Benguela 

Momento feliz!

Quando vossos olhos poisarem nestas linhas, a celebração da Festa da Obra da Rua, no dia de Pai Américo, já aconteceu. Foi no dia 16 de Julho corrente. Pai Américo foi para o Céu em 16 de Julho de 1956. Há 61 anos. Este acontecimento está muito vivo em nosso coração. Uma grande multidão do povo que amava muito a sua pessoa, consagrada ao serviço dos filhos abandonados, acompanhou o seu corpo desde a Igreja da Santíssima Trindade, na cidade do Porto, até à Casa do Gaiato de Paço de Sousa. A sua memória está muito viva no meu coração. Pouco tempo antes da sua morte, deu-se o meu encontro com a sua pessoa. Foi um momento muito feliz, vivido em comum, na própria Casa do Gaiato de Paço de Sousa. Senti o chamamento de Deus, em meu coração, para servir os filhos da rua, com a doação total da minha vida. Por este motivo, fui ao encontro de Pai Américo, a fim de partilhar com ele o projecto. Momento feliz! Manifestou a sua grande alegria, porque lhe faltavam sacerdotes para acompanhar uma das Casas do Gaiato, já existente. Este encontro deu-se um ano antes da sua morte e da minha Ordenação sacerdotal. Por isso, no dia 16 de Julho do corrente ano, são celebrados os 61 anos da partida de Pai Américo para o Céu. No dia 4 de Agosto próximo, serão celebrados os 60 anos da minha Ordenação sacerdotal. Por isso, sentimo-nos muito unidos, na hora presente, com toda a Obra da Rua. A nossa Casa do Gaiato de Benguela é umsonho de Pai Américo que não pôde ver realizado, enquanto viveu. O nosso querido Padre Carlos, sucessor de Pai Américo, assumiu este projecto de três Casas do Gaiato para África: Malanje, confiada ao querido Padre Telmo; Benguela, confiada à minha pessoa; Maputo, Moçambique, confiada ao querido Padre José Maria, que já partiu para junto de Pai Américo. Estou a lembrar estes acontecimentos, a propósito da celebração do Dia da Obra da Rua e de Pai Américo, em 16 de Julho corrente. O vosso coração, cheio de amor, estará presente, também.

São necessárias mais Casas do Gaiato, em Angola. São muitos os filhos abandonados que batem frequentemente à nossa porta. É um verdadeiro problema social, cuja raiz está na falta de formação humana e cristã de parte da juventude. O espaço geográfico, em parte significativa, são os bairros mais pobres e miseráveis. Para a realização do projecto de mais Casas do Gaiato são necessárias vocações específicas sacerdotais. Há, contudo, falta desta riqueza espiritual e humana. Falamos, de igual modo, da falta doutro ramo da Obra da Rua, o Calvário para os doentes incuráveis abandonados. Batem à porta dos hospitais. Estes destinam-se para quem tem esperança de cura. E quem é incurável, sem família, para onde vai? Não pode morrer, debaixo das árvores ou dos vãos das escadas. O Calvário foi o ramo maravilhoso da Obra da Rua, criado por Pai Américo, para os doentes incuráveis abandonados. Não houve, até este momento, oportunidade para o seu nascimento, aqui. Nesta data, em que celebramos o dia de Pai Américo e da Obra da Rua, o nosso coração lembra o Calvário. Vamos continuar a caminhar com muita esperança, confiados no amor generoso dos vossos corações que é a fonte indispensável da nossa subsistência material e financeira.

Tivemos a nossa reunião de chefes, nesta manhã de domingo. Um dos temas principais estava relacionado com a preparação festiva da celebração do dia da Obra da Rua e de Pai Américo. Os chefes são uma pedra preciosa do alicerce do edifício humano que é a nossa Casa do Gaiato. A sua segurança está dependente, também, da fidelidade dos chefes aos seus compromissos. Os rapazes que formam esta comunidade, ao jeito duma família muito numerosa, têm nos chefes um suporte necessário para o seu comportamento digno, em ordem à formação dum homem em cada rapaz. «Fazer de cada rapaz um homem», continua a ser o ideal da formação na Casa do Gaiato. Porém, sem a colaboração dos vários sectores da sociedade, a missão da Casa do Gaiato torna-se muito difícil. Estou a referir-me, concretamente, à falta de emprego para os rapazes mais velhos, com a preparação e idade para viver a sua autonomia, fora da Casa do Gaiato. A sua presença na Instituição impede o acolhimento de muitos pedidos de crianças que deviam entrar. É, sem dúvida, um problema aflitivo. Vamos continuar a bater às portas dos vários estabelecimentos e empresas.

Que Pai Américo interceda junto do Pai do Céu pela sua Obra da Rua, cá na terra e por todos os corações que tornam possível a sua sobrevivência económica e financeira, por meio das suas ajudas. Um beijinho para todos vós dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António