BEIRE - Flash's

 Do bio-físico ao bio-psico-espiritual...

A «fala» d'aquela araucária… Já uma vez vos falei dela aqui — O Gaiato nº 2093 / 01.06.24. Pudera. Para mim, no Calvário, ela é também um bocadinho «a menina dos meus olhos». Vi-a ainda em semente. Depois, já a estalar a terra, num vasinho oferecido à Joanika, a quem eu, pouco antes, tinha oferecido um livro de Pe. Telmo, com dedicatória e tudo… Joanika é uma senhora de Santiago de Compostela, também já no final dos seus 98 anos, admiradora do «santinho de Portugal»(1). De quem disse que «só de ouvir ler um bocadinho desse livro, já me sinto ficar melhor. Faz-me bem à alma pensar assim coisas que já todos sabemos mas que só ele sabe dizer tão bem». Pois essa araucária, já com pernas para andar, foi-me, depois, oferecida a mim — Porque aqui não temos onde a plantar.

Trouxe-a comigo, desde Santiago, aqui para o Calvário. Desenvasei e reenvasei num vaso maior. Meti o vaso na terra, para aguentar melhor as escassas regas que iria ter. Ou não… Meter o vaso na terra, era também a minha forma de ganhar tempo para estudar melhor onde a iria plantar definitivamente. Entretanto, meteram-se-me outras prioridades e ela, coitada, ficou para ali esquecida e encarcerada no seu vaso novo que, também ele, já se tornara pequeno para os anseios dela…

Verdade-verdadinha que, de cada vez que passava, doía-me vê-la assim a raquitizar-se… Até que me enchi de coragem e arranjei tempo para ela. Escolhi o local, abri a cova, estrumei e, lá ficou — para nos dizer o que vale… Mas o terreno, meio barro e meio argila, sem veios para entrar uma raiz, não é o melhor para ela. Nada poroso, não lhe dá espaço para espraiar-se em busca de alimento. Até agosto do ano passado, cuidei bem dela e ela mostrou-se altamente agradecida. Depois… fui operado. Com um ano, pelo menos, de convalescença.

Este ano veio todo este calor de estarrecer. Começou a acusar a falta de cuidados. Amareleceu e as crescenças eram quase nulas. Lá me vou arrastando e começo a tratar dela…E, de novo, tudo é promissor…

Olho-a, já a querer mostrar a sua melhor versão — o seu SMV. Fico-me a contemplar. Dou o salto do bio-físco (a que ela pertence e eu também) e passo para o bio-psico-espirittual (a que pertenço e ela não). É o salto da fotossíntese para a teossíntese, de que também já aqui falei — O Gaiato nº 2045 / 30.07.22. Porque há uma unidade a descobrir. «Eu e o Pai somos um e vim para que todos sejam um com o Pai» (Jo 17, 21-23). Para o crente não há nenhuma dualidade — o mundo do sagrado de um lado e o mundo do profano do outro. Não. Para o crente, tudo é sacramento. Isto é, tudo é sinal visível de algo superior e invisível. Tudo é chamado a ser como Deus manda

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1. Um livro de Pe. Telmo. Levou-o com ela para férias, na praia do Grove. E, num momento de silêncio, diz para a filha que a acompanhava: «Lê-me um bocadinho desse 'santinho de Portugal'…».

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]