
BEIRE - Flash's
Se queres que eu te dê de comer...
1 - Artistas na arte de comunicar(-se). Se me ponho a magicar(-me) desde O que eu fui...e sou, vejo-me como um velho apaixonado pela Obra da Rua. Desde que comecei a conhecê-la, lá nos meus tempo de adolescente aprendiz de monge... Hoje, dou comigo a questionar-me: - Mas, afinal, o que é que me marcou tanto, foi o conteúdo dos escritos de Pai Américo ou foi a forma de Pai Américo comunicar(-se) em seus "sonhos"?! Sonhos, que ele lia como a "vontade de Deus" para ele? Certo é que Pai Américo, como homem culto que também era, muitas vezes refere aquele tão celebrado verso de Fernando Pessoa: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". E acontece que, mesmo sem grande consciência disso, muito cedo, comecei eu também a querer pautar os meus "sonhos" pelo "querer de Deus" para mim. Ainda hoje ando nessa. A ponto de, tudo o que escrevo, tento fazê-lo "como quem reza", "para libertar da opressão" - na mira de "ajudar a desabrochar(-se) a partir do seu melhor". Porque aprendi isto de meus mestres: Pai Américo, Gandhi e Pablo d'Ors.
Ando no campo, de volta do "limpar bordas", para plantar novos chuxus e aliviar os que já estão a despertar para o amanhã. Se não cuido deles, a tempo e horas, as ervas daninhas dão cabo de tudo. Acho que foi no campo que Jesus descobriu que "os filhos das trevas são mais sagazes que os filhos da luz" (Lc 6 1-8). Até as ervas daninhas sabem disso... Salta-se-me à mente uma lavradeira entrevistada pela TV. Se já gostava do campo, agora mais apaixonado fiquei. Aquela jovem e encantadora mulher falava do campo como quem sabe. É dele que tira um rendimento que põe muitos lavradores com inveja... Ela dá cartas no amanho da terra e na arte de a fazer produzir. Repete e repete um ditado que a guia como uma voz que sai da terra: - Se queres que eu te dê de comer, anda-me ver...
Dou-me conta que me é visceral a minha paixão pela arte de comunicar(-se). Ainda me vejo um aprendiz de comunicação. E sinto na pele esta verdade: as palavras são boas para descrever pensamentos e objetos, mas demasiado pobres para comunicar os nossos sentimentos. Ah, como eu gostaria de saber comunicar(-me) com esse "dinamismo humanizador que atua por atração". Coisa que, avant la letre, caraterizou Pai Américo. Porque, realmente, mesmo gaguejando aqui e além, ele era um excelente comunicador - arrastava, pelo que dizia e escrevia. Ao sair do anonimato do Lume Novo, do Seminário de Coimbra, para as colunas d'O Correio de Coimbra, começa a revelar-se todo um dinamismo que arrastava os seus leitores. Não tanto pelo que dizia mas, sobretudo, pelo que já começava a ser - um sacerdote que mostrava o Evangelho traduzido numa Obra que nasce de um sonho que o consome. Porque acredita que é isso que "Deus quer" dele.
Hoje é dia de S. Gabriel - o "correio de Deus" para os homens... Acorda-se-me um dito que se me colou às entranhas: - Somos uma carta enviada por Deus aos homens. Ele me enviou a ti e tu a mim. Era, então, Abade de Singeverga o D. Gabriel de Sousa. Este dia era a festa onomástica do Snr Dom Abade... Certo é que, hoje, enquanto esgadanhava no campo, dei comigo a ruminar todas essas vivências lá de trás. Revivi a galeria de um "clube de poetas mortos"... A par de gente viva, a deixar-se queimar para espalhar mais vida e vida em abundância (Jo 10,10).
2 - De novo, e sempre, o Voluntariado... Tudo em mim é festa da vida. Em partilha com a natureza que me rodeia. Na primavera a esguichar beleza. Ouço S. Paulo - o homem velho morre, mas o homem novo RE+nasce em cada dia (Ef 4 22-24)... Sonho um futuro que tarda. Mas acredito que Deus quer... E já está à espera de alguéns que, como Pai Américo, queira ir aprendendo a sonhar o querer de Deus. No hoje que tanto precisa de gente que acredite que "Deus quer". Um Calvário sonhado por Pai Américo e caboucado por Pe Baptista - para ser continuado, no RE+speito pelos novos tempos. Grande e desconcertante tarefa!
Penso num voluntariado para o Calvário 2022. Voluntários já efetivos, ainda potenciais e/ou só hipotéticos. Esses que estão à espera de vidas que arrastam. Porque, onde as há, aí estão eles a pingar - para render os que estão cansados. Vejo tanto que fazer. Sinto tanto prazer em fazer. Falta aquela "martelada" que dá força à decisão do mergulhador - que acredita e confia...
Já temos uma câmara congeladora. Que é preciso pôr a render... Sei que isso pede cabeças que gostem de aprender a pensar - segundo as necessidades do aqui e agora... Sei que há delas por aí a gemer, com Florbela Espanca: "Pena não haver manicómios para o coração, que para a cabeça já há muitos". Sei. Os seus gemidos escorrem em tinta pelas paredes. Mas a cura não vem por aí. Cada um tem de fabricar o seu próprio manicómio, por dentro de si - em sinodalidade com outros alguéns que sofram do mesmo mal... Esses que já andam em busca de "laços de ser" a que possam agarrar-se com segurança... Sonho. Sofro. Faço minha a dor de ver tanta dor. Que logo vira alegria em quem decida tornar-se aprendiz de mais vida...
Um admirador