
BEIRE - Flash's
Um Culto, um Cultivo, uma Cultura...
Pode parecer um brincar com as palavras. Pode. Mas não é. É uma tentativa de perfurar a realidade cultural em que se vive. Neste caso concreto, a cultura do Dia dos Anos. Aqui no caso do Calvário, acho interessante o que está a acontecer — celebrar condignamente o Dia dos Anos de cada um daqueles que fazem parte desta Família do Coração. Os voluntários incluídos.Porque queremos ser uma Família do Coração. E de Fé. Sempre em renovada comstrução.
Insisto no com, porque isto vem sendo um trabalho de equipa que já vem de trás e se vai adensando, graças ao peculiar apoio encontrado em Pe. Alfredo — timoneiro desta barca neste mar encapelado…
1. A NATIVIDADE de Nossa Senhora. Gosto de olhar, pensar e sentir a vida como uma grande festa. Uma festa que, também eu preciso fazer acontecer. Ando por aqui há já tantos anos e ainda não me tinha dado conta de que, também nós os crentes, temos um Dia dos Anos da nossa Mãe do Céu. Hoje, 08.09.25, veiculado pelos 101 anos da D. Esmeralda e os 58 da Tinita, deixei-me cair na conta. E, até as minha entranhas, todas se regozijavam, à medida que eu me deixava interiorizar pela sabedoria do Povo de Deus. Uma sabedoria que, tantas vezes, se manifesta por detrás de uma «fé de carvoeiro»…
Gostei, por exemplo, de saber que este Dia dos Anos de Nossa Senhora (08 de setembro) foi uma escolha simbólica, marcando os nove meses que se seguem à Solenidade da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro. E também gostei de saber que «a Festa dos Anos da nossa Mãe do Céu» é uma das celebrações marianas mais antigas da Igreja, com origens no Oriente, ligada à dedicação de uma igreja no local da casa de S. Joaquim e Sta. Ana, pais de Maria, em Jerusalém, no século IV. Curioso é que, mesmo sem saber datas certas(1), esse Povo de Deus (a comunidade dos crentes) começou a buscar um Dia dos Anos dessa «Privilegiada Mulher a quem Deus escolheu para ser a Mãe de Deus Encarnado». Encanta-me esta imaginação posta assim ao serviço do Culto a Nossa Senhora. Gosto de percorrer o cultivo desta devoção ao longo da História da Igreja. Por exemplo, este estender-se desde o Oriente para o Ocidente, até cobrir o mundo inteiro, inserindo-se nas diferentes culturas, mas sem perder a revelação(2) inicial, que se vai veiculando nesta cultura mariana. É uma forma de reverência pela mulher, encarada porque encarnada, na sua tríplice dimensão de mulher virgem, mulher esposa e mulher mãe. E 'isso' nós o eternizamos no culto a Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja.
2. A «festa» sempre pode acontecer… Ainda lembro de, já homem feito, me empolgar todo com as «Músicas de Intervenção» que acompanharam o eclodir do 25 de Abril. Aquela insistência no «é preciso fazer acontecer» tocava-me e despertava em mim uma energia e esperança necessárias para o meu encetar «caminhos não andados que esperam por alguém». Ainda hoje me sinto nessa missão — «caminhar os caminhos (sobretudo os) ainda não andados» mas que, desde há muito, estão «à espera de alguém»...
Agora, «por razões que a razão desconhece», ainda estou no Calvário. Mas já a fazer nada… E lembro aquela de Tagore: «O mal deste mundo moderno é que deixou de ter tempo para estarmos juntos a conversar de nada». E ainda uma outra de minha filha, muito novita, depois da mãe morrer, num dia em que estávamos só os dois diante da televisão, num tempo em que eu corria de um lado para outro para segurar a barca: — Ai, papá, já tinha saudades de estar assim contigo em casa, a falar de nada…
O Calvário, nascido de uma inspiração(3) de Pai Américo e levantado pela dedicação de Pe. Baptista, é chamado a ser «uma palavra tirada do Evangelho» (palavra nova). Ontem, hoje e amanhã. Testemunhou sê-lo num tempo em que a Segurança Social era zero. Os tempos mudaram — porque «este mundo é feito de mudança»… Estamos de pé já a passar dos 70 anos… Hoje temos já uma Segurança Social. Mas ainda não chegamos àquele sonho que Pai Américo deixou exarado nas páginas d'O Barredo — não precisarmos mais nem de Casas do Gaiato nem de Calvário(s). Ele intuía que «toda a Ação Social ou é também Ação Teologal ou já não é Ação Social nenhuma». Nós estamos, assim, constituídos em nosso próprio desafio — nós as IPSS (de iniciativa particular) e as ERPI (de iniciativa estatal). A umas e a outras compete, agora, descobrir o como fazer para que esta «palavra nova» não caia na «vulgaridade das obras semelhantes». Este é o grande desafio que se coloca a quem trabalha nestas áreas do lidar com os mais frágeis…
E recordo ensinamentos que me propus à medida que ia tomando consciência desta «terra sagrada» que me propunha pisar — há que, periodicamente, rever os nossos conceitos de 'ajuda' e de 'pessoa'…
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1. Naquele tempo, naquela cultura, as mulheres «não eram gente que contasse… As mulheres e as crianças são resgatadas pela Boa Nova de Jesus… Havia, pois, que honrar a Sua Mãe!
2. Como a própria palavra indica, revelar é «acender uma vela» que faz luz sobre um determinado «mistério da nossa Fé».
3. Inspiração é a 'ação' do 'espirito' de Deus em nós, a chamar-nos para algo do Bem Comum…
Um admirador
[Escreve segundo o acordo ortográfico]