BEIRE - Flash's

Uma parábola para O Calvário...

1. Gosto d'O Calvário e pronto!... Não sei contar nem as vezes nem as circunstâncias em que, diariamente, o Calvário me diz que já habita em mim... Estou sempre a DES+cobrir 'coisas' em que 'vejo' caminhos que nos levem até ele. Ele! Este aqui, o de Beire, e aqueloutros que, ainda não nasceram... Porque ainda não encontraram homens que, sonhando o que Deus quer, mergulhem neste 'oceano de amor' que um Calvário requer. Que ele não faltam filhos de Deus a precisar. Vejam o que nos diz P.e Rafael, lá ao longe, em Malanje (O Gaiato, n.° 2022). E já antes o vi, secundado por P.e Manuel, em Benguela.

De há tempos a esta parte, volta e meia, salta-me aos ecrãs da minha mente uma 'parábola' que anda comigo há muitos anos. Tinha-lhe perdido o rasto. Bem a procurava, mas... Finalmente, eureka!!! Ela reza assim:

«As ASAS...

Há quem nunca se acomode. Há sempre quem queira mais e melhor.

Há sempre quem queira voar e, quando se voa, há sempre quem queira ir mais alto.

Mas as nossas asas são de penas e cera que o Sol acaba por derreter; e, como Ícaro, frequentemente, temo-nos despenhado das alturas.

É então que surgem toda a espécie de advogados e apóstolos da teoria das minhocas, que tentam transformar a humanidade em vermes rastejantes na terra lamacenta.

Algumas vezes conseguem impor ao homem essa solução, mas jamais de forma definitiva. E, quando surgem transitoriamente, nada mais fazem do que adiar o problema. Por estranho que pareça (insondável é o "mistério"!...), acabam sempre por nascer asas às minhocas. Umas vezes mais tarde, outras mais cedo, contudo sempre.

O "segredo" está no facto de que a semelhança entre os dinossauros e os homens é que os dinossauros não tinham asas e os homens deveriam tê-las; mas há homens que só vivem enquanto voam, há sempre alguém que acaba por inventar (criar) novas asas.

Por isso, nunca nos perguntem para onde vamos... Tal como os sonhos, os caminhos nunca acabam...»

Não sei já como chegou até mim. Muito menos quem é o seu autor. Sei é que me dá muita paz. Alimenta a minha Fé. Dá asas à minha esperança - para continuar a lutar por ter e ser Esperança, enquanto vir que "há caminhos não andados que esperam por alguém"...

2. A 'minha leitura' desta parábola. Parece que muito cedo, Pai Américo foi treinando o coração e a mente no resistir à tentação do deixar-se acomodar. Cair na vulgaridade de uma vida como as outras... Naquele seu tempo, tal como ainda hoje, consoante os campos e as matérias em questão, imperavam a legislatura de César e/ou a legislatura do 'Deus do Templo'. De um e outro lado, também já imperavam os 'doutores da lei, os escribas e os fariseus' de toda a espécie. Pai Américo foi passando por entre eles. Pareceu até que iria acomodar-se ao 'Deus do Templo', mas não. Pouco a pouco foi DES+cobrindo que o Deus que lhe matava esta fome e sede de justiça (Verdade, Bondade e Beleza!...) que a todos nos espicaça, não era o Deus do Templo - com seus ritos, preceitos e normas... Não. Aquele Deus a que, do mais fundo de si, sempre aspirava era 'o Deus do Filho do Carpinteiro', cujo rosto (palavras, actos e omissões) mostrava ser o verdadeiro rosto do Deus Verdadeiro, Uno e Trino - o Deus/Abba, Pai / Mãe em quem todos somos e vivemos. E... Pai Américo já O ia descobrindo no Pobre Abandonado...

Foi remoendo, remoendo, até que chegou a hora daquela 'martelada' que o fez cair abaixo das dúvidas que o travavam. Não mais parou. Sempre a tentar 'voar mais alto'. Até que, desde as ruas da Coimbra dos Doutores (com seus fogos de artifício, de que sempre fugiu...), chegou ao Calvário, de Beire - seu canto de cisne. E até chegou a sonhá-lo, depois, para 'cada comunidade eclesial' - em quem via a obrigação de cuidar dos seus pobres... Morreu sem ver o seu sonho realizado - tal como o Nazareno não viu o Seu 'Reino dos Céus' concluído...

Ambos (Pai Américo e Jesus de Nazaré) deixaram-nos a nós, com a nobre missão de os continuar. E deixaram-vos também a vós - leitores que cuidais de nós, com vossas ajudas e orações. E é nesta reciprocidade de comunhão amorosa que nós, em com+UNI+ão de uns com os outros, nos damos as mãos para - juntinhos - irmos carregando com a cruz que, a cada um de seu jeito, compete levar - na paixão e na ressurreição...

3. A barca, no meio da tempestade... Porque as nossas asas são de penas e cera que o Sol acaba por derreter... A morte de Pai Américo, o rapto de P.e Baptista, as incursões das legislaturas de César, o abandono de alguns leitores, tudo ameaças de nos despenharem das alturas... Parece que, como Jesus naquele tempo, até Pai Américo dorme na barca... Apetece arribar à praia. Mas... ainda nos soa aquela voz que, (no imperativo!...), nos comanda - Duc in Altum. Fazei-vos ao largo ...

Junto as peças - o Mestre a dormir e eles a braços com uma tempestade; eles cheios de medo porque podia ser 'um fantasma'; Pedro atira-se à água, caminha sobre ela, mas logo... Faltou-lhe o pé porque lhe falhou a Fé...

Gosto de viajar assim no Evangelho da Boa Nova - onde tudo pode tomar um novo rumo...

Um admirador