BEIRE - Flash's
O "VALOR" da Obra da Rua...
1 - Não deixar estancar a fonte... Hoje é domingo. Ao levantar, botei mão do I volume do Isto é a Casa do Gaiato. Abri ao acaso, na página 211, 3ª ed - Paço de Sousa. Associo o que leio a outras passagens afirmações / recomendações de Pai Américo. Por exemplo, aquelas em que, relatando dádivas e mais dádivas dos leitores d'O Famoso, não cessa de nos interpelar: «Não podemos deixar estancar a fonte.»...
Tanto quanto sou capaz, gosto de interpretar Pai Américo à luz dos dias de HOJE - com uma Segurança Social e uma Comunicação Social do jeito do que são... Penso que ele está a dizer-nos: É preciso continuar a criar oportunidades... Para que as pessoas sintam a necessidade de mostrar ao mundo que ainda trazem dentro aqueles valores eternos que a sociedade precisa para se ir aguentando de pé... Mesmo no meio de tantas ameaças que nos rodeiam. Até ao risco de um louco, com poderes diabólicos, para acabar com a nossa vida na terra...
A esta luz, penso mesmo ter sido esse o segredo do «êxito», divino e humano, de que Pai Américo foi alvo. Porque nele o «humano» era também «divino». Basta reparar em expressões como estas: «Obras humanas de sabor divino»; «... toda a acção social ou é também acção teologal ou já não é nada»... Gosto muito de ver Pai Américo como «precursor do Vaticano II», na perspetiva de alguns dos seus biógrafos. Mas gosto mais ainda de o ver também como precursor de uma nova perspetiva teológica - a que liga o "humano" de tal modo ao "divino" e o "divino" ao "humano" que parecem formar uma "díade". Ora, o que carateriza uma "díade" (p.e., no caso de uma moeda) é que "a cara e a coroa" estão de tal modo unidas que anular uma seria anular a outra. Era dar cabo da moeda... Claro que Pai Américo não o disse assim, claramente. Ainda não tinha chegado o tempo oportuno para dizer semelhant'isso. Mas di-no-lo de muitas maneiras. Por exemplo, na sua última intervenção (gravada) no Coliseu do Porto: - «Estais aqui, mas não é por minha causa - que eu não sou nada. Mesmo sem o saberdes, estais aqui por causa d'Ele. Por causa de Jesus de Nazaré. O filho do carpinteiro. Porque é Ele que me move. O Filho do Carpinteiro. Da Sua divindade eu não sei falar. Não sei nada. Mesmo nada. N-A-D-A...».
Gosto de rezar a oração que lhe é dedicada - a pedir a sua canonização: «...o dom de descobrir no Pobre abandonado o Vosso rosto"... Que é como se Pai Américo nos tivesse dito: Deus sem o homem é uma quimera; o homem sem Deus é uma monstruosidade perigosa - Homo lupus hominis, o homem lobo do homem...
2 - Por onde andavam eles e elas?!... Paro-me a ruminar o tal relato daquelas senhoras, da pg 211. Noutras crónicas são senhores que também se deixavam tocar pel'O Gaiato e pelos vendedores dele que, de quinze em quinze dias, percorriam as ruas do Porto. Arautos do Evangelho!
Essas senhoras e esses senhores, porque «tocados» pela Obra, multiplicavam-se em actos de generosidade. Cuidavam dos vendedores, a quem pagavam "um bolinho no Ateneia"... Muitas vezes levavam-nos a almoçar em suas casas, «iam a uma loja comprar roupa para eles", enviavam por eles mimos para o Pai Américo (aqui é "um lenço formoso"...). Enviavam dinheiro e outros donativos para que o Pai Américo pudesse pro+seguir com esta Obra da Rua para a frente... Obra da Rua - das ruas de Deus! Encarnado nas crianças em risco, porque filhos das ervas, sem família que as cuide e as salve da iníqua escola da rua...
Naquela crónica, Pai Américo faz uma afirmação e deixa uma pergunta que me deixa a remoer: «Simplesmente deliciosas estas senhoras! Aonde estavam elas antes das Casas do Gaiato?» Não responde. Para que nós possamos tirar as conclusões. Penso que nos quererá dizer: estas senhoras e estes senhores andavam "adormecidos" de si próprios... Até que as Casas do Gaiato os fizeram acordar e apressar-se a mostrar ao mundo que também trazem no peito não um «coração de pedra» mas um «coração de carne»... Bem sensível. Capaz de sentir a dor dos outros e de se com+padecer com ela... E a testemunhar que o apelo está lá. Urge é "tocá-lo" - para que acorde e viva.
Testemunho disso mesmo é, agora, o caso da Jornada Mundial da Juventude. Vindos de 100 países que irão enviar os seus jovens a Lisboa - 2023, estão já entre nós 300 voluntários, vindos de todo o mundo, a preparar o grande Encontro de um "pequeno eu" com um "pequeno tu", a mostrar ao Mundo que "eu" e "tu" que, sozinhos não somos nada... Mas, se nos unirmos, se nos dermos as mãos, "juntos temos o mundo na mão"...
3 - Saber acolher e ir ao encontro... A semana passada,ao tlm, ouvi a Dina. - A Margarida telefonou-me a perguntar se o Calvário, este ano, não tem xuxus, abóboras e cebolas para preparar e arrecadar nas arcas de congelação... Andamos todas com saudades de estar-comvosco... Vieram cinco, uma tarde inteira - cada uma com sua faca de cozinha para... Quando se foram, ficou uma arca quase a abarrotar. Deus louvado.
Volto a ler o texto - «...por onde andavam elas?...». Delicio-me com estas "verdades eternas". São os constitutivas do nosso ser. Um «ser-com», um ser-para... Ser com o outro e para o outro. O eternamente Outro, encarnado na pele de quem precisa de nós...
Um admirador