BENGUELA - VINDE VER!

Sempre família

Veio do Luau da zona mais a leste do País um rapaz que foi educado nesta nossa Casa do Gaiato. À cerca de 4 anos tinha partido para aquelas paragens com mais três irmãos por circunstâncias de vida, também educados na nossa Casa. Foram para trabalhar como funcionários do CFB (Caminhos de Ferro de Benguela), onde tínhamos arranjado emprego para os mesmos. Apesar da distância de aproximadamente 1000 quilómetros da zona onde se encontram a trabalhar e agora também a residir, esses nossos rapazes continuam a sentir o carinho da família que os ajudou a integrarem-se com dignidade na vida social. Quando chega o tempo das férias é na Casa do Gaiato, sua Boa Mãe, onde se dirigem para viver esses momentos de fraternidade com os seus outros 120 irmãos ainda debaixo dos cuidados da família que é o Gaiato. Há pouco menos de 15 dias veio do Luau o «Pedro Afonso». Disse-me que vinha preparar os últimos arranjos para a celebração do seu matrimónio. Já tinha estado cá no ano passado e fez naquela altura menção a esse assunto e tinha dado início à preparação religiosa e civil para a concretização deste seu grande sonho. Nesta semana, já foram realizadas duas cerimónias importantes. O casamento tradicional - o conhecido alambamento -, o casamento civil e na sexta-feira será a cerimónia religiosa para a consagração do enlace matrimonial como recomenda a Santa Mãe Igreja.

Os nossos rapazes encontram-se em fase final de avaliação escolar. Estão a decorrer as provas finais. E embora estejam atarefados com as matérias escolares para estudar e a devida postura no acto das provas, não deixam de estar muito unidos a este acontecimento importante que se está a realizar na vida deste irmão. Sei que um grupo vai representar como cavaleiros e já tem estado a ensaiar para esta exibição. Para fazer a primeira leitura foi escolhido um dos nossos rapazes mais experimentado nestas cerimónias litúrgicas. É o «Filipe» o nosso chefe maioral. A noiva do Pedro virá cá em Casa, como mandam as tradições, fazer um prato típico da zona para provar à família que está apta para a cozinha. E que neste capítulo o nosso rapaz não terá reclamações a apresentar. Então foi um grupo com enxadas para preparar o lugar onde vai decorrer esta cerimónia. Em todos estes actos, os esforços são em prol da família. Ou melhor, só é assim porque somos uma grande família. A família do rapaz quando foi acolhido é a mesma família do rapaz quando é integrado na vida social e a mesma família do rapaz para o resto da vida. Sempre família. E a família é tudo! Quanto mais uma família cristã! E nós somos uma grande família dos filhos de Deus. Sem Deus não somos nada e sem Deus não teríamos nada. Com Deus não falta paz e amor. Mesmo em tempos de crise e de pandemia, não falta pão, leite e mel.

Na hora do terço falei aos rapazes sobre este acontecimento que diz respeito a toda a família. E aproveitei para dar uma lição de maior compromisso com a vida em família. Ninguém está sozinho quando Deus é seu Pai. Passamos todos a dizer Deus é nosso Pai e então todos os que assumimos Deus como nosso Pai também temos o dever de assumir os outros como os nossos irmãos verdadeiramente. A conclusão é de Pai Américo: «Pois que vem a ser a Obra da Rua? É uma grande Família Portuguesa que contém em si os elementos precisos para fazer de cada rapaz um homem de bem se ele quiser. Ora aqui está. Ora aqui temos. Aquele se é, justamente, o que faz do filho da Obra o homem útil e prestimoso: sem aquele se, a Obra da Rua, não pode fazer nada.»

Padre Quim