BENGUELA

Hoje é Domingo. É o primeiro Domingo da Quaresma. Como é habitual, terminada a refeição da manhã, os mais pequeninos vêm ter comigo para saber se há praia. O tempo está quente. É o verão de Angola. O sol brilhante, a irradiar calor, dá a resposta que os enche de alegria: vamos à praia. À hora da saída, a carrinha fica cheia. São dezenas. Os mais crescidos juntam-se aos pequenos e fazem um grupo muito numeroso, É uma carrinha aberta. A autoridade policial, responsável pelas leis do trânsito, dá-nos o benefício da sua compreensão. Já passaram algumas dezenas de anos. De contrário, não seria possível utilizar esta forma de transporte. Como é natural, os filhos passam o tempo da praia, cheios de alegria e sentem-se muito felizes. A praia, vulgarmente utilizada, é muito frequentada pelo povo das várias classes sociais. Por isso, como temos referido, este tempo de convívio social é um factor muito positivo para o seu crescimento humano equilibrado. Sentem-se filhos como os filhos de famílias normais.

Esta acção a favor do desenvolvimento da personalidade dos próprios rapazes é interessante. Sentem-se, também, responsáveis pelo seu próprio crescimento humano, na medida em que são estimulados por estas acções que os animam. É, sem dúvida, um elemento educativo essencial. Vamos procurar as oportunidades possíveis para formar dignamente estes filhos, no sentido de serem membros dignos e exemplares da nossa sociedade.

Como temos referido, várias vezes, os pedidos para o acolhimento de filhos abandonados, na nossa Casa do Gaiato de Benguela, são muito numerosos. O nosso coração sentir-se-ia feliz se lhes pudesse dar as mãos para os ajudar. Continuamos à espera da saída dos rapazes que necessitam do emprego para o seu sustento, fora da Casa do Gaiato. As suas idades pedem e exigem esta solução. Era, sem dúvida, uma ajuda muito preciosa, nesta hora. Vamos continuar a sofrer com muita esperança. Não vemos, de momento, outro caminho a seguir.

Os pobres batem constantemente à nossa porta a pedir ajuda. Os doentes são, sem dúvida, os mais numerosos. Ao contemplarmos a situação social, os ricos devem comprometer-se com os pobres, especialmente com aqueles que não podem defender-se, organizar-se e libertar-se da situação de miséria. Que a riqueza não os impulsione para o egoísmo e para a vida fácil. A igualdade fundamental de todos os seres humanos deve estar muito viva em todos os corações. A consciência e o dever da prática da justiça e da caridade estejam, também, muito presentes nos nossos corações. Cada pessoa faça o que puder para ajudar os mais pobres e miseráveis. Não fechemos os nossos corações se queremos, de verdade, ser felizes. Em definitivo, está anunciado que o nosso destino não termina com a morte, há um mais além. Seremos verdadeiramente realizados, na medida em que procurarmos ser uma só coisa com Deus e uma só coisa com os nossos irmãos os homens. Quem dera esta mensagem comece a realizar-se já, aqui e agora, no nosso grande amor com os mais pobres e miseráveis. Temos procurado ajudar, dum modo especial, os pobres doentes que, diariamente, nos procuram. Tenhamos coragem de fazer uma revisão da nossa vida, no exercício do amor verdadeiro para com os mais pobres, neste tempo da Quaresma!

O novo ano lectivo começou, há pouco tempo. As despesas escolares com o material escolar necessário receberam uma ajuda preciosa. A senhora D. Leonor, de Luanda, comunicou-nos o seu donativo de quatrocentos mil Kwanzas. Uma maravilha que encheu o nosso coração de alegria, partilhada com a alegria do seu coração, cheio de amor para com os filhos da Casa do Gaiato de Benguela. A empresa Oliveira e Ligeiro tem as portas abertas, com o coração amigo e generoso, para o fornecimento de material escolar. São ajudas preciosas que tornam possível a formação do homem novo, presente em cada um destes filhos abandonados, para a sociedade segura e confiante. Um beijinho para cada um dos corações generosos, presente em cada um dos nossos benfeitores, dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António