BEIRE - Flash's

«É preciso pôr Deus no seu lugar»

1. Já não será pró Natal... Os nossos amigos - esses que comungam connosco a nossa dedicação ao Calvário - estão sempre a perguntar. Querem saber se e quando «os nossos doentinhos já regressaram». Dizem «nossos» porque, também eles, os sentem «seus». Não com o «seus» possessivo de um "poder estatal" que chega pega e anda, "justificando" que «eles não têm querer. Vão para onde os levarem...» (sic). Não. O «seus» dos nossos amigos, como o nosso, não é um pronome possessivo. É um «nome carinhativo" - mesmo que isso não figure nas gramáticas... Nesse «nossos» está toda essa ternura que resulta do «derrame» do Espírito Santo nos nossos corações.

E, porque assim é, temos que os «nossos amigos», não podendo estar por aqui a doar as suas vidas como nós, fazem-se presente com as suas ajudas. Sem elas toda esta «Palavra Nova», porque «tirada do Evangelho", não o era. O ser dela revela o ser deles. Dos que se doam e dos que dão do que é seu. Tantas vezes tirado à boca, como a viúva do Evangelho (Mt 12, 41-44). As ajudas que caem na "caixa" e a oração que move as «Forças do Alto» a que nos agarramos - para resistir aos vendavais que se levantam contra...

Tudo está a ficar a postos. Mas os vidros que faltam e sem datas de entrega... E, pior do que isso - a "libertação" dos nossos «meninos de Auschwitz»(1)... Ainda está emperrada, como as "negociações" da guerra que... Porque os interesses dos homens do «poder público» nem sempre alinham com os defensores do «poder» dos pobres e abandonados - em quem Pai Américo «descobriu o rosto de Deus». Tudo com um pano de fundo que cheira muito a "discurso do bandido" - defender os interesses dos doentes... Esquecidos de que, para muitos d'os nossos doentinhos, «o Natal sem o Calvário já não é Natal". Tal como acontecia com Adão... Sem Eva (sem família) nem o paraíso era paraíso...

2. Até as abóboras gritam... Isto pode ser 'deformação profissional'. Certo é que os vejo em todo o lado... Na minha voltinha matinal pelas hortas, paro-me a observar uma abóbora raquítica, enfezada, em que, ultimamente, tenho investido mais. Passou sede, apanhou sol a mais, o estrume da terra foi pouco, enfim. Tenho investido nela. Pois sim. Aquilo não passa muito dali. Passo à frente e multiplico os casos de observação. Igual - tudo na mesma... Porque já tinha passado a oportunidade de poderem mostrar aquilo para que estavam talhadas...

Passo das abóboras para os nossos doentes e rapazes - marcados por suas feridas de não existência da resposta que faltou, por nossos pecados de omissão... Referi-o no caso do Chola. Essas feridas do passado não podem mais curar-se. Pode sim aprender-se a conviver com elas... Esse é o papel e o segredo da Fé e da Ciência: ajudar cada um a aprender a conviver, pacificamente, com a sua própria história. Mesmo que carregada de feridas de não existência. Os três volumes sobre o Calvário, de P.e Baptista, são testemunho de muitos casos de êxito - gente feliz com lágrimas.

3. Urge que "Deus" vire Eu+Tu//Tu+Eu... Desde muito cedo que "isso de Deus" me seduziu e me questionava. Mesmo sem saber ainda «pôr as minhas questões"... Por isso é que, volta e meia, me partilho convosco nesta minha sedução/inquietação. Gosto (preciso!) de O «ver» em vós, em mim, n'os nossos doentinhos, neste sonho que fez nascer o Calvário, como «obra humana» mas «de sabor divino». Uma díade em que não podemos «separar a face da coroa», sem dar cabo da moeda... Compreendo que em 'linguagem laica' isto se possa chamar uma ERPI ou um LR qualquer... Mas não compreendo que, com essa enganadora linguagem (discurso de bandido), se prejudique um Portugal inteiro que, via Calvário, já «salvou» milhares de portugueses que iriam morrer espoliados desse mínimo de «salvação»(2) a que todos temos direito, por nossa própria natureza - que não é a mesma dum animal de luxo...

Gosto de pensar que Deus e Portugal (no nosso caso de comunidade de concidadãos) também formamos uma díade - em que uma face é a «acção social» - que precisa do apoio do Estado - e a outra é a «acção teológica», que precisa de aprender a «ver Deus», «descobrir o rosto de Deus no pobre abandonado"... Não me faz mossa que retirem o nome de "Deus" (só porque Ele faz mossa...). Mas não retirem o RE+speito pelo ser humano. Para lá das crenças e valores de cada um. Todos a precisarmos de aprender o dia+LOGO(s) que nos possa UNIr nesse RE+speito...(3)

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1 - Meninos de Auschwitz. Um dia falar-vos-ei deles e porque os vejo aqui. Nazis retiram-nos do conforto de seus lares, na Holanda, em 1942. Enlatados, entre judeus adultos, são levados para as câmaras de gás de... Todos sofremos um pouco de memória curta e de miopia mental...

2 - Salvação. Ai como gosto de ver que a palavra «saúde» tem a mesma origem que a palavra «salvação» - do latim salus. Daí a voz do povo: - É pecado não saudar / não salvar uma pessoa com quem se cruza, porque andam zangados...

3 - Já muitas vezes aqui o disse: A palavra «respeito» apela à CTA - Ciência, Técnica e Arte de ver (spicere) qual a coisa (re) com que estamos a lidar... Porque «uma pessoa não é um bicho»...

Um admirador