BENGUELA

60 anos de sacerdócio

    Foi há 60 anos! O Sr. D. António Ferreira Gomes, Bispo da Diocese do Porto, Portugal, deu-me o Sacramento da Ordem, pelo qual nasci Sacerdote. Éramos 18 jovens, naquele momento histórico. Numa conversa particular, revelei ao Sr. Bispo o desejo de ser Padre da Obra da Rua. A resposta saiu do seu coração, cheio de alegria, por querer entregar a minha vida de sacerdote às Casas do Gaiato, ao Calvário, ao Património dos Pobres. A experiência deste estilo de vida, ao longo dos anos do Seminário, no acompanhamento das crianças da rua, no período das férias no Seminário, foi o segredo da descoberta deste chamamento do Pai do Céu. Este tesouro, constitutivo da Obra da Rua, foi gerado pelo Pai do Céu no coração de Pai Américo. O Sr. Bispo ficou muito contente. O meu coração também exultou de alegria, porque o destino da minha vida, como Padre diocesano, estava nas suas mãos. O Sr. D. António tinha uma admiração muito grande e um carinho paternal para com a Obra da Rua, porque via nela um sinal admirável do Amor do Pai do Céu e da Igreja para com os mais pobres da sociedade. Este testemunho era impressionante para a sociedade. Por isso, todos os corações que manifestassem o seu desejo de entrar ao serviço deste projecto divino eram acolhidos sempre com muita alegria. O nosso Calvário dos doentes incuráveis abandonados encontra-se, nesta hora, à espera dum sacerdote que esteja disposto a dar a sua vida por amor a esta classe social. A nossa Casa do Gaiato de Maputo, Moçambique, desde que o querido Padre José Maria partiu para a eternidade, aguarda a doação duma vida sacerdotal para servir os filhos abandonados que lá se encontram. A Ir. Quitéria, entretanto, está a dar-lhes o seu coração de mãe, até ao limite das suas forças. É necessário, porém, o coração do pai que está num sacerdote, para se ajudarem. Nesta nossa querida Angola são necessárias mais Casas do Gaiato. Faltam as vocações. Não desanimamos. Vamos continuar à espera, com o coração mergulhado na desgraça social que atinge a multidão de filhos abandonados.

   Entrei neste tema, porque no dia 4 de Agosto, p.p., os filhos desta nossa querida Casa do Gaiato de Benguela, animados pelos corações responsáveis, decidiram celebrar os 60 anos do meu sacerdócio, com a celebração da Santa Missa, em que todos participaram. Foi, sem dúvida, uma hora cheia de felicidade. O jantar festivo foi outro número deste dia excepcional. Os meus primeiros 6 anos de Padre foram vividos na nossa Casa do Gaiato de Paço de Sousa, em Portugal. Foi ali que me encontrei com Pai Américo, dois anos antes da sua morte e da minha Ordenação sacerdotal. Tenho muito vivo este momento feliz do meu encontro com Pai Américo. Ficou muito contente, quando lhe falei do meu desejo de ser Padre da Obra da Rua. Existiam quatro Casas do Gaiato, naquela data. Porém, como só tinha três Padres disponíveis, um deles tinha que assumir a responsabilidade de duas Casas do Gaiato. Por este motivo, Pai Américo revelou-me a sua grande alegria, ao ter conhecimento do meu desejo. Esperava vê-lo na minha Ordenação sacerdotal, mas o Pai do Céu não permitiu. O seu sucessor, o querido Padre Carlos Galamba partilhou comigo a grande alegria. Vivemos juntos na nossa Casa do Gaiato de Paço de Sousa, até ao momento em que o sonho de Pai Américo da fundação das Casas do Gaiato em Angola e Moçambique se concretizou. O Sr. Padre Carlos assumiu este projecto de Pai Américo com o mesmo interesse e amor. Em Novembro de 1963, foram fundadas as Casas do Gaiato, em Angola. O querido Padre Telmo foi escolhido para o nascimento da Casa do Gaiato de Malanje. E eu, Padre Manuel António, fui escolhido para a fundação da Casa do Gaiato de Benguela. Passaram 54 anos. Centenas de filhos abandonados encontraram o espaço físico e humano para se fazerem homens dignos na sociedade. Neste momento, são multidão os que continuam a bater à porta da Casa do Gaiato de Benguela. Não tem sido possível o acolhimento, enquanto não houver empregos para os que já deviam estar a viver a sua autonomia. Continuamos a esperar. Por isso, os filhos desta nossa Casa do Gaiato de Benguela celebraram os 60 anos do meu sacerdócio, nascido em 4 de Agosto de 1957. Foi vivido, durante 6 anos, em Portugal, na Casa do Gaiato e Paço de Sousa; e 54 anos, em Angola, na nossa querida Casa do Gaiato de Benguela.

    Um grupo de 6 jovens, integrados no movimento católico O GRÃO, vindos de Portugal, estão na nossa Casa do Gaiato de Benguela, nesta data. Vieram ajudar, com o seu carinho e dedicação, cerca de dois meses, os 120 filhos residentes nesta família. Como em outros anos, esta presença é fecunda e cheia de alegria. Que os seus corações, neste período de férias, em Portugal, sejam enriquecidos com o contacto vivencial destes filhos de Angola, na Casa do Gaiato de Benguela. Um beijinho para todos vós dos filhos mais pequeninos da nossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António