BENGUELA
Apresento-vos o meu coração para vos acolher com muito amor. Passaram-se duas quinzenas sem dar notícias n'O GAIATO. Que se passou? A doença entrou no meu corpo e não me deixou partilhar convosco a nossa vida. É a vida dos pobres. Muitas crianças abandonadas bateram à porta do meu coração porque sentiam-se perdidas. Faltava-lhes o necessário para seguir o caminho dos filhos normais. Têm direito a ser homens e mulheres, dentro da dignidade humana. A frequência da escola é, sem dúvida, um factor imprescindível. Por isso, devemos sentir-nos verdadeiramente comprometidos com a ajuda às crianças nesta dimensão da sua vida. Pensa nos teus filhos. É o caminho seguro para manteres viva esta grande responsabilidade social.
Estou a viver esta fase da minha doença, em plena recuperação, no nosso Calvário. Pai Américo fundou o Calvário como a casa de família dos pobres incuráveis sem família. É a preparação para a morte. Este amor de Pai Américo é profundamente humano e divino. O corpo tem direito a uma morada digna até à morte. A alma é criatura sublime de Deus, sempre, até sair deste mundo. Por isso, Pai Américo quis fundar, para os pobres doentes incuráveis, a sua digna morada. É, sem dúvida, a manifestação do amor de Deus para com os mais pobres, os mais abandonados até à morte. Neste momento está a ser acompanhado um grupo pequeno de doentes. O Calvário, é, sem dúvida, um chamamento de cada um de nós - os que temos saúde - para que sejamos muito sensíveis aos sofrimentos dos que vivem mais abandonados, até à hora da morte.
Nesta hora o meu coração mantém muito actual e muito vivo o amor aos nossos doentes mais necessitados a quem eram destinados muitos dos produtos e donativos dos nossos queridos benfeitores. Espero, dentro em breve, se o Pai do Céu permitir, encontrar-me convosco.
Padre Manuel António