BENGUELA
Riqueza do verdadeiro amor
A nossa Casa do Gaiato de Benguela recebeu, ontem, sábado, a visita dos alunos e responsáveis do Colégio Pitrucas e do Centro infantil Pitruquinhas. Vieram da cidade do Lobito e de Benguela. Grande parte do dia foi ocupado pelas crianças, seus familiares e outros acompanhantes. O amor foi a força animadora deste encontro. Era a celebração da festa do encerramento do ano lectivo que, em breve, ia acontecer. O programa foi cheio de cantos, danças e outros números, como é normal. Para que esta vinda fosse mais enriquecida, os rapazes mais pequenos da nossa Casa do Gaiato foram convidados. Participaram com a sua presença no momento festivo e, dum modo especial, no almoço que trouxeram já confeccionado. Foi, na verdade, um momento longo, cheio de amor. A convivência fraterna dos filhos da escola com os filhos da nossa Casa foi um dos objectivos desta visita. Cumpriu-se, maravilhosamente, o programa com a doação dalguns bens para nosso benefício comum. Foi, sem dúvida, uma manifestação de carinho do Colégio e do Centro Pitruquinhas, de Benguela e Lobito, É, sem dúvida, muito educativo que as crianças, dos vários níveis de idade, vivam com muita alegria no seio das suas famílias normais e tomem contacto e conheçam que há uma multidão de filhos que, por desgraça, foram abandonados pelos pais. Por isso, o encontro com os filhos que vivem na Casa do Gaiato pode levá-los a amar cada vez mais os seus pais e os filhos que foram abandonados pelos pais. O mais importante é a riqueza do verdadeiro amor que anima estes gestos.
Quando pensamos em fazer um resumo, na busca da descoberta em que consiste a vida verdadeiramente humana, só nos resta uma saída: o Amor. É uma palavra, sem dúvida, cheia de exigências. Mas não caiamos na tentação de deixá-la perder o seu peso, altamente responsável. Que o Amor seja a marca da vida de cada um de nós. Quem dera! Deste modo, teremos um verdadeiro coração de pais, de irmãos, que nos leva até à pessoa que vive abandonada, seja criança, adulta, doente, prostrada. O orgulho dos que se consideram fortes e auto-suficientes deve ficar aniquilado por este mandamento do Amor. Está aqui a cura do nosso grande mal que se chama egoísmo e a fonte da nossa vida verdadeira que se chama Amor. Com muita alegria, há pessoas que, realmente, consideram o Amor aos necessitados como uma verdade na vida que deve tomar-se a sério. Sentem-se fraternalmente unidas com a humanidade. Mais: Onde há caridade e amor, ali está Deus. Que maravilha! Vamos, corajosamente, todos dar um passo em frente! Devemos buscar o amor ao próximo com todas as fibras do nosso ser. A sociedade mais feliz espera pela nossa decisão. Os mais pobres e necessitados, como as crianças abandonadas, estendem a mão, cheia de confiança, ao coração de cada um e cada uma de vós.
Há dias, um dos pequenos filhos da nossa Casa do Gaiato tinha problemas nos olhos. Precisava duma consulta médica. Fomos juntos a um centro médico da especialidade. Como sempre tem acontecido, o acolhimento foi amoroso. Quando me preparava para apresentar o pagamento da consulta, como é normal num centro médico particular, a mão do médico responsável poisou sobre as minhas mãos. Disse: «Não vamos receber dinheiro, pois queremos oferecer este serviço, por amor, aos filhos da Casa do Gaiato». Fiquei com o meu coração comovido e cheio de alegria. Fui comprar, de seguida, o pão à padaria habitual, para comermos à refeição, em nossa Casa, com o dinheiro que era destinado à consulta médica. Estes gestos são a maior riqueza da vida na Casa do Gaiato de Benguela.
Há momentos, em conversa muito animada, com uma pessoa amiga, foi-nos pedida a recepção de duas crianças abandonadas. A resposta não foi alegre e positiva. O problema grande que impede o acolhimento de filhos abandonados, nesta hora, é a falta de emprego para um número considerável de rapazes mais velhos. Estão a ocupar os lugares destes filhos que necessitam de acolhimento. A pessoa amiga deu-nos a promessa de ajudar a resolver esta dificuldade muito grave. Fiz o mesmo apelo numa reunião em que participei, há poucos dias. Continuamos, contudo, a viver com esperança, animados pelo vosso Amor. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa querida Casa do Gaiato de Benguela.
Padre Manuel António