BEIRE - Flash's

Do «social» ao «teologal» e...

É como se me fosse já um «companheiro fiel» — dorme comigo e tudo… Volta e meia lá estamos «nós-ambos-os-dois» a com+versar… Conscientes de que isso é uma «utopia», mas ainda crentes e esperançados de que «quando Deus quer e o homem sonha (o que Deus quer…), a obra nasce»(1)… Claro que nenhum de «nós-ambos-os-dois» esquece que, por detrás de uma «utopia» (de Deus — como essa d'O Reino dos Céus!…), está a convicção(2) de que «a utopia é a verdade do amanhã». Porque, tal como «o Reino dos Céus já está no meio de nós» (Lc 17, 20-21), assim também, dentro do coração do homem, já vive a esperança de que «um novo dia vai nascer»…

1. A chama da "festa" que chama… Estou de volta dos meus quefazeres — a ouvir a vida que pulsa em mim e à minha volta… Um «exercício» que faz acordar dentro de mim o melhor de mim — o meu SMV(3), como agora se diz lá no mundo das psicoterapias… Por isso gosto tanto de me auscultar. A mim e às «minhas circunstâncias» — de que o Calvário é parte de leão… Gosto de auscultar(-me) e, logo que possível, tentar registá-lo. Para depois, se for o caso, poder partilhar convosco. «Como quem reza», no bonito dizer Pai Américo; «como quem liberta os oprimidos», no ousado dizer de Mahatma Gandhi; «como quem acorda o que de melhor está adormecido em cada um», no autorizado dizer de Pablo d'Ors, o teólogo escritor da Biografia do Silêncio.

Estou. E, ali mesmo ao lado, mas já fora da Sala de Atividades, está a decorrer um momento alto de «animação» — para e com os nossos doentes. «Animação» — sócio cultural e recreativa ou simplesmente lúdica e de entretém?!… Não sei dizer. Sei é que a imaginação da animadora — Dra. Isabel Corte Real — não para de inventar surpresas. Ela sabe que é preciso, à viva força, fugir da rotina — «esse monstro que tudo devora», no acutilante dizer de Balzac. Dra. Isabel, Irmã Laíde, Albano (da Associação Antigos Gaiatos do Norte) e Cª Lda. Cada um de seu jeito, e na sua vez, a darem-se as mãos numa tentativa de melhorar a «qualidade de vida» dos nossos doentes. Esses d'o meu sonho — o tal que dorme comigo e tudo… Porque são eles — os nossos Doentes — que merecem que façamos tudo o que nos é exigido pela Segrurança Social e, igualmente, exigido por uma equilibrada Ação Teologal. Para sermos uma «palavra nova», para sermos «uma palavra tirada do Evangelho» não podemos mesmo ficar-nos pelas meias tintas… Não podemos parar de buscar a«precisão» — essa que é «a virtude divina por excelência», para equilibrar os contrastes…

Porque estou a seu alcance, a chama da música e da orquestra de hoje (com materiais de trazer por casa…) chama por mim. É uma chama que me chama. A despertar(-me) para o meu sonho — ajudar a cada um dos nossos a fugir do tal «monstro que tudo devora»…

2. A vinha que me fala e me diz-de-si. Sei que ando a voar no mundo das utopias. Sei e sinto-me. Mas não deixo de sonhar na sinodalidade evocada pelo Papa Francisco. Um apelo à sinodalidade operativa rumo à unidade, na multiplicidade de respostas vindas quer do «social» (querido por Deus!) quer do "teologal" — também ele «querido por Deus», quando traduzido em práticas como Deus manda… Tais como, por exemplo, um serviço de fisioterapia que tanto alívio dá àqueles que dele mais necessitam. Dá gosto ver a carinha de cada um durante o tempo de «atenção pessoal» que lhe está a ser disponibilizado. Sei que tudo isso tem custos que, sozinhos, não poderemos suportar. E, então, no meu sonho, logo aparece, à maneira dantes, um grupo de benfeitores que, voluntariamente, assumem, cada um segundo as suas posses, o encargo extra do doente X e/ou Y em cada mês…

Passo pela vinha e, defendido pela sombra do lugar onde me paro a observar, dou-me conta do mesmo fenómeno de que já vos falei, no último n.º d'O Gaiato — a propósito da «araucária sacramento»… Observo. Manchas de vinha amarelecida acusam a falta de algo de que necessitam para verdejar como, na mesma vinha, noutros sítios acontece e dali se vê. Leio: menos adubo ou menos humidade da terra ou falta de qualidade de algum veio do solo que por ali subjaz. Da vinha salto para o Calvário. Tudo leio como um grito de apelos ao «não a dualismos maniqueístas»… Uma bandeira do «sim à busca da unidade na multiplicidade» que toda a vida é…

Encanta-me registar estas situações e a frequência com que, volta e meia, «isto» irrompe dentro de mim…

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3. Porque «Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar». Não nos permitimos desperdiçar o nosso presente, amarrados a um passado sem futuro.

1 Um verso de Fernando Pessoa tão ao gosto de Pai Américo, de quem herdei esta devoção…

2 Uma convicção (porque depressa vira evidência…) pode tornar-se uma «coisa terrível»… Está cientificamente provado (Neurociência e Epigenética) que «as nossas convicções podem ditar muitas das nossas 'escolhas' desajustadas da verdade. Essa que «só ela nos pode salvar» (Jo 8, 32).

3 O nosso SMV traduz, para cada um, «a Sua Melhor Versão»….

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]