BEIRE - Flash's

Voluntários - imaginação ao poder...

1. Voluntários, abóboras e... Todos os anos tenho vivido as 'dores' das nossas abóboras, nossos chuchus, castanhas, alhos, cebolas e, e, e... Tive a felicidade de ser educado na devoção à Santa Pobreza. Ela nos ensinava que 'não se pode deixar perder nada', porque 'por esse mundo fora, há muita gente a passar fome'... Se um simples bocadinho de pão nos caía ao chão, corríamos a apanhá-lo e logo o beijávamos antes o meter à boca. (In illo tempore, as pandemonias eram outras...). E mais nos ensinava a Santa Pobreza: - Se não serve para a gente, os animais aproveitam tudo; é pecado botar fora, é pecado estragar...

Porque 'habituei o meu coração a encontrar prazer no cumprimento de todos estes mandamentos (Sl 119, 112), falava de minhas dores de 'ver as coisas a estragar-se'. Partilhava o impacto que sobre mim teve e ainda tem aquela palavra de Pai Américo: - Não podemos deixar estancar a fonte, a propósito da nossa missão de manter abertos todos os canais de um 'recoveiro', como a Obra da Rua o é. Em sua doce missão de limpar as minas para deixar a água correr... Criar oportunidades que acordem nos nossos leitores e amigos essas fomes de dar com que todos nascemos. Porque 'revestidos' pela Bondade do Deus do Universo, neste universo de Deus. Compete-nos recolher as migalhinhas que nos dão para reparti-las pelos que de nós precisam.

A pouco e pouco foi-se-me fazendo luz. Falava da 'falta de uma mãe' e ninguém me entendia. Ouvia dizerem-me que já tenho 'uma mentalidade de antigamente' e que 'as mentalidades agora são outras'... Certo. Mas esta minha persistente vocação de Aprendiz de Vivente não me larga e eu acabei por descobrir. Realmente, o pessoal assalariado não chega mesmo para estas minhas devoções à Santa Pobreza... Numa 'mentalidade de César', tudo tem o seu preço e é pago à hora. Mas ele há serviços que não têm preço e não podem entrar nos horários de nenhum pessoal assalariado. Seria um péssimo investimento - aos olhos de César e até aos olhos de Deus. Entretanto, de tão importantes que são aos olhos de Deus - de onde brota a Fonte que não podemos deixar estancar - os serviços que são o culto da Santa Pobreza não podem menosprezar-se. Porque os direitos 'de César' não podem negar os direitos 'de Deus' e vice-versa. Esta 'verdade divina' pede e exige a nobre arte do diálogo(1) - ciência, técnica e arte de 'dar o seu a seu dono' (Mc 12, 13-17). São os caminhos do Reino que já no meio de nós (Lc 17, 20-25). É por aqui que ando à procura e já muito tenho encontrado.

Primeiro, passei a ir roubando tempo a outras coisas para, eu mesmo, passar horas e horas, na casa da hortaliça, a arranjar abóboras, chuchus, cebolas, tomates, alhos, kiwis, (...), que gritam desesperados: - ... ou me aproveitais já ou eu me estrago mesmo de vez... O silêncio daquela dinâmica dialogante, entre mim e essas 'dádivas de Deus', tem sido uma fonte de novas descobertas. De mim e da tal Fonte que 'não podemos deixar estancar'. - Ah, o senhor tem mesmo jeito... Vou contratá-lo para... Em pé de conversa, vou dizendo do meu sonho louco - a tal 'mãe' que, dizem, 'já não há'... Em cada dia que passa, há mais uma boa nova que chega. - Qué qu'eu ajude a descascar?!... Logo à tarde eu boto-lhe aí uma mãozinha. São as doentes, são os rapazes, são os/as voluntários/as. Tudo gente muito rica, capaz de dar sem estar à espera...

Respeitadas as leis do travão à pandemia, as 'mães' vão chegando. Aos pouquinhos. De dentro e de fora. São as 'mães' adormecidas no coração de cada homem e/ou mulher que vem a este mundo. Criados à imagem e semelhança de Deus, que é Abba - Pai/Mãe, em Quem todos somos e vivemos...

2. A internet pode dar uma ajudinha... Porque sei de suas origens de filha da Santa Pobreza, liguei-lhe a pedir ajuda. - Já não sei o que fazer a tantas abóboras, tantos chuchus, castanhas... Tenho pena de botar fora e as arcas já estão cheias... Ouvi sugestões, sobe de práticas de antigamente, esperei consultas da net, pedi que me fizessem contas de gastos e de receitas... Mais luz. De fontes que ainda não estancaram, já vieram duas arcas. Porque o que se gasta em todo o ano escusa de ser comprado em grande parte do ano, se tivermos onde guardar e 'mães' a aproveitar e preparar...

3. A 'formação' não se pode dar, mas... O voluntariado, como 'fenómeno humano' cada vez mais reconhecido, aceite, cultivado e, sobretudo, preparado e bem organizado, encanta-me. Mesmo tomando consciência que, desde há muito, já estou fora de prazo, ainda dou comigo a sonhar... E a gostar de partilhar convosco os meus sonhos. De um Calvário RE+novado, mas fiel àquela palavra tirada do Evangelho que impeliu Pai Américo e, logo P.e Baptista. Sonhos de um voluntariado que se sente em PRO+cesso de formação e renovação contínua.

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1 - O dia+LOGO é um espaço de silêncio para ouvir a voz do LOGOS (a 'Palavra'!) que 'Se fez / FAZ carne' e 'monta a Sua tenda' entre NÓS - filhos de César e de filhos de Deus/Abba, Pai-Mãe.

Um admirador