BEIRE

As bênçãos de um aprendiz…

1. A mesma coisa, com muitos nomes... Vou ao Hospital Padre Américo com o Luís(1). Temos lá o Nána. Queremos acompanhá-lo e aprender a cuidar bem dele. Hoje vou como cicerone. O Luís ficou como acompanhante e isso faz parte das suas "competências", como novo elemento da "equipa directiva" nesta Casa.

Nós, com Luís e o Luís connosco, precisamos apreender e aprender a movimentar-nos bem nas variadas tarefas que qualquer posto, hoje, nesta Casa, implica. Há que saber ESTAR COM o nosso Calvário ("de sabor evangélico") e saber ESTAR COM o Estado - em suas diferentes valências. Incluídos o Serviço de Saúde e a Segurança Social. Que não podem ser um Estado dentro do Estado, mas são órgãos do Estado. Porque a obrigação de "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mt 22, 15) exige de todos nós (Calvário e Estado) uma busca permanente de um ponto de equilíbrio a que não estamos muito habituados.

Mas há que ser realistas - o "povo de Deus" é o mesmo que o "povo de César". E o "povo de César" é o mesmo que o "povo de Deus". Só uma inteligência sensível e um coração inteligente (1 Rs 3, 9) sabem ver as fronteiras de um e de outro. Para dar a cada um o que a cada um pertence. Porque há fronteiras cinzentas... E essas zonas cinza - trigo e joio à mistura - precisam de tempo, paciência e muito boa vontade, de parte a parte, para se ver bem o que há que separar. Sem estragar. Nem os direitos de César nem os direitos de Deus. Seria sempre o Povo (de Deus e de César!) a sair prejudicado.

Passada a mensagem, salta-me Gandhi: "São muitos os nomes de Deus. Mas se quiséssemos escolher um seria a Verdade. E a Verdade nunca se consegue sem a não-violência. E esta sempre pede um coração-puro". Bonito este Gandhi!

2. Um "aprendiz de Zacarias"... Depois desta minha experiência de aprendiz de ensinante, seguiram-se-me mil e uma experiências gratificantes do quanto é bom aprender - e ver(-se) a aprender! Porque há que habituar o coração a encontrar prazer no cumprimento da lei e dos profetas... (Sl 119, 24). É na estação de Campanhã. Na fila para chegar ao balcão e pedir um pequeno almoço de x e y. Segue-se um jovem japonês. Enquanto aguardo a chegada do que pedi, vejo o jovem tentar, em inglês, fazer-se entender pela menina do balcão. Um momento bonito. Ela ajudou tudo o que pôde e os dois chegaram a um consenso. Ai a cara dele - jovem feliz! - a saborear a sua vitória de peregrino em terra alheia!

E logo: enquanto saboreio o meu pknalmoço, vejo uma estante onde arrumar os tabuleiros; vejo também que uns sim e outros não. Ou porque ainda não viram a estante ou porque querem lá saber... Quero aprender o sim, vou lá pôr o meu tabuleiro. Dizer não às desculpas de mau pagador - eu paguei o serviço, ora... Desde então, ai quanto me tenho deliciado a aprender, a ver aprender e a ajudar outros a aprender. Quando querem fazê-lo, claro. Porque ninguém pode aprender em vez de ninguém. Esse é um caminho que só se faz a pé!

Atento a este dinamismo interior, encontro-me com Zacarias. Frente ao mistério em que se vê envolvido - ser pai, já muito fora de tempo, e de um menino que... -, Zacarias fica calado. A olhar. Contemplativo. Até que traduz todo o seu sobressalto nesta grande questão: - Quem virá a ser este menino?! (Lc 1, 57-66). É uma pergunta sem resposta imediata, mas que o tempo vai trazer. Coube a este menino clamar no deserto, a preparar os caminhos do Senhor que virá...

Olho-me por dentro. Relação com meus pais. Jovens que passaram no meu caminho. Meus filhos e netos. Os rapazes da Obra da Rua. Doentes do Calvário e Casa do Gaiato de Beire. Olho os novos tempos e seus interpelantes sinais. - O que estamos nós a fazer destes/as filhos/as que Deus nos mandou?!... O que virá a ser desta Obra, que Deus inspirou ao Venerável Padre Américo? Porque dele passou para nós. Para a fazermos do nosso tempo. Com a Força d'aquele tempo.

3. Um "aprendiz de João Baptista"... Deixando-me levar por esse caminho, encontro-me com João Baptista. Sempre aquela palavra sua, humilde e inteligente, me tocou cá por dentro: - É preciso que Ele cresça e eu diminua (Jo 3, 30). Que bem dito! Que sabedoria aqui implícita! (Sabedoria! A harmonia de um bonito encontro da inteligência com a humildade!).

Olho P.e Fernando, aprendiz de Padre da Rua; olho a D.ra Diana, aprendiz de Directora Técnica; olho o Luís, aprendiz de Encarregado Geral; olho e olho e olho-me. Pois! - É preciso que Ele cresça e eu diminua... Ele! Em P.e Fernando, na D.ra Diana, no Luís, em mim... Ai de nós e ai da Obra se deixamos que o nosso ego se interponha entre Deus e a Sua Obra...

1 - O Luís. Já aqui vos falei dele. Uma esperança! É a segunda vez que está connosco. Primeiro, foi para sondar rumos a dar à sua vida. Agora, é para botar uma mão de qualidade e experimentar um emprego que lhe faça luz, na mira de encontrar aquele sentido para a vida que todos precisamos para viver em Paz.

Um admirador