
BENGUELA
Oficialmente foi hoje aberto o ano lectivo. O dia 1 de Setembro vai certamente ficar marcado na história da educação em Angola. Num ambiente completamente marcado pelas incertezas causadas pela pandemia da covid-19 e consequente agravamento das condições de vida da população, deu-se de maneira corajosa início ao novo ano escolar. As ruas da cidade apresentam-se como um autêntico arco-íris, pintadas pelos tons de cores dos uniformes escolares, obrigatório em cada um dos complexos de ensino. As crianças são felizes, levam a mochila às costas em busca de algo novo para transformar o seu comportamento em bons cidadãos no futuro. Os nossos mais pequenos levam cada um o seu nome marcado na pasta dos cadernos, em cada caderno também existe um distintivo. Dizem os seus colegas «ele é do Gaiato». Fica na boca de todo o mundo à sua volta «ele é do Gaiato».
A nossa escola tem sido ao longo de décadas um centro de formação académica para os filhos e filhas vindos das comunidades vizinhas. O senhor director falou-me que o número de matrículas já passa dos mil alunos em dois turnos. Temos apenas oito salas de aulas construídas de raiz. Quando foram projectadas era apenas para servir os rapazes internos da nossa Casa, o que é bastante suficiente, mas devido à escassez de escolas na comunidade e a crescente taxa de natalidade cada vez mais em alta, a procura tornou-se maior que a oferta. E como não há espaço para todos dentro das salas grande número destas crianças estudam ao relento debaixo das árvores. Um quadro encostado à árvore, bancos corridos ou carteiras e, prontos ali mesmo, vão aprendendo as lições para a vida. Temos necessidade de ampliar as salas de aula para responder à necessidade da comunidade. As pastas vieram da oferta do ano passado que a Unitel fez. Levam todos a cor laranja às costas, batas brancas com o logótipo estampado no peito. O mesmo logótipo que o jornal «O Gaiato» leva na sua primeira folha.
Neste ano lectivo temos seis rapazes que terminaram o nono ano e foram para os Institutos Médios de Benguela. Destes, quatro rapazes escolheram o Instituto Médio de saúde para fazerem o seu curso Médio. O «Ngongo», para o curso de análises clínicas, «Gizaldo» para o curso de radiologia, o «Cabeção» para o curso de fisioterapia, e o «Dário» para o curso de estatística para a saúde. Foi uma luta muito grande para conseguir um lugar para o menino, numa altura em que se exige médias e idades correspondentes. Deus é bom e faz com que haja homens bons para fazerem outros homens serem bons. Para a Universidade temos cinco candidatos. A carrinha vai de cima para baixo. Na cidade é bastante conhecida a carrinha branca do padre. Anda em busca de um futuro melhor para os seus rapazes. Tudo por eles e por causa deles. O «Bonito» e o «Maninho» já fizeram apresentação e aguardam pelos testes de admissão no Piaget de Benguela. O «Celestino» está a fazer o preparatório e vai entrar no ISPB para fazer medicina e já trabalha como enfermeiro no nosso pequeno consultório médico. no Politécnico da Graça vão dois o «Ady» e o «Biló». Preparamos os rapazes para a vida, mas enquanto se preparam aproveitamos os seus talentos para servir os seus irmãos. E quando assim falo às pessoas da cidade, vejo lágrimas de contente cair dos seus olhos. Neste momento o «Flávio» que já anda no segundo ano de engenharia informática prepara-se para dar aulas de informática na nossa escola. Foi a convite do director da escola. Eu não tive qualquer influência. Foi a direcção da escola que tomou conhecimento dos talentos do rapaz. E quando assim acontece sinto-me renovado para seguir buscando o melhor que há para os rapazes. Nestas matrículas escolares ainda faltam alguns rapazes que terminaram o Médio o ano passado e têm boas notas e responsabilidade para seguir com um curso superior. O «Filipe» que é o nosso chefe-maioral aguarda por um lugar na Lusíadas do Lobito, um dos gémeos o «Bange», aguarda por um lugar na Católica do Luongo. Queremos e tudo fazemos para que todos os rapazes em idade escolar estejam na escola num período e no outro estejam a trabalhar no campo, nas oficinas ou nos trabalhos da vida de Casa. A Conclusão é de Pai Américo «Aqui em Casa nem todos chegam às suas obrigações pela altura de cada um, mas pela habilidade sim. A necessidade obriga-os a tirar grandes efeitos e eles chegam, de qualquer forma, aonde é preciso chegar».
Padre Quim