BEIRE - Flash's

"Vimos cantar as Janeiras"...

1. Todo o tempo é tempo de amar… Último domingo de janeiro. O grupo tinha andado por aí a levar alegria e boa disposição pelas terras à beira, onde sabiam ser bem vindos… Pe. Alfredo aceitou a oferta (somos da família…) e também vieram cá. Com lanche para todos — os que fizeram a festa e nós que a acolhemos… Ouço a Lala: — Temos saído todos os domingos — a Paço de Sousa, a Penafiel, a Cete. As pessoas ainda gostam disto…

A Associação dos Antigos Gaiatos, desde há 16 anos que faz questão de honrar a Casa que lhe deu origem — Casa do Gaiato de Paço de Sousa. E, sempre que é preciso, eles aí estão para colaborar — magustos, almoço de Natal, aniversários do nascimento e da morte de Pai Américo, cantar os Reis e as Janeiras…

Repetimos, a torto e a direito, que «a tradição já não é o que era». Pois! Se fosse, podia ser atavismo ao passado — portas e janelas fechadas ao futuro. Que sempre nos chama para «mais vida e vida em abundância». Mas há valores que urge salvaguardar. Por isso nos soube tão bem aquela novidade, naquele domingo 26.01.25, no meio daquela chuva toda. Foi um «quebrar a monotonia» nestas vidas condenadas a viver aqui com suas próprias limitações. Era o despedir-se do tempo de "Cantar as Janeiras"… Pe. Alfredo, com pluma de mestre, já fez relato no n.º anterior deste Jornal.

Destacamos momentos vivos da intervenção daquele grupo. Acabado o reportório para aquele dia, foram desafiando os presentes a cantarem com eles e/ou a propor as suas cantigas. D. Joaquina, essa nossa doente que vive já fora deste mundo, foi a primeira a sair à liça: — Ó rama, ó que linda rama… E logo o Zé Sem Nome propõe: — Ó malhão, malhão… Delicio-me a saborear as expressões de cada um@. A Luisinha, mesmo com suas mãos / braços tortinhos de todo, acerta o ritmo e desfaz-se em sorrisos/carinhas de paraíso.. E até o Sr. Neca, habitualmente, já do outro lado do mundo, parece descer cá mais a baixo para, mesmo só com os lábios e os olhos, dizer-nos que está na festa — e a gostar…

2. Não podemos deixar estancar a fonte…Sempre que me vejo em ambientes tais, 'ouço' aquele alerta de Pai Américo. Era o final de uma voltinha pela Rua das Flores — a recolher «mundos e fundos» para os seus filhos da rua. Traz uma «mão cheia de notas do Banco de Portugal» e, ao mostrar-se admirado com tanta generosidade, por parte de quem vive do seu trabalho — Deus sabe com que sacrifício — ainda ouve: — Isto tá difícil; noutro tempo, levava isso e mais uma camioneta carregada de…

Relatando-nos essa experiência, terminava com esta: — Não podemos deixar estancar a fonte… Penso no dever de fazermos tais visitas; no dever de incentivar a dádiva — recoveiros dos pobres; na necessidade de testemunhar a Fé que nos impele a servir os mais necessitados. Que precisam tanto de uns momentos de alegria como de pãozinho para a boca. É que não podemos esquecer o que as ciências do homem nos vão revelando: «Cada ser humano, para viver minimamente equilibrado, precisa de uma média de três horas por dia de atenção»…

3. … —Pois! Para mim, é uma honraD. Bárbara é uma das nossas residentes «com seu quê de especial». Antes de vir para aqui, lá na terra, ela já era simplesmente «a irmã da Irmã»… Agora estão as duas connosco — e a irmã dela é a nossa Ir. Laíde. Uma consagrada, na «Ordem das Virgens». De quem aqui já vos tenho falado. Porque, de sua natureza, é uma «animadora paroquial e grupal». Se a querem ver feliz é dar-lhe um grupinho em que ela possa pôr todos a mexer… E se der para pôr todos a cantar, a tocar e a dançar — melhor ainda.

Quando chegaram, já Pe. Fernando, em boa hora, tinha introduzido o costume de rezarmos as Horas Litúrgicas, em Comunidade — pró eclesiástica!… A princípio, na salinha dos «senhores padres», eram só os homens (vimos de uma sociedade machista…).Com Pe. Alfredo, mudamos de poiso e entra a Ir. Laíde. E logo D. Bárbara e/ou voluntári@s que nos visitem e queram rezar connosco…

Desde há muito que registei que «o rezar e o rir juntos cria laços de comunidade». Obrigado, Pe. Fernando e Pe. Alfredo. Sempre que não estou nesse ato da Comunidade, sinto a falta.

As «novas tecnologias» vão arrumando até com os breviários — um elemento que a nossa cultura judaico cristã nos habituou a ver como o livro dos padres… Hoje, qualquer tlm com alguma «classe» já tem uma aplicação que dá pelo nome de Breviary — onde podemos encontrar tudo o que diz respeito a Breviário, Missal, Leituras, … D. Bárbara já não chega a tanto. Encosta-se por isso a ver no tlm de quem sabe. Assim, oscila entre o apoio de Pe. Alfredo (uma bênção para os desprotegidos) ou a mim — nascido para aprender a estar com quem mais precisa…

De cada vez que me calha apoiar D. Bárbara, no final da oração, sempre ouço um «muito obrigado» a esguichar ternura por eu ter estado com ela. Deixo escapar o clássico «ora essa, de nada»… Ela puxa-me o braço e explica, uma e outra vez: — Para mim, deixarem-me rezar convosco dá-me muita alegria. Sinto-me honrada com isso…

Ai o que nós perdemos quando não teimamos em aprender a estar com quem mais precisa!… Por sermos humanos (feitos para a comuni(nh)ão!) todos desejamos / precisamos sentir-nos aceites e acolhidos…

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]