BENGUELA
Somos todos irmãos
Devemos amar os nossos irmãos sempre. O amor ao próximo não é algo que se nos imponha como uma lei externa. Não é verdade que todos e cada um de nós necessitamos do amor dos outros? É, sem dúvida, daqui, do amor que recebemos, graças ao qual podemos viver com segurança e felizes que arranca o nosso poder e a nossa fortaleza para amarmos o nosso próximo. É uma ajuda simples e favorável que temos. Trata-se duma disposição interna habitual, contrária ao orgulho e ao egoísmo. Os pais, os adultos, os empresários sejam um verdadeiro modelo para os filhos, os jovens e seus trabalhadores. Há dois dias. um jovem pobre e miserável, viu a porta do nosso refeitório aberta, à hora do almoço e entrou, sentando-se no chão. O nosso rapaz, chefe naquele momento, foi ao seu encontro. Apercebeu-se da situação miserável que tinha diante dos seus olhos. Preparou um prato, cheio da comida que estava na mesa e levou-a para o pobre comer. Foi uma iniciativa pessoal que me encheu de alegria. Este nosso filho mostrou-se sensível, perante a situação de miséria apresentada. É, sem dúvida. uma experiência para a sua vida futura, assim penso. A situação do pobre que nos procura regularmente aconteceu, pouco tempo depois. Foi atendido com todo o carinho.
Temos muito viva a lembrança dos 130 anos que Pai Américo viveu. Sinto muito presente o meu encontro pessoal com ele, dois anos antes da sua morte, na nossa Casa do Gaiato de Paço de Sousa. Foi, na verdade, um momento feliz para ele e para mim. Faltavam-me dois anos para terminar o meu curso de preparação para o sacerdócio. Tinha 21 anos de idade. Sentia, em meu coração, o desejo de ser Padre para as crianças da rua. Fui ao encontro de Pai Américo a partilhar com ele este projecto que o Pai do Céu pôs no meu coração. Foram momentos de alegria mútua. Disse-me que tinha quatro Casas do Gaiato, em Portugal, mas apenas três padres. Havia falta de vocações para doar a vida às crianças da rua. Por isso, acolheu com muita esperança e alegria a proposta do meu coração. O Pai do Céu consumou esta Sua Graça, quando cheguei aos vinte e três anos de vida. Pai Américo tinha partido para o Céu, um ano antes, vítima dum desastre. Esta circunstância do encontro das nossas vidas torna mais presente a pessoa de Pai Américo no meu coração, ao celebrarmos os 130 anos da sua história pessoal. Nesta circunstância actual a Obra da Rua está a viver a ausência dum sacerdote para dar a sua vida aos doentes incuráveis do Calvário, pobres e abandonados. De igual modo, a nossa Casa do Gaiato de Moçambique, em Maputo, não tem sacerdote que dê a sua vida ao serviço dos filhos abandonados. A Ir. Quitéria vai assumindo o papel de mãe e de pai daqueles filhos. Que Pai Américo lembre e peça ao Pai do Céu o dom maravilhoso destes corações de sacerdotes. Com um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.
Padre Manuel António