querido Padre Manuel António, cuja vida foi uma entrega total aos pobres e abandonados. Faz um ano nesta data desde o dia do seu nascimento para o Céu. A celebração aconteceu no nosso salão de festas para cumprir com as medidas de biossegurança a propagação do vírus da covid-19. Presidiu à eucaristia o Senhor Dom António Francisco Jaca Bispo da diocese de Benguela, na companhia de vários sacerdotes, um número bastante considerável de religiosas e religiosos e os nossos 130 rapazes residentes e alguns gaiatos antigos. O padre Manuel viveu para a Igreja amando os pobres e comunicando a todos o quanto são amados por Deus. No meio das grandes aflições do dia-a-dia da vida da nossa Casa com as suas inúmeras necessidades, invocava a Jesus. «Jesus». Jesus era o seu tudo. Nos últimos anos, já limitado pelo seu estado de saúde, reuniu todas suas forças para dedicar todo o seu tempo à oração intensa - qual diálogo fecundo com Deus! Um homem de coração aberto às necessidades dos mais desprezados da sociedade. Um homem de acção para transformação de vidas quase perdidas.

Nestes dias, está no meio de nós o nosso Padre Alfredo, que veio conhecer a nossa Casa e esteve presente na Celebração. No Domingo anterior ao dia 6, presidiu à eucaristia dominical e falou da experiência que teve junto do Padre Manuel durante vários meses no Calvário.

Aqui em Benguela as pessoas têm a memória muito viva e falam dos feitos de amor que o senhor padre Manuel deixou. A Casa do Gaiato, o acompanhamento às Monjas Dominicanas de Clausura, no Mosteiro Mãe de Deus, aos seminaristas e às comunidades religiosas de toda Diocese. Durante nove anos seguidos tive a graça de conhecer também e compartilhar a missão de sacerdote da Obra da Rua na Casa do Gaiato de Benguela. E meu testemunho é este. Padre Manuel António passou a sua vida fazendo o bem imitando Cristo na sua passagem pelo mundo. Um bom samaritano nas terras de Benguela, levantando os que tinham sido violentados pela miséria e o abandono. Um discípulo de Cristo no meio de nós.

Padre Quim