BEIRE - Flash's

Testemunhos de sinODAlidade(1)

1. «Um canteirinho d'outro aroma»… Porque «o sol não para de andar», os anos de Pe. Telmo também não param de somar, somar, somar… Até já cheira a 100! — gosto de brincar com ele. E, porque, no seu dizer-se, «são tantos que até já lhes perdi a conta», cada vez é mais difícil arrancar-lhe a sua cronicazinha SINAIS.

Porque tínhamos a nossa "Festa do Coliseu" na 2ª feira e, na terça de manhã, os senhores Padres tinham de arrancar cedo para Fátima(2), comecei a andar de volta dele a tempo e horas. Mas só lhe ouvia isto: — Não sai nada. Peça ao Régua uma dispensa…

Ao enviar os meus Flahs's de Beire, dei o recado. De volta, recebo isto: «… o pedacinho dele (Pe. Telmo) é sempre um canteirinho d'outro aroma. / São flores sempre viçosas. / Não há dispensa. / Abraço-VOS». E, já na 3ª de manhã, ainda nada de SINAIS… Porque Pe. Quim estava ali ao pé: — O culpado foi o Pe. Quim; pôs-se aqui a conversar comigo e não me deixou trabalhar…

Acho a resposta do Régua um doce de ternura e de poesia. Copio, multiplico por quatro e, antes que se fossem embora, dei uma cópia a cada um dos quatro Padres da Rua que, manhã cedo, abalaram para Fátima — Pe. Telmo, Pe. Alfredo, Pe. Rafael e Pe. Quim.

O recado caiu. E, em particular, para Pe. Rafael — a batata quente está na sua mão, veja se lhe arranca uma cronicazinha

Já com a promessa de que ele vai escrevê-la, ainda hoje, e já lha encaminho, dei comigo a esfuziar-me de esperança: afinal, isto é que é sinodalidade — todos a remar para o mesmo porto de abrigo...

2. — … Ó fulano, anda cá pa fazer a barba!... Já vos falei d'o Pomba. Na multiplicidade dos seus contrastes e imprevisibilidade de suas reações (do melhor e do pior), não encontro «caixa» onde ele me caiba. É mesmo um rapaz fora da caixa

A Festa do Coliseu à porta, Mário sempre numa roda viva, e os voluntários Luís Amaral e Pacheco, desta feita, não puderam aparecer. No ar, a preocupação do arranjo dos rapazes. A roupa está a cargo da Fatinha — eles são os meus filhos; gosto de os trazer arranjadinhos… Os banhos, os cabelos e as barbas, isso já é outro campeonato — não têm preço certo… E é neste ambiente de busca de uma saída airosa que eu oiço a insistente voz d'o Pomba, a berrar lá do outro lado.

— Ó fulano, ó fulano, tás a ouvir?! Ó fulano... No seu andar arrastado, sempre de olho atento a ver se aparece um cibinho de qualquer coisa que se meta na boca, aparece o Paulo Sérgio, como seu inconfundível aahnn, aahnn, tou aqui...

— Anda fazer a barba… Assim já ficas arrumado. Depois chamo o Carocha…

Carlitos, Paulo Sérgio e Carocha são os nossos rapazes que nem para fazer a barba gozam de autonomia. Já vos brindei com uma nota e uma foto do Nana a fazer a barba ao Carlitos, …

Fico-me a ruminar: — quem deu a estes doentes a formação para a sinodalidade?!... Constato: Quem recebe formação, geralmente, não faz grande uso dela — continua grudado aos seus hábitos ancestrais… Quem a não recebe, em momentos de verdade consigo mesmo, arranca e faz mesmo. E faz bem!

Não posso pôr em dúvida de que «a alma é sempre perfeita». Revela-se, mesmo através de um corpo/mente maltratados. O problema é criar-lhe ambiente em que a verdade possa saltar-lhes para fora…

3. — … Ná problema, eu vou ter ao Hospital... Volto ao voluntariado. À reflexão(3) que isso merece a quem se dedica a estas causas — que são «causas de Deus» e «causas dos homens, por Ele amados». Tal como as palavras pessoa e ajuda, também a palavra voluntário esconde conceitos que, periodicamente, precisam de ser revisitados. Sob pena de cristalizarem em moldes já fora da realidade. Acabo de saber de um caso. Aconteceu na Galiza. Mas acordou em mim cenas vivenciadas já comigo aqui no Calvário.

Naquela família, é ela a colaboradora doméstica. (Agora, é assim que se deve dizer…) Da confiança da casa. Alguém precisou ser acompanhado às urgências e mais ninguém estava disponível. — Eu vou lá, eu vou lá… E assim foi. Mas a coisa demorou e entrou em horário pós-laboral… Quando veio a conta das horas extra da colaboradora, a família ficou de gatas

Recordo experiências vivenciadas aqui. Foi preciso levar alguém ao hospital — Porto, Paredes, Penafiel, … — Telefone a Fulana, a ver se ela pode…

Sim, ná problema, eu vou ter ao Hospital. E tudo se resolveu a contento da lei. Mas também experimentei o eu vou lá da colaboradora que, depois, exigia os meus direitinhos — até ao último cêntimo…

Sinodalidade! Que sabedoria ainda a descobrir…

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1 — Porque o processo aprender é lento e demorado… Odos é uma palavra grega que significa caminho. O nosso êxodo rural diz que "deixam o caminho do campo e buscam o caminho da cidade"…

2 — Fiéis a uma tradição que já vem de Pai Américo, os Padres da Rua, variando de Casa para Casa, reúnem mensalmente — a timonar as necessárias correções de rota. Desta feita, porque se trata de eleição de um Novo Diretor, foram acolher-se sob o manto da Mãe do Céu…

3 — Refletir quer dizer debruçar-se (fletir-se!) sobre determinada situação — res / re… — para, analisando-a bem, como merece, possamos agir e atuar atempada e adequadamente.

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]