BEIRE — Flash's

A Memória do nossos que…

1. Aquele "fazei ISTO em minha memória"... Encanta-me "estudar os" e "estudar-me nos" Evangelhos. Então a "instituição" d'aquela Memória(Eucaristia) desborda-me!... Aquele "fazei ISTO em memória de mim" (Lc 22, 19) sempre me encantou e questionou. É aí, nos Evangelhos, que eu vou aprendendo a escutar e a auscultar a "Boa Nova da salvação". Essa que foi/é anunciada aos que estão de baixa... Porque debaixo de alguma de+pressão e/ou alguma o+pressão. "Boa Nova da salvação" para aqueles que estão pressionados e sem esperança de uma porta de saída. Porque pobres e privados do uso da sua d'IGNI+dade de seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus! E, por isso, se sentem morrer de sufoco. Sem "um sentido para a vida". Sem vislumbres de "salvação" possível. Sem direito a saborear o Banquete prometido, a Festa desta Vida, que se vive neste mundo e se prolonga, depois, em vida eterna (Mt 13, 18-23).

Aquela "final" de Jesus de Nazaré, "o filho do carpinteiro" (Mt 13, 54-58), numa Última Ceia com os amigos, estonteia-me. Fervilha em mim, cada vez que dela faço "memória". Porque é aqui que Ele, o Mestre, mostra os seus "últimos trunfos" e nos revela todo o seu verdadeiro "jogo da salvação" - tornar-se "servidor" até ao dar a vida pelos seus amigos... (Jo 15, 13).

Vejo Pai Américo. Uma história de DES+cobertas1. Às vezes bem duras de roer. Um "nem quero acreditar"... Até à "martelada" que o fez deixar Moçambique onde, aos olhos do mundo, a vida lhe sorria. A "martelada" fá-lo "a+cor+dar". Dar o coração Àquele que, no seu inconfundível jeito de dizer, "quando se fez Homem, pisou a terra com o coração". É essa martelada que o faz "converter-se" ao mundo a que Deus o chamava e fugir do mundo que o abafava... A partir daí, como que passa a ter já uma intuição mais clara d'aquilo que Deus lhe pede. Do como Deus quer que viva naquele Portugal das décadas de 40 e 50, do século que lhe calhava em sorte.

O Cândido Pereira, o Avelino e o... e o... Estava ao lado de P.e Telmo quando o Júlio Silva ligou a dar-lhe a notícia - o nosso Cândido Pereira acaba de partir. Percebi que Júlio ajudava P.e Telmo a trazer à memória pedaços de vida que também acordavam em mim. Convivi com o Cândido nos primeiros anos da década de 60, em que, com a ajuda da Obra da Rua, eu ensaiava, em novos moldes, a DES+coberta do que "Deus queria para mim". Ai quantos nomes da Obra da Rua ali me foram aparecendo, em doces memórias do coração. Que tanto e tão bem me "marcaram" (e me martelaram!...) ao longo de mais de cinquenta anos em que, praticamente, vivi fora das saias da mãe - as Casas do Gaiato. De que também me sinto filho. Recordo: P.e Carlos e a ajuda que foi para mim na decisão de deixar Singeverga; P.e Manuel António, acabado de chegar à Obra para nela/dela viver até ao fim - já no Calvário e a meu lado; o grande e inesquecível Júlio Mendes. Recordo o estremeção que senti quando, no cemitério de Paço de Sousa, ao lado onde estivera Pai Américo, deparei com aquele sorriso que lhe era tão peculiar. A dor de não nos termos dado a mão até mais tarde - quando a vida já nos chamava para "o Além" que a todos espera. Entretanto, aparece o Miguel, presidente da AAGF, a pedir a P.e Telmo um "prefácio" para o segundo volume do livro Esses caminhos que andamos... E, já em despedida, vira-se para mim: - Aqui, esta "mão direita", também podia... Não falei ao Elísio, mas... Fico a ruminar estes flash"s e sinto-me entrar em gestação desta "crónica de memórias" que estás a comungar comigo. Deus louvado!

2. Desde o Quénia, Goa, (...) até ao Calvário. Deparo-me com um e-mail desconhecido. De alguém que me trata como já bem conhecido. Leio: "Estou no funeral da Lúcia de Souza, uma indiana invisual que foi recolhida pelo Padre Baptista, nas ruas de Lisboa. Viveu muitos anos no Calvário onde tanto se entregou. (...).Faleceu no lar das Irmãzinhas dos Pobres, no Pinheiro Manso, Porto. Gostaria que desse a notícia, se possível, a todos quantos a conheceram". Indaguei "memórias" guardadas e, em apontamentos de P.e Baptista, encontro: «Nascida em Nairobi - Quénia - onde viviam os pais, voltou para Goa, de onde se sentia "natural". Veio para Lisboa e casou em Setúbal. Divorciou-se e voltou para Lisboa vivendo pobremente e só. Trabalhou, mas do trabalho resultou cegueira quase total de que sofre. Um rapaz viúvo prendeu-se a ela e trouxe-a para Duas Igrejas, Paredes. Dominado pela droga, fez-lhe a vida bem negra, roubando-lhe a pensão que ia recebendo. Veio para o Calvário por vontade própria».

Pedi ao e-mail que me falasse dessa indiana, de que P.e Baptista também já me tinha falado. O que recebi de volta já não cabe aqui. Mas bem merece que no pf nº 2011 deste Famoso, partilhe o relato dessa experiência de contacto com este Calvário, arrastada por esta indiana que, «mal sentia o Padre Baptista aproximar-se, via o sol». E que «sabia o nome de todos e as "manhas" de cada um e, em silêncio, amava-os».

1 - Uma DES+coberta é um retirar, afastar as "vendas" / as "cobertas" que escondem "a verdade"...

Um admirador