BEIRE
Flash's da quinzena!…
Na Sexta Feira da Paixão e Morte do Senhor, depois das cerimónias próprias do dia, olhando a emblemática cruz de pedra, ali na entrada da Aldeia dos Doentes, pensei de mim para mim: podíamos fazer aqui um arranjo que distinguisse bem a Quaresma (que acabou com o Domingo de Ramos) do culminar festivo do drama Semana Santa. Falei nisso à nossa Directora Técnica, a quem compete o levar para a frente a humanização desta instituição dentro das normas legais. Sorriu e disse-me: - Também já pensei nisso e até já falei ao Luís, a ver como... Conversámos. Fiquei contente e deixei tudo nas mãos deles, confiado na sua competência, mais que comprovada noutras ocasiões, em muitas matérias.
Era já depois da nossa Vigília Pascal, celebrada com a solenidade de que fomos capazes, com Precónio1 e tudo, cantado pelo Luís. Agora, na Capela-Espigueiro do Calvário, tudo era luz, flores, adornos e paramentos festivos. Símbolo dos grandes desafios deste Tempo Pascal - uma passagem da morte à vida. Isto é, uma tarefa que nos incumbe ir realizando em cada dia. Ao longo de todo o tempo que nos é confiado para, instruídos pelo Condenado-Morto-e-Ressuscitado, levarmos por diante a construção do Reino dos Céus2. Um reino que Ele iniciou entre nós, para que não pare mais até à consumação dos séculos. Só assim esta reduzida vida terrena poderá tornar-se fonte de cada vez Mais Vida e Vida em Abundância (Jo 10,10). Até à Vida Eterna, na Plenitude da realização do Homem - criado à imagem e semelhança de Deus, para ISTO mesmo. Nascidos na terra para, na terra, realizarmos aquilo que a nossa Fé nos diz ser o Céu. Tudo coisas que «nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais o coração humano penetrou. Tais são as coisas que Deus tem preparado para aqueles que O amam» (1 Cor 2 9-16).
2. Da cruz de pedra às cruzes da vida... Saídos das cerimónias em que comemoramos a gloriosa Ressurreição de Jesus de Nazaré, fomos jantar, já em ambiente de Páscoa da Ressurreição - ícone da Fé dos cristãos. Antes de deitar, como de costume, fui falar com o Silêncio de Deus, no silêncio da noite, à luz de um espectacular céu estrelado. Foi então que pude apreciar a obra de arte floral que executaram ali no nosso cruzeiro, com flores de pilrito, a lembrar as aleluias que, nesta altura do ano, vestem de noivado toda a nossa Aldeia.
Dada a minha ritual voltinha-da-meditação antes de dormir, fui deitar-me. Adormeci e acordei com aquela Cruz Florida a bailar dentro de mim. Porque também sou (como todo o homem é!) um ser significador, tenho andado num transbordar de alegria e de louvor à luz desta Cruz a Florir, no nosso Calvário. A ver, a com+TEMPL+ar as cruzes que aqui vivem e/ou que por aqui vão passando. A florir, em sorrisos que aquecem o coração da gente, como aconteceu aos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). Cada um com a sua cruz, em seu peso e leveza pessoal e intransmissível. Cruzes que vão subindo o seu calvário, na mira da gloriosa ressurreição que sempre acontece na morte de um Crente em Jesus de Nazaré. Porque para aqueles que acreditam no Senhor Jesus, 'vita mutatur, non tollitur'. Isto é, a vida não lhes é retirada mas, simplesmente, lhes é mudada, transformada - segundo se reza e/ou canta na Liturgia dos Defuntos.
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1 - Precónio (de apregoar, anunciar...) é um cântico solene, exclusivo desta Noite Santa. Alegre-se, exulte é a primeira palavra do Precónio Pascal que o diácono canta, convidando à alegria e ao louvor, pel'o que esta noite significa para a comunidade cristã.
2 - Reino dos Céus, Reino de Deus, Reino que "não é deste mundo"... Perigo de cair na tentação que torna as religiões tão perigosas, quando se desviam do caminho que lhes é peculiar - ajudar os fiéis a cultivar essa dimensão espiritual que caracteriza todo o ser humano, nascido para se ir tornando um ser divino.
Um admirador