BEIRE
Obrigado, Américo, "nosso" Venerável!...
Estava contigo. De volta das minhas queridas e interpelantes questões: - Se estes e estas conseguiram fazer tantas e tais coisas, porque não eu? E logo: - Eu, que agora começo a ver, o que é que vou fazer da minha luz? Lembro que até me ri contigo... Se, quando te viste "P.e Américo" e, recordando aquele Ameriquito (irrequieto porque já inquieto), saído ali de Galegos, Penafiel, isso te encheu de uma admiração tal que te sentiste impelido(2) a pôr aquele, já consagrado, "ponto de admiração" a seguir ao teu nome, AGORA, se estivesses ainda aqui entre nós, nesta passageira dimensão da nossa imanência, ao ver-te assim Venerável P.e Américo, o que é que irias tu fazer?!...
Deitei-me, contigo a bailar cá dentro. Apaguei a luz. Mas logo tive de me levantar e amarrar no papel os ecos daquele nosso encontro - tu mais eu e eu mais tu, nesse "nós" que, em mim, sempre se torna mais vida e vida em abundância (Jo 10,10). Amarrar no papel. Para depois poder partilhar com os nossos leitores. Porque os leitores d'O Gaiato também são tu e também são eu e também são vós. Cada um dos que fazem e/ou lêem / divulgam este Famoso e mantêm viva a Obra da Rua. Com o teu canto de cisne à frente - o Calvário. Porque "o filho doente é o que sempre está mais perto no coração da mãe"...
2. Um apontamento de 30.01.20. Abro o meu caderno pró-diário. A folha 22 reza assim: "Estou em Malanje. Com Beire, o Calvário, toda a Obra da Rua - a já feita mai-lo muito que ainda nos falta fazer... Deixo-os falar(-me). Com toda a alegria e toda a dor que isso implica. De qualquer modo, sinto-me de coração agradecido. A rebentar no peito. Como aconteceu, naquele tempo, a caminho de Emaús (Lc 24, 13-35). Obrigado, Américo, pela arte com que soubeste registar a festa daquele momento único em que chegaste ao sacerdócio de Cristo - P.e Américo! Esse ponto de admiração grita aos quatro ventos que te sentiste um escolhido, um fiel "impelido pelo espírito de Deus" (Mc 1, 12-15). Impelido a tornar(-te) um Homem Novo a quem incumbia uma "Missão Nova".
Os crentes dizem(-se) uns aos outros que o seu Jesus de Nazaré está vivo, está ressuscitado. Dizem(-se) uns aos outros que nem a morte conseguiu acabar com Ele. - Onde está, ó morte, a tua vitória?!... Gosto de m'o dizer também a mim. Porque me encanta acompanhar os avanços da Teologia da Ressurreição. E sentir que, como nos diz o Papa Francisco, "quando rezo, Deus respira em mim". Acho que é uma forma ousada e bonita de nos dizermos que a vida desse 'Filho do Carpinteiro' não terminou com a morte. Nem a d'Ele nem a de tantos que Lhe seguiram os passos. Como Pai Américo, que tanto gostava de O tratar assim - Filho do Carpinteiro!... Porque selaram, com o rastro de uma fecunda acção social, a doutrina que defenderam. Para que outros pró+sigam "a vontade do Pai que está no Céu", a favor destes filhos abandonados.
Obrigado pelo tanto que marcaste a minha juventude. Capaz de, ainda hoje, passados já 64 anos depois da tua partida do meio de nós, sonhar também dar a vida a favor da Obra da Rua. A tua obra (que não é tua, mas obra do Deus/Abba a Quem deste a tua vida!) não pode morrer por falta de padres...
Pois. Se não há padres, que haja leigos. Gente de Fé. Gente que acredite que os que gritam na rua são Teus filhos. Irmãos nossos. Em quem Tu respiras, já a 'ofegar', por falta de uma resposta nossa.
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1 - Parece que remonta já a Aristóteles esta ideia de que a esperança é o sonho do homem acordado. Ai de nós se não sonhamos! Porque o sonho comanda a vida. Parece que a Ciência já descobriu que qualquer pessoa aguenta mais tempo sem dormir do que sem sonhar. O segredo está em aprender a selecionar os sonhos que vale a pena sonhar e os que há que passar à frente...
2 - É nas gravações que nos restam de Pai Américo que mais gosto de ver/ouvir o impelido que ele refere para acontecer aquilo que sente como sendo um querer de Deus a empurrá-lo para a frente...
Um admirador