BENGUELA

Inquietações

A nossa querida Angola celebrou ontem, a festa do aniversário da sua Independência. Foi em 11 de Novembro de 1975. Passaram 42 anos. A nossa Casa do Gaiato de Benguela nasceu em Janeiro de 1964. Passou e continua a viver estes anos com todo o amor e carinho do nosso povo e seus responsáveis. Sem dúvida, os momentos difíceis e dolorosos que precederam a Independência de Angola, também foram partilhados pela nossa Casa do Gaiato. O desejo mais forte que ocupa o coração da nossa Casa do Gaiato de Benguela, nesta celebração da Independência, é que Angola seja uma autêntica casa de Família para todos os seus filhos. Que todos os membros da sociedade angolana tenham as condições necessárias para uma vida humanamente digna. Quem dera! Este projecto ideal pede um compromisso inadiável dos primeiros responsáveis da nação, neste sentido. Sem a colaboração dos membros mais capazes, as dificuldades aumentam. A celebração desta data muito significativa seja um apelo à colaboração de todos. Há situações muito significativas de abandono social. A miséria é o ambiente desta forma de vida de parte numerosa dos filhos de Angola. Quero lembrar, em primeiro lugar, a multidão de crianças abandonadas. São filhos deixados ao abandono pelos pais, incapazes financeiramente e por falta de dignidade humana. É absolutamente necessário um acompanhamento das entidades responsáveis. Que os causadores destas desgraças sejam chamados e prestem contas. Sem dúvida, a miséria material em que vivem esses núcleos sociais gera o ambiente favorável para estas situações desgraçadas. Da nossa parte, queremos fazer tudo, até ao limite das nossas possibilidades. Há momentos, por exemplo, recebemos o pedido para o acolhimento de dois filhos abandonados, de oito e dez anos. Sem família e sem escola. Que desgraça! O nosso coração acolheu-os com todo o amor e carinho, mas não foi possível, de momento, recebê-los em nossa Casa. Debatemo-nos com um problema aflitivo. Temos um grupo de rapazes que precisam de emprego. Não foi possível, até este momento. Têm idade e capacidade de trabalho para sair da Casa do Gaiato. Não conseguimos o emprego necessário, até este momento. As consequências são dolorosas. Não é possível o acolhimento de novos filhos abandonados. Vamos tentar um caminho eficaz para a solução, com a ajuda das entidades. Deste modo, seria possível o acolhimento dum grupo numeroso de filhos abandonados. Quero partilhar este sofrimento com o vosso coração cheio de amor por nós.

Outro problema social muito grave está relacionado com as famílias que não têm casa para viver. As barracas miseráveis são o seu poiso. Há consequências graves. Muitos doentes batem-nos à porta, a pedir ajuda para consultas médicas e aquisição de medicamentos. Ajudamos sempre, graças ao auxílio que algumas pessoas amigas nos dão para governarmos a vida da nossa Casa do Gaiato de Benguela. Se não tivéssemos estas ajudas não seria possível vivermos, deste modo. Que o Pai do Céu permita que tenham sempre o seu coração disponível para este amor extraordinário. Na celebração da Independência de Angola vamos ter sempre presente este ideal maravilhoso de ajudar todos os seus filhos a viver como numa casa de família, cheia de amor com todos os seus membros. O tempo do calor chegou. A praia é uma atracção, nos tempos livres. Os filhos da nossa Casa do Gaiato querem aproveitar. Hoje, domingo, fomos com o transporte cheio, desde os mais pequeninos, até à praia da Baía Azul. É um momento pleno de alegria. O convívio, na praia, com os filhos e outros membros das famílias estranhas é consolador e cheio de significado. Aparecem como membros normais da sociedade. Deste modo, fazem o seu crescimento até serem homens dignos da convivência humana social comum. O nosso sofrimento nasce da impossibilidade de dar acolhimento a outros que estão abandonados na rua. Não perdemos a esperança de passos em frente, com a ajuda dos nossos amigos benfeitores. Estamos a chegar ao fim do ano lectivo, nos vários níveis escolares, desde a pré-primária, até ao curso secundário. Esta dimensão da vida educativa destes filhos, como de todos os filhos, é de muita responsabilidade e exige muitos cuidados. Nem todos aproveitam como deviam. Esta situação é, também, motivo de sofrimento, como acontece com todos os pais responsáveis. Aguardamos os resultados com muita confiança. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António