BEIRE - Flash's

Uma mãe! Também o Calvário...

1. As 'filoteias' da Obra da Rua... É com interesse crescente - alegria e dor - que acompanho o que, aqui n'O Famoso, se escreve sobre A Mãe. P.e Acílio pede (re+pede e tri+pede!) Uma Mãe para Setúbal. P.e Telmo vê nisso um dos Sinais de mais vida da Obra da Rua. Vasto conhecedor do nobre papel de uma senhora que saiba ser mãe dos filhos sem ela, faz seu o pedido de P.e Acílio. E conta histórias de vidas que encontraram A VIDA a dar a vida por esta Causa dos caídos na rua - a grande Causa de Deus, na perspectiva de Pai Américo. Que soube "descobrir no pobre abandonado a imagem do Seu rosto". P.e Rafael fala do que faz com que, uma casa, seja e/ou não seja uma família. P.e Júlio, aproveita a efeméride da edição 2000 d'O Gaiato, e fala-nos das Senhoras da Obra da Rua que também ajudaram a fazer o jornal... Delicio-me a ruminar. É um saber de experiências feito. Têm autoridade para falar desta urgência.

Ao lado dos grandes Padres da Rua sempre estiveram as grandes Mães dos Filhos da Rua. Talvez porque a expressão possa pecar por alguma ambiguidade, nunca falamos das Senhoras da Rua ao lado dos Padres da Rua. Mas os já 80 anos da Obra da Rua sempre contaram com a presença vitalizante dessas filoteias1 que, ao lado dos Apóstolos, seguiam como eles, o inquietante e sedutor Jesus de Nazaré. Nele vislumbravam o Rosto de Deus... Visível naquele Seu jeito de viver e de falar. Acordava em todos a grande utopia da humanidade, que dá pelo nome de Boa Nova do Reino dos Céus...

Paro a ruminar. Fecho os olhos, descongelo memórias. De senhoras e de rapazes, que se fizeram homens, 'portugueses de lei', graças à doação delas. Centro-me mais em Miranda / Coimbra, com D. Rosária e D. Maria da Luz, porque com elas convivi. Mas sai-me um carinho muito particular para essa mulher forte que foi D. Virgínia. Sempre a sorrir, mas de mão firme, e que, em plena juventude, deixou o ensino para, ao lado de Pai Américo se entregar à aventura da Obra da Rua. E, ao lado de P.e Baptista, foi acarinhar o nascer do Calvário. Depois, correu pelas Casas do Gaiato, até à África, se por ali era preciso botar uma mãozinha. Sempre com a mesma Fé. O mesmo sorriso. E o mesmo desembaraço. P.e Quintino diz que foi ela que despertou nele a vocação para o sacerdócio. Muitos rapazes dizem que foi ela que fez de mim o homem que hoje sou. Minha passagem pela Casa do Gaiato de Beire, nos meus 22 anos, armazenou sementes que ainda estão a germinar.

Senhoras/Mães da Rua. Testemunho histórico e vivo de que a Obra da Rua não depende só de vocações sacerdotais - os Padres de Rua. Não senhor. A Obra da Rua, no coração da Igreja, hoje como ontem, precisa é de crentes apaixonados. Seguidores/as desse Filho do Carpinteiro, que pisava a terra com o coração - para aliviar dores, saciar fomes, derrubar separações, criar proximidade. Crentes apaixonados! Homens e mulheres. Clérigos e leigos. Com juventude de alma, em quem palpite um Coração de Mãe e o pulso de um Pai. Crentes apaixonados, eternos aprendizes de um Amor Firme, (Abba!), que sempre orientou Pai Américo, impelido pela loucura do Evangelho.

2. Também no Calvário urge uma MÃE... As obras estão a andar. Já se começam a ver os novos traços exigidos por lei. Tudo a apontar para um retorno ao Calvário que acolheu gemidos de alma que chegavam do Norte a Sul de Portugal inteiro.

Em conversas avulsas (a pedir uma COM+versa de fundo), volta e meia abordamos o tema de Uma Mãe para o Calvário. E estamos de acordo que os tempos são outros. Há que criar um novo Modelo de Mãe para aqui... Porque agora o Estado exige uma directora técnica e não é fácil COM+jugar o papel de uma com o papel da outra. Certo. O segredo estará no verbo COM+jugar. Sei que, nos tempos que correm, já nem "o Meu jugo é leve" (Mt 11, 28-30) seduz como outrora seduzia. Hoje, abalado o prestígio social, só almas grandes continuam a, sem falsas espectativas, deixar-se seduzir por esse jugo.

Vou aos meus tempos de menino. Revejo todo esse fecundo trabalho nos campos de outrora. Com juntas-de-bois, alinhadas pelo mesmo jugo e treinadas em puxar certinhas na mesma direcção. E nós, felizes, naquele SUB+jugar-nos assim aos sinais do tempo. Recordo um dístico que, frente ao balcão, figurava numa Ervanária, na Rua da Madalena, em Lisboa - O fácil já está feito // O difícil faz-se já // O impossível vai tentar-se // Milagres não fazemos...

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1 - Filoteia!... A palavra evoluiu como 'mera descrição do mundo exterior' e quase morreu. Encanta-me é o 'mundo interior' que lhe deu origem. Filoteias eram mulheres inflamadas pela mesma 'paixão' que arrastava os Apóstolos de Jesus de Nazaré. Sempre os acompanhavam, para o desempenho dos serviços indispensáveis, enquanto eles se dedicavam ao anúncio / testemunho do 'Reino dos Céus', já dentro de nós... Eram embebidas por um tal amor a Deus (filos - amigo e teós - deus) que S. Francisco de Sales diz que a filoteia "ela mesma é o mais perfeito amor de Deus".

Um admirador