BEIRE

Ecos de um aniversário

AS "CARAS" da MINHA (NOSSA!) REALIDADE. Para buscar os meus "momentos de silêncio e quietude", de que Jesus nunca prescindia, refugio-me muitas vezes na mata de fora. Ali de frente ao nosso "campo santo" - onde "vivem" aqueles tão nossos que o coração não deixa morrer. Tenho lá um lugar bonito para meditar. Contemplar. ESTAR-COM migo, com os outros, com a vida, com o mundo e com Deus - naquele meu jeito gostoso em que O vou entendendo... Preciso muito de um tempo assim, privilegiado, para me reconciliar com esta minha RE+alidade, nestas suas cinco dimensões - eu, tu, a vida que nos UNE, o mundo em que ela decorre e o meu "Deus do UNI+verso" neste universo de Deus...

O NOSSO JORNAL AINDA ME TOCA... Tinha ali à mão o último jornal d'O Gaiato - n.º 1904, de 04.03.17. Um número de Aniversário. Achei piada à crónica de P.e Telmo, como artigo de fundo - «Querido Gaiato, fazes anos, parabéns!» Aquele final, de solidariedade com o nosso P.e Baptista, fala-me da caridade paulina - primeiro os domésticos da Fé... Que bom encontrar-me assim entre gente que sabe que "o amor pode torna-se efectivo, mas só para aqueles que cuidam dele"...

Leio depois as crónicas de P.e Júlio e P.e Acílio. Acordando doces memórias do coração, cada um de seu jeito, a E+VOCAR (chamaraquialguém que já d'aquipartiu...) o nosso P.e Zé Maria.Mais uma vez me sinto visitado por aquela desagradável sensação do menino que chora porque perdeu o brinquedo a que, tão poucas vezes, ligava assim tanta importância... Conhecemo-nos muito cedo - ele já padre, mas ainda aprendiz de Padre da Rua. Eu andava por ali a ensaiar meus caminhos não andados, mas que já estavam à minha espera. Agora, ao contemplar os rastos que deixou - na Obra da Rua e no coração daqueles com quem mais lidou - e no coração daqueles com quem mais lidou - sinto pena de o não ter aproveitado mais. Estranho este mistério das minhas RE+lações. E que bonito aquilo que neste n.º d' O Gaiato nos é reveladodesse grande homem de Deus. Que grandeza de alma a deste Padre da Rua que comigo privava naqueletempo!!!

A "COLABORAÇÃO DOS LEITORES". Abro as páginas centrais. Que maravilha ver como e a quantas vidas (de leigos e de sacerdotes) este 

Famoso tem alimentado ao longo de tantos anos.
Tocam-me particularmente aquelas vidas que, ainda na adolescência/juventude, começaram a lê-lo e hoje, já nos seus 80/90 e tais anos, ainda se sentem seduzidos.E de que maneira. Olhem esta: "Venho renovar a assinatura do  Actos dos Apóstolos dos nossos dias".Ou: "A Casa do Gaiato está no meu coração. Se eu tivesse menos 15 anos, queria ir trabalhar para a vossa Casa, fazendo o que fosse preciso". Aquele Galileu, lá d'aquele tempo, acusado de "sedutor do povo", ainda continua a fazer das Suas... Ainda seduz. Até pelas páginas do nosso Famoso escritas com o suor do rosto de quem a Ele se dedica - a humanizar os Seus irmãos mais esquecidos. Porque vistos e avaliados à luz de uma técnica sem misericórdia - nova forma de tirania... Ai que saudades da minha adolescência/juventude em que, aprendiz de beneditino, todo me ardia o coração ao ler Pai Américo - n'O Gaiato e/ou nos seus livros. Porque ele ainda era parente de D. Gabriel de Sousa, então Abade do Mosteiro Beneditino de Singeverga,
O Gaiato tinha honras de "leitura do refeitório" - no Colégio dos Oblatos e na Comunidade Monástica.
Em mim despertava-se-me já aquele sonho de Luther King: ... ver todos os filhos de Deus julgados pela sua  d'IGNI+dade e não pela cor da pele, estrato social em que se nasce e/ou pela  inteligência que se mostra...Como se o homem valesse o que vale a sua cor, a sua conta bancário ou a sua elite intelectual. Ali, entre aqueles meus 12 e os 22 anos, aprendi que "um homem só vale o que vale o seu coração". Esse que mata a gente...

Encantava-me aquela leitura d'O Gaiato, no refeitório. Quantas vezes, de enternecido, ia depois buscar o jornal para, a sós no quarto ruminar aquelas passagens que mais me tocavam.Copiei páginas e páginas. Decorei frases e frases. E com que gosto, depois já como formador, citava textos de Pai Américo, que conhecia bem de cor! Hoje, já nos meus 80 anos, ainda é assim. Aquele sedutor ainda continua a fazer das Suas...  Servindo-se dos que O seguem, sobretudo no serviço aos últimos dos últimos.

OLHAR PARA TRÁS, AGORA QUE... Sabe-me bem olhar hoje estes 68 anos em que, pela primeira vez, comecei a ouvir falar d'O Gaiato e a saborear as suas páginas. Com que ternura recordo crónicas de P.e Horácio, P.e Baptista, P.e Acílio. E que bem me fizeram. Me foram bálsamo em momentos duros que a vida quis pedir-me. Aquele estilo, à Pai Américo, marcou as minhas aspirações literárias...Eram os meus 12 anitos, saídos do campo, mas já sonhadores, de quem se sente "Filho de Deus"... Mesmo sem perceber ainda toda a grandeza desta realidade. Isso de que Martin Büber (o filósofo judeu que tanto trabalhou por nos mostrar a grandeza do "NÓS" por oposição à pobreza do "tu" e do "eu") gostava de dizer: "A maior desgraça que pode acontecer a uma pessoa é esquecer-se que é filha de um rei"... 

Um Admirador