
BEIRE - Flash's
Veio trazer-nos a "espada"
1. Seduzido pela não dualidade… Ontem, vivi uma experiência verdadeiramente empolgante. Foi em Paço de Sousa — Casa Mãe da Obra da Rua. Um encontro de representantes do ISS com representantes da Obra(1).
Porque me foi dado estar presente e participar, senti aquilo como uma nobre tentativa de busca de caminhos de sinodalidade(2). Vontade de acertar. De ambos os lados. Cada grupo, naturalmente, condicionado pelos seus quadros de referência, mas unidos a querer descobrir caminhos que nos aproximem — para melhor nos com+PLE+mentarmos(3). Ajudando-nos, mutuamente, a tomar mais e mais consciência do que é a nossa imanência e a nossa transcendência — duas dimensões do ser humano integral.
Estas duas dimensões estavam ali representadas. Pela imanência a ISS. Pela transcendência, a Obra da Rua. A lembrar o César do Evangelho e o Deus revelado em Jesus de Nazaré. E não estavam como duas forças contrárias — a ver quem manda na "ação social"…
Lembro que já Pai Américo intuiu que «toda a Ação Social é também Ação Teológica». Em sintonia com o Evangelho — «A César — o que é de César e a Deus — o que é de Deus». Porque ambos estão ao serviço do homem integral. Em busca daquela humanização de que todo o ser humano necessita para cumprir-se.
Tentando estar atento ao que ali se passou, gosto de olhar esta nossa experiência entre a Obra da Rua e o ISS como um corajoso pontapé no im do (im)possível de que Baden Powel falava aos escuteiros. Se ali foi possível com+versarmos, no futuro (assim o esperamos) vamo-nos entender(4). Somos duas linhas de reflexão distintas, mas ambas necessariamente convergentes. Não podemos por isso trabalhar de costas voltadas… A realidade («crianças e jovens») que compete ao Estado é a mesma realidade que compete à Obra. Um e outra querem a "salvação" (saúde integral!) das crianças e jovens. Esses que tanto precisam do nosso apoio para desabrochar em harmonia no seu todo.
2. A realidade está para lá d'as palavras… É-me evidente que o nosso pensamento só é válido quando tem a realidade como único guia e mestre. Do mesmo modo que me é evidente que só «as pessoas desonestas acreditam mais nas palavras do que na realidade»… Por isso é que chamamos ali a sabedoria d'aquele velho filósofo estroina que, num belo dia, abriu os olhos e, resumidamente, nos ditou o caminho a seguir: In necessariis unitas; in dubiis, libertas et in omnibus caritas. Coisa que, traduzida para os nossos dias, seria:
a) N'aquilo que, a ambos os lados, for essencial (in necessariis), não podemos perder tempo em questões de somenos. Aí, a unidade (unitas) tem sempre a primazia — sobre o ISS e sobre a Obra da Rua. Dividir para reinar bloqueia o processo em curso — dar às crianças e jovens, que estão a gritar pelo nosso socorro, uma oportunidade para descobrirem o seu próprio caminho.
b) N'aquilo em que há dúvidas, em que o essencial não está em causa — a liberdade (libertas) precisa ter as portas abertas para experimentar. Concretizando: o Estado quer experimentar os seus métodos e a Obra pode e deve fazer ajustes.
Mas a Obra da Rua não pode abdicar do que lhe é peculiar e essencial — Obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes. Os métodos mais não são do que caminhos (odos) que apontam (meta) para aquilo que eles mesmos não contêm — porque os ultrapassa… Só uma contínua e objetiva análise dos resultados é que pode ditar se há avanços na direção do rumo que nos propomos.
c) E em tudo (et in omnibus), o respeito sagrado pela d'ignidade que se nos impõe — o Bem das crianças e dos jovens que a Vida nos confia. D'ignidade! Aquele fogo (ignis!), aquele amor (caritas) que não admite caricaturas…. Quando se lida com seres humanos («crianças e jovens») ainda in virtu, ainda em semente, a abrirem-se para a vida, aí não há alternativas — ou se humaniza ou se desumaniza.
3. Espada já nós temos. Agora… Gosto daquele diálogo interno que Fernando Pessoa põe na boca do Conde D. Henrique, depois de se ver armado cavaleiro: — Que farei eu com esta espada?!…
Acabamos de fazer uma experiência nova — PRO+missora. Agora é a cada um de nós (indivíduo e grupo de pertença), do ISS e/ou da Obra da Rua, a quem compete mostrar o que somos e/ou ainda precisamos de aprender… Exponenciar(-se) e empoderar(-se) (5) no seu poder (in virtu) de abrir portas que nos levem à UNI+dade no essencial. A experiência está feita — a falar é que a gente se entende…
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1. Obra da Rua, que une as diversas Casas do Gaiato e suas crescentes valências — em Malanje, Benguela e Calvário.
2. Volto a lembrar — as duas palavras gregas, que estão na origem desta palavra portuguesa, indicam um caminho (odos) que com(sin)segue levar a um "ponto de encontro" — de interesse comum.
3. Completar quer dizer dar-se as mãos para que a plenitude chegue a cada um.
4. Efetivamente, se estivermos atentos aos resultados (efeitos e consequências…), o não-entendimento sistemático só atrasa a chegada ao Bojador — que fica sempre para além da dor.
5. Todo o nosso poder está ainda in virtu, em devir, em semente. Precisa ser trabalhado — empoderado — para chegar à plenitude, ao in facto esse.
Um admirador