BENGUELA
Sofremos e ajudamos...
O número de crianças abandonadas é muito elevado. Constitui um problema social verdadeiramente aflitivo. O coração de cada um de nós, todo o coração humano, não pode ficar indiferente perante a situação destes filhos. A Casa do Gaiato quer ser a Casa de Família dos filhos sem família ou tendo-a é como se não a tivessem. É a situação do filho abandonado.
Fazer de cada rapaz um homem para a sociedade é o ideal que anima os corações que dão as suas vidas ao serviço da Casa do Gaiato.
Hoje, Domingo, tivemos mais uma reunião dos Chefes da nossa Casa do Gaiato. É um momento muito importante da nossa vida. Os Chefes são o grupo de filhos, escolhidos para se responsabilizarem pelo bom andamento da vida familiar. São a ajuda indispensável nos vários sectores. Têm a função dos irmãos mais velhos numa família. Por eles pode realizar-se o lema da Casa do Gaiato:
"Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes". São estes filhos que assumem a responsabilidade nos dormitórios e nos vários setores dominantes da vida da Casa. Deste modo, os vários serviços são desempenhados com a responsabilidade dos membros da família, e não por gente estranha. As reuniões regulares com os Chefes têm como objectivo sensibilizá-los para o bom desempenho das suas funções nas várias actividades da vida da Casa do Gaiato. Por exemplo, na reunião deste último Domingo esteve em causa a falta de cuidado na arrumação e limpeza dos vários espaços da Casa. A missão dos Chefes é a função dos irmãos mais velhos numa Casa de Família, em comunhão com os outros membros. De igual modo, nesta Reunião foi decidida a eleição do novo Chefe-maioral de toda a comunidade e a substituição dalguns chefes comuns. Esta Reunião familiar pediu-nos muito empenho para o cumprimento mais perfeito da nossa missão.
A actividade escolar está prestes a terminar. Temos esperança nos bons resultados. Este sector é, sem dúvida, um dos mais delicados e importantes da nossa actividade educativa. A maioria dos alunos da nossa escola são filhos que residem nos bairros circunvizinhos. É, sem dúvida um dom muito precioso prestado pela nossa Casa do Gaiato a estes filhos. Doutro modo, talvez não tivessem lugar para se fazerem cidadãos normais. A escola é essencial para fazer de cada filho e de cada filha cidadãos normais. O número de crianças dos bairros é tão numeroso que os responsáveis escolares decidiram criar alguns grupos que funcionam debaixo das árvores seleccionadas. Não teriam possibilidades, doutro modo, para aproveitar este bem escolar para as suas vidas, neste período. O edifício escolar está dotado dum número de salas muito regular para os filhos da Casa do Gaiato. Acontece, porém, que o número de crianças dos bairros cresceu e continua a crescer de tal modo que, de momento, não há outra solução possível. Estão a aproveitar este bem escolar, muito importante, para as suas vidas. Todas as condições possíveis, dentro das circunstâncias naturais, estão postas em acção. Aguardamos melhores tempos.
Um dos problemas mais aflitivos, por que passam as famílias muito pobres, é a doença. Há momentos, um casal, com os seus filhos doentes, vem pedir ajuda, com as receitas médicas na mão. É um dos filhos mais velhos da nossa Casa do Gaiato, acompanhado da sua esposa. Vivem fora da Casa do Gaiato. Os filhos doentes receberam os remédios, levantados na farmácia do bairro. Estas situações multiplicam-se. As famílias, muito pobres e miseráveis, são em número muito grande. A nossa Casa do Gaiato é o ponto de apoio para estas situações aflitivas. Vamos continuar a fazer tudo o que for possível. As ajudas financeiras para manter segura a nossa vida são indispensáveis. Ajudai-nos com o vosso coração cheio de amor. Muitas crianças, embora tendo os seus pais, vivem numa situação desoladora. A falta de emprego na sociedade é aflitiva, também. Batem-nos à porta à busca do pão para os seus filhos e outras necessidades. Sofremos e ajudamos.
Experimentamos todos os dias, o amor e o carinho dos filhos que são amados e têm o necessário para as suas vidas. À noite, quando chega a hora de se recolherem nas suas camas, cobrem-nos de beijos e abraços. É a despedida, até ao dia seguinte. Que maravilha! Estes filhos ficaram sem pais e sem o seu amor. Agora, sentem-se em sua casa com o carinho e o amor que fazem parte das suas vidas. Que todos os pais amem os seus filhos como o tesouro mais precioso! A Casa do Gaiato quer ser a Casa de Família dos filhos sem Família. Sem o vosso amor, presente nas ofertas do vosso coração para a sua vivência, não é possível realizar este projecto social.
Padre Manuel António