
BEIRE - Flash's
Feridas de 'Não-Existência'...
1. Compreender-se para entender os outros... Porque a 'academia' ainda não tomou conta d'O Gaiato, não me sinto na obrigação de ir pesquisar a ver se é ou não é bem assim como digo... Deixo o coração falar das suas doces e/ou amargas memórias. A Obra da Rua e os nossos leitores somos uma família. Em renovação per+manente, como mandam as leis da vida. Mas sem deixarmos de ser aquilo para que estamos talhados por nascimento - sermos, "em nome de Jesus de Nazaré", uma família para os sem família. Foi 'ISSO' que me cativou, muito lá atrás, desde a primeira hora que comecei a perceber o que era O Gaiato, as Casa do Gaiato, a 'Obra da Rua ou do Padre Américo'. Complicações que, por imposições legais, vieram depois. Antes, para mim, era O Gaiato simplesmente! Sem distinções entre a Obra, o Padre e o Jornal. Porque aquilo era uma unidade inseparável - cada valência (parece que é assim que hoje se diz...) continha as outras. Como se de uma díade se tratasse...
Nesses incipientes apelos interiores a deixar-me abrir ao para além de mim, dei-me conta de que ISSO era bonito. Mas não me era assim tão fácil... Porém, com a ajuda de pessoas seminais que foram semeando em mim a boa semente e me foram treinando na arte de preparar a terra para que a boa semente pudesse germinar, comecei a perceber que o difícil também tem a sua sedução. O difícil também é bonito. Lembro esta de Mons. Pereira dos Reis. O 'velhinho' que tão boa semente foi lançando na terra boa da minha juventude - sequiosa de Beleza, de Bondade e de Verdade: - O irmão sabe qual é a diferença entre um velho e um novo perante o difícil? Alargando em mim novos horizontes de ser, disparou: - É que o velho, frente ao difícil, larga o consabido - isso já não é para mim; burro velho não toma andadura... Curioso, fiquei à espera do resto: - É aí que o novo arregala os olhos e, embandeirando em arco, exclama um - esta é a minha grande oportunidade! Não a vou perder. Poderei mostrar o que valho...
De andanças em andanças, veio cair-me às mãos um livro de Pedro Finkler, Compreender-se e entender os outros. Era já no final da década de 80, do séc pp. Mastiguei-o até ao tutano. Ainda hoje me dá alento para pro+seguir na minha sina de aprendiz de vivente... E, hoje, veio fazer-me luz sobre um tema que, desde há muito, anda cá dentro a remoer - para compreender o Calvário é preciso entender de feridas de não-existência. E para perceber de feridas de não-existência é preciso conhecer as suas próprias feridas. Porque não há ninguém que as não tenha. Mais graves ou menos graves, não há vida que as não carregue. Na própria pele e na daqueles que connosco ora com+vivem ora contra+vivem... Mesmo que nunca tenham aprendido a chamar-lhes assim nem aprendido a lidar bem com elas...
2. De onde as 'feridas-de-não-existência'? Foi em PRH que o conceito começou a aclarar-se-me. Movimento de Investigação e Formação para o Desenvolvimento Pessoal, nascido em França pela década de 70, depressa correu mundo. Com o 25 de Abril, a vida pediu-me que me fosse tornando um formador de balconistas, na arte das 'manigâncias' das Relações Interpessoais e com o Público. Aceitei o desafio. De novo senti a sedução d'o bonito e a necessidade de aprender a lidar com o difícil. Ai quanto me valeu um desenho de Baden Powell, Escutismo para Rapazes, com seu "Kovan cumpriu o seu dever dando um pontapé no 'im' da palavra im+possível." Acreditei no que diz, logo de seguida: "Todo aquele que proceder como ele triunfa na vida com certeza".
Numa busca incessante de Beleza, de Bondade e de Verdade, corri tudo - Grupos de Vida, Biodinâmica, Dinâmicas de Grupo, ..., até que cheguei ao PRH. De que ainda sou fã e apaixonado seguidor. E foi aí que aprendi a reconhecer, aceitar e a cuidar de minhas feridas-de-não-existência. Um trabalho e dor que nunca mais acaba, mas que traz grande qualidade de vida à minha vida. E me faz luz para entender este Calvário como 'palavra tirada do Evangelho'.
É altura de dizer vamos, então, ao conceito. Mas o espaço já não no-lo permite. Prometo que, no próximo número, vos explico melhor, se disso for capaz. Vai ser ilustrado com a história d'O Chola que, nas décadas de 60, era um cromo da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo. Foi graças a ele que eu virei um insaciável aprendiz de vivente - um curioso aprendiz de psicólogo... Nesta universidade que o Calvário revela aos simples, mas esconde aos sábios e doutores em serviço social (Mt 11, 25-27). Que, se não for serviço teologal, pode virar um contra serviço - mais uma ferida-de-não-existência...
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1 - Na Escolástica, aprendi que estas três características urdiam a 'essência da Divindade' - Bonum et Verum convertuntur; Verum et Pulcrum convertuntur; Pulcrum et Verum convertuntur... Uma trindade que é uma só e mesma 'coisa'. Que também é santa - porque orientada para O BEM COMUM de toda a humanidade. Hoje, gosto de acreditar que, feitos à imagem e semelhança de Deus, é também para ISSO que estamos talhados por nascimento. Assim se explica porquê 'o nosso coração está inquieto' enquanto não descansa nestas evidências de um crente não crendeiro...
Um admirador