BEIRE

Flash's Retrato de Pe. Telmo

1 - Daqui para uma Casa Sacerdotal... Por 'exigência' de filhos e netos, fiz em Leça a minha convalescença de uma pequena cirurgia. Mas... arranjei quem me levasse e inventei um pretexto. É que, com seus medos de incomodar e nos roubar tempo, P.e Telmo, (que está sempre disponível para todos), parece ter alguma dificuldade em deixar que nós outros também nos disponibilizemos para ele. Sempre com proveito nosso, aliás, tal é o privilégio de privarmos com ele. Assim, fui de Leça a Beire passar ao computador e enviar para o Jornal os «Sinais» de P.e Telmo. Cheguei e fui à procura. - Eu sempre ando ou estou por ali. Já não posso ir mais longe!... Brinco com ele citando S. Paulo: - Quando era novo... Agora vou para onde me levam... (2 Cor 1-9).

Foi no corredor junto da salinha de estar. Sorriu, como só ele sabe sorrir. Avança para mim, solta toda a sua imensa ternura num abraço / beijo que só ele sabe dar. - Oh, veio! Já estava com saudades! Nós já somos inseparáveis!... Penso no crime que era tê-lo deixado ir para Bragança... - É uma Casa Sacerdotal - Betânia! - criada por um colega e amigo... Isso foi há uns quatro anos, quando começou a sentir que as pernas falhavam e um joelho... - O que é que v. acha?! - Eu acho que o seu lugar é aqui. Ainda tem muito que fazer por cá. O Calvário precisa de si... Porque a Obra da Rua, na sua edição Calvário, não é de quem a governa. É muito mais de quem a ama. P.e Telmo está, eu estou, muitos vêm até aqui e nos ajudam muito, porque são tangidos pelo mesmo amor. E nós, no dizer de Pai Américo, "não podemos deixar estancar a fonte"... Todos - doentes, rapazes e colaboradores - precisamos muito de si aqui. Acho que Deus não quer que vá... Se quer que lhe diga mesmo o que acho, olhe, é isto assim! Ficou pensativo e não voltamos a falar nisso.

2 - ... Eu estava pr'ali a pensar que... Gostei da iniciativa de P.e Fernando. Foi à hora de começar aquela reunião memorável de que vos falei no n.° anterior d'O Gaiato. Passou pela salinha e trouxe P.e Telmo para estar connosco na reunião. Eu também tinha passado antes. Disse ao que tinha vindo. Depois, no desenrolar da reunião, foi dada / puxada a palavra a cada um. Esse o segredo do possível vingar, do possível re+suscitar de um Calvário que possa estar de pé, de cara lavada, frente aos tempos que correm. Um Calvário em que, com o respeito devido a todos e por todos, cada um possa ter vez e voz. A dizer e ouvir o como se sente e porque anda por aqui. Para, juntos e de mãos dadas, irmos descobrindo o Para Onde vamos e o Onde ainda estamos... Porque sem isso não pode haver grandes avanços. Há sempre o risco do estagnar. Os tempos mudam. E a dinâmica da vida, bem como a dinâmica da Graça, não param. NÃO. NEM. NUNCA. JAMAIS. EM TEMPO ALGUM. Porque a 'revelação' do nosso Deus Pai-Mãe (Abba!) ainda está em PRO+cesso. Já não podemos mais dizer que "acabou com a morte do último dos Apóstolos"...

Também na Obra da Rua, a "revelação" avança, intuída por Pai Américo como um urgente Deus Quer... A chamar homens (e mulheres!) que sonhem o Querer de Deus. Para que estas obras humanas de sabor divino possam continuar a desempenhar o seu papel numa sociedade que corre riscos de se fechar em orçamentos de Estado, onde só cabe quem tem orçamento... Sem lugar para as ousadias da Fé, fundada na loucura do Evangelho, capaz de ir buscar dinheiro à boca de um peixe... (Mt 17, 24-27).

Chegada a vez de P.e Telmo, todos nos enternecemos com a sua partilha. Cheia de simplicidade e humildade, essa irmã gémea siamesa da verdade. Assim, sempre a sorrir, sem falsos pudores de medo do ridículo, começa ele: - Eu estava pr'ali a pensar que já não sirvo para nada, que já nem pràs reuniões me chamam... E logo chegou o P.e Fernando a chamar-me. Ele é que manda!... E eu tive de vir. (...) Já estou assim velho, mas gosto muito de vos ver aqui. A todos. Os que são da Casa e os que vêm cá para nos ajudar. Porque temos de levar o Calvário para diante. Para podermos ir buscar os doentinhos e rapazes que nos levaram. Eles estão mortinhos por voltar para cá. Foram ao engano. Não sabiam que estavam a ser retirados da família... Já fui vê-los. Lembro a Maria do Carmo. Vocês estão a ver quem ela é?! Aquela que não tem pernas para andar e as mãos são tolhidinhas de todo e não servem para grande coisa. Mas tem uma cabeça e um coração de oiro... Ela diz que tem muitas saudades da nossa princesa - a Luisinha. - É como se fosse uma filha... E a Alice?!... Disse-me textualmente: - Nós aqui estamos bem, não nos falta nada; mas não é a família... O Calvário é a nossa família!...

3 - ... Nós não podemos não falar!... As obras estão em curso. É preciso muito dinheiro. Se o Estado não dá, as pessoas de Fé irão sacrificar-se mais um nadinha. Conscientes de que o pouco, com Deus, é muito... E onde todos ajudam nada custa. Aceitamos tudo, como Pai Américo sempre aceitou. Mas não podemos vender-nos por nenhum prato de lentilhas (Gn 30, 25-27). Porque os Estados, quando dão cinco, é para tirar dez. Seria abrir as portas à vulgaridade das obras semelhantes, lembram?!...

Um admirador