BEIRE - Flash's

Hoje, o Calvário subiu de (Apreço)...

1. Quem morre primeiro, nós ou?!… O tempo não dá para tanto. (Nem eu quero que dê…). Não dá para ver tudo o que, pelas redes sociais, chega até nós, vindo de e de… «um milhão de amigos». Como se os amigos das redes sociais pudessem matar esta nossa fome / sede de amigos de peito, tão reais quanto nós… Entretanto, as redes sociais não deixam de ter o seu valor e a sua função de grandes oportunidades1

Se algo vem d'aquela fonte credível, é raro deixar passar. Se não vejo hoje, passo por lá amanhã — porque dali só brota água que mata a sede… Assim foi hoje de manhã, depois do meu tempo de meditação. Era um vídeo Tik Tok, a pôr-nos esta questão: — Quem morre primeiro, o homem ou o mundo ao seu redor? Para ilustrar a tese que quer demonstrar, o filmezinho conta-nos a história pungente de um dos maiores atores de Hollywood — Gene Hackman. Estrela e astro, em mais de 100 filmes — vistos por mais de dois milhões de pessoas no mundo inteiro. «Morreu muito antes do seu coração parar de bater». A 18 de fevereiro, «Gene Hackman morreu na solidão e em sofrimento. Sua esposa, a pianista Betsy Arakawa, 30 anos mais jovem, morrera uma semana antes». Apareceu morta, já em decomposição, no chão da casa de banho. Vítima de hantavirose2.

«Durante sete dias, Gene Hackman vagueou pela casa, talvez sem saber o que estava a passar-se. Talvez a chamar por Betsy. Talvez tendo deixado de comer, de beber. Não se sabe. Nem jamais se saberá porquê. Ninguém viu».

«Sete dias depois, aos 95 anos de idade, com Alzheimer avançado, Gene Hackman também morreu. Sem testemunhas. Ele, um homem visto por mais de dois milhões de pessoas, morreu sozinho — sem que ninguém se apercebesse disso».

Tanto ele como sua esposa só foram encontrados sete dias depois. Ninguém bateu à porta. Ninguém telefonou. Ninguém se preocupou com eles… Embora a sua conta bancária somasse mais de 90 milhões de dólares, não tinham cuidadores nem enfermeiros…

2. Um chazinho para o Diamantino… Com todos estes dados a moer cá por dentro, entro no pavilhão dos doentes. Uma cuidadora de serviço desce com a bandeja do chazinho da manhã. Vai em direção ao corredor da ala A (Américo), onde os quartos do Valdemar e do Diamantino a esperam. A semear o amor que, somado ao «pão nosso de cada dia», alimenta aquelas vidas. Que nunca tiveram «dois milhões de espectadores». Mas têm quem lhes preste atenção… Essa coisa que sempre dá mais vida e vida em abundância a quem dela mais precisa — e que faltou a Gene Hackman e Betsy, naquela hora…

Já na parte da tarde, vejo outra cuidadora de volta do sr. Neca, a meter-lhe o comer na boca e a limpar-lhe a baba… Idem à D. Adelaide — que, em tempos de sua juventude, foi braço direito de Pe. Baptista, no desenrolar da vida aqui no Calvário…

Penso nos «noventa milhões» malbaratados e na arte de os gerir bem — a responder às crescentes necessidades de um Serviço Social, de tal modo organizado que ninguém viva nem morra assim ao abandono — «como um bicho», dizia-se no mundo rural em que nasci e cresci… Porque o dinheiro, só por si, não resolve os problemas sociais. Basta pensar nas trocas e baldrocas dos Presidentes dos EUA e da União Soviética — a tentar levantar a cabeça — para «ver quem manda no mundo à sua volta»…

O caso de Gene Hackman e de Betsy Arakawa somado a tantos outros que a comunicação social vai revelando são prova cabal de que a sonhada irradicação da pobreza (física e moral) está bem longe de acontecer. Mesmo sabendo que é essa pobreza que nem Deus a quer.

3. Chovem os telefonemas para «pai Telmo»… Lembro que já o ano passado registei o facto: no Dia do Pai, os telefonemas para Pe. Telmo começaram muito cedo… Registei que o Adão, o ano passado, foi o primeiro. Ainda ao levantar da cama. Este ano, foi o Lupricínio, antes do pequeno almoço… Dois homens que Pe. Telmo, há 20 / 40 e muitos anos, acolheu, ainda meninos de colo, na Casa do Gaiato de Malanje. Hoje, também dali, desde a vídeo chamada de Pe. Rafael aos rapazes mais velhos que «ele criou», todos se derretem em gestos de ação de graças por esta fecunda paternidade do coração…

Depois, ao princípio da tarde, a Fatinha da Costura quer saber a que horas é a missa, porque «queria ir lá antes dar um beijinho a Pe. Telmo. Hoje é o Dia do Pai e eu devo tanto àquele senhor que também me sinto filha»…

Concluo, muito convictamente: A aposta não pode fazer-se na conta bancária, onde a traça e os ladrões (Mt 6:19-21).

A aposta tem de ser feita nas relações humanas (relações divinas!…). Essas que respondem à aspiração mais profunda do nosso ser — poder ser si próprio numa relação de reciprocidade de comunhão amorosa.

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1 — Gosto daquela ideia de que «o maior pecado é perder aquela oportunidade» em que «a voz de Deus» tentou fazer-se ouvir…

2 — Doença dos ratos… Coisa que pode apanhar-se quando esses roedores passam a infetar o nosso habitat — como parece ter acontecido ali, onde um dos 3 cães do casal também já estava morto de fome e em decomposição….

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]