
BEIRE - Flash's
Fazer jorrar a «Fonte»...
1. Um concerto Solidário… Tem razão o poeta — pelo sonho é que vamos… A quando dos 70 anos do «anúncio do Calvário, no Coliseu do Porto», Pe. Alfredo deixou-se render a uma vozinha interior que puxava no sentido de assinalar a efeméride. Se possível, no mesmo local e na data do aniversário — 17.06.1924. Partilhava o sonho. Mas… não faltaram os profetas da desgraça a augurar fracassos, porque e porque e porque… Entretanto, a força do sonho de quem acredita mesmo que «Deus quer» […] fez com que acontecesse o inesperado — um Coliseu cheio, a vibrar e a aplaudir… O Gaiato e a Comunicação Social fizeram eco do evento. E também d'ISSO em que a Fé(1) vê flashs do «anúncio da Boa Nova aos Pobres»…
Agora, já um ano depois, vivemos em «ação de graças» pela fecundidade dos 100 anos de Pe. Telmo. A completarem-se a 25 de novembro. Queremos preparar(-nos) para uma celebração condigna. E, um dos sonhos é, nessa data, brindar a Casa do Gaiato de Malanje — fruto da dedicação e da Fé de Pe. Telmo — com um «Lar Residencial(2), para crianças e/ou jovens portadores de deficiência. Incapazes de conquistar aquele nível de autonomia indispensável para «agarrar a vida em mão e levá-la para a frente»…
E foi assim, nessa linha das comemorações dos 100 anos que, no passado dia 18 de Junho (véspera da Festa do Corpo de Deus), aconteceu um Concerto Solidário, no auditório paroquial de Paço de Sousa: 71 anos do Calvário, anúncio de Programa do Centenário — 74 anos de Sacerdócio de Pe. Telmo e 71 de Pe. Baptista, e ainda a apresentação do novo livro de Pe. Telmo «Fui Pároco de Aldeia». Tudo para apoiar o sonho / iniciativa de Pe. Rafael que, desde 2007, lidera a continuação da obra de Pe. Telmo, iniciada há 62 anos.
Foi uma festa que valeu a pena. O auditório encheu, a rebentar pelas costuras. O entusiasmo que despertou e o nível artístico que atingiu mereceram este comentário, de um conceituado analista da matéria: — O Maestro da Banda do Exército (área do Porto), para além de Maestro, é muito bom Psicólogo — sabe orquestrar bem as técnicas da Banda e a participação entusiasta do público.
Ninguém diria melhor.
2. A festa de um «Abraço da Paz». Fico-me a ruminar o acontecido em Paço de Sousa. Tudo bem traduzido nos «resultados práticos», com expressão palpável nos euros com que se pagam as obras para o tal Lar Residencial… Uns foram deixados logo ali na capa que nos esperava à saída. Outros foi depois. Por aqueles que, mais tocados pelo que viram e ouviram, quiseram voltar. Para acrescentar algo mais conforme às suas posses e às necessidades dos irmãos.
Penso em Pai Américo e no seu alerta inolvidável: — Não podemos deixar estancar a Fonte(3)… Porque, às vezes, para «não deixar estancar», é preciso adentrar-se na mina que esconde a «Fonte». Adentrar-se. Limpá-la dos escolhos que lhe foram caindo em cima e, agora, lá estão eles a impedir o deixar a água correr…
De Paço de Sousa, passo para a nossa emblemática Capela Espigueiro onde, aos domingos, sucede o insólito… De quase capela vazia que era (na Casa, já somos poucos os que ainda subimos 14 degraus para chegar lá cima…), agora está a passar a capela cheia. Às vezes com gente cá fora, porque já não cabe tudo lá dentro… Mas isso ainda não é o melhor da festa… Para mim o melhor, depois dos cânticos e das homilias integradas ao nível destas pessoas com deficiência, para mim, dizia, o melhor é o abraço da paz e a teologia da Comunhão. Explico-me:
a) Lembro a primeira vez que isso me tocou. Londres, fim dos anos 80 — em busca da saúde para a Isaurinha. Íamos a uma igreja católica. Alguns idosos e deficientes, mais sensíveis e mais carenciados, sempre aproveitam aquele momento do «Abraço da Paz»… Quase dão a volta à igreja. Para colmatar a sua inconsciente penúria, em matéria de economia tocária(4).
b) A Comunhão doada, em pé de igualdade, também a estas pessoas com deficiência. Nalguns tão acentuada que dá para perceber que a nossa Comunhão, para eles, parece não passar de uma coisa de levar à boca.
c) Pois! O segredo está na diferença entre o que veem os olhos do corpo e o que veem os olhos da alma. Aquele «Abraço da Paz» e aquela «Comunhão», para eles, é uma experiência vivenciada. Um testemunho palpável de que, também diante de nós (crentes), não há aceção de pessoas… Todos somos tratados como filhos de Deus, como homens por Ele amados.
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1. É sempre aqui que tudo começa e tudo morre — uma «Fé viva que move montanhas» ou uma «fé já desFéinada» que sempre emperra tudo, a impedir a ação de Deus no coração dos homens…
2. Não gosto desta fórmula laica de designar a fórmula já consagrada de Casa do Gaiato de Beire — «para rapazes com deficiência».
3. Inolvidável porque… Leio assim: Se não criamos as condições de que Deus precisa para atuar em nós, Ele não poderá prestar-nos a Sua Ajuda — sempre indispensável para que a obra possa nascer…
4. Porque, «para viver minimamente equilibrado», cada pessoa precisa de 3h dia de atenção (toque) a expressão Economia tocária é usada pela Análise Transacional para traduzir o nosso 'grau de resiliência' aos embates do quotidiano. Se o meu saldo emocional está bem recheado não há tempestade que me deite a baixo… Mas se já «anda nas lonas», qualquer contratempo mostra o meu «saldo careca».
Um admirador
[Escreve segundo o acordo ortográfico]